Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Pluralidade dos mundos habitados


Pluralidade dos mundos habitados

Os globos que se movem no espaço são habitados?

- Sim, e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Entretanto, há homens que se têm por espíritos muito fortes e que imaginam pertencer a este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam que só para eles criou Deus o universo.

"Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objectivo final da Providência. Acreditar que só os haja no planeta que habitamos seria duvidar da sabedoria de Deus, que não fez coisa inútil. Certo, a esses mundos há-de ele ter dado um destino mais sério do que o de nos recrearem a vista. Aliás, nada há, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa induzir à suposição de que ela goze o privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes.

"As condições de existência dos seres que habitam os diferentes mundos hão-de ser adequadas ao meio em que lhes cumpre viver. Se jamais tivéssemos visto peixes, não compreenderíamos que pudesse haver seres que vivessem dentro de água. Assim acontece em relação aos outros mundos que, sem dúvida, contêm elementos que desconhecemos. Não vemos na Terra as longas noites polares iluminadas pela electricidade das auroras boreais? Que há de impossível em ser a electricidade, nalguns mundos, mais abundante do que na Terra e desempenhar neles uma função de ordem geral, cujos efeitos não podemos compreender? Bem pode suceder, portanto, que esses mundos tragam em si mesmos as fontes de calor e luz necessárias aos seus habitantes."

2.1. ESTUDO HISTÓRICO

Esta crença íntima que nos mostra o universo como um vasto império em que a vida se desenvolve sob as formas mais variadas, em que milhares de nações vivem simultaneamente na extensão dos céus, parece contemporânea do estabelecimento da inteligência humana sobre a Terra... Todos os povos, e principalmente os hindus, chineses e árabes, conservaram até aos nossos dias tradições teogónicas, em que se reconhece, entre os dogmas antigos, aquele da pluralidade das habitações humanas nos mundos que brilham por cima da nossa cabeça; e remontando às primeiras páginas dos anais históricos da humanidade encontra-se esta mesma ideia, ou religiosa, pela transmigração das almas e seu estado futuro, ou astronómica, simplesmente pela habitabilidade dos astros.

"Os livros mais antigos que possuímos, os Vedas, génese antiga dos hindus, professam a doutrina da pluralidade das habitações da alma humana nos astros; ... para nos atermos à doutrina da pluralidade dos mundos, e à Antiguidade histórica e clássica, que é a única que podemos estudar com algum fundamento de certeza, notaremos, primeiramente, que o Egipto, berço da filosofia asiática, tinha ensinado aos seus sábios esta antiga doutrina. Talvez os egípcios não a estendessem então senão aos sete planetas principais e à Lua, que chamavam de terra etérea; seja como for, é notório que professavam altamente esta crença.*

"A maior parte das seitas gregas ensinaram-na, ou abertamente, a todos os discípulos sem distinção, ou em segredo, aos iniciados da filosofia...

"Os filósofos da mais antiga seita grega, a seita jónica, cujo instituidor, Thales, acreditava que as estrelas eram formadas da mesma substância que a Terra, perpetuaram no seu seio as ideias da tradição egípcia, implantadas na Grécia. Anaximandro e Anaximene, sucessores imediatos do chefe da escola, ensinaram a pluralidade dos mundos, doutrina que foi mais tarde espalhada por Empédocles, Aristarco, Leucipo e outros... Anaxágoras ensinou a habitabilidade como artigo de crença filosófica... Partidário famoso do movimento da Terra, é notável que a sua opinião suscitasse em redor dele invejosos e fanáticos e que, por haver dito que o Sol era maior que o Peloponeso, fosse perseguido e quase assassinado...

"O primeiro dos gregos que teve nome de filósofo, Pitágoras, ensinava ao público a imobilidade da Terra e o movimento dos astros em redor dela, e aos seus adeptos privilegiados declarava a sua crença no movimento da Terra como planeta e na pluralidade dos mundos...

"A escola de Epicuro ensinou a pluralidade dos mundos; e a maior parte dos seus adeptos não compreendiam somente os corpos planetários debaixo do título de mundos habitáveis, porém, acreditavam ainda na habitabilidade de uma multidão de corpos celestes disseminados no espaço... Metródoro de Lampsaque, entre outros, achava que seria tão absurdo reconhecer um só mundo habitado no espaço infinito como dizer que não poderia crescer mais do que uma espiga de milho num campo vasto. Anaxarque dizia a mesma coisa a Alexandre, o Grande, admirando-se, quando havia tantos mundos habitados, de ter ele ocupado, com a sua glória, somente um...

"Um grande número de sectários da escola epicurista, entre os quais citaremos Lucrécio, acreditou não só na pluralidade como, ainda mais, na infinidade dos mundos. Afirmava ele: "Todo este universo visível não é único na natureza, e devemos crer que há, em outras regiões do espaço, outras terras, outros seres e outros homens...". E acrescentava: "Se as inúmeras ondas criadoras se agitam e nadam, sob mil formas variadas e através do oceano do espaço infinito, não teriam produzido, na sua luta fecunda, senão o orbe Terra e a sua abóbada celeste? É crível que além deste mundo uma vasta aglomeração de elementos se condene a um ocioso repouso? Não, não; se os princípios geradores deram nascimento às massas donde saíram o céu, as ondas, a Terra e seus habitantes, devemos convir que, no resto do vácuo, os elementos da matéria engendraram um sem-número de seres animados, de mares, de céus e terras, e semearam o espaço de mundos semelhantes àquele que se balança, debaixo dos nossos passos, nas ondas aéreas."

"Em seguida, e isto durou um milénio e meio, a religião cristã, vitoriosa, deveria estabelecer a Terra, conforme os ensinamentos de Ptolomeu, como centro do universo, cerceando o aprofundamento das teorias da multiplicidade dos mundos habitados. Foi o grande astrónomo polaco Copérnico quem, depois de haver derrubado o sistema de Ptolomeu, pela primeira vez demonstrou à humanidade o verdadeiro lugar que lhe competia. Estando a Terra "colocada em seu devido lugar", a possibilidade de vida em outros planetas passava a ter um fundamento científico. As primeiras observações feitas com o auxílio do telescópio, com as quais inaugurava Galileu uma nova era para a astronomia, inflamaram a imaginação dos contemporâneos. Tornou-se claro que os planetas eram corpos celestes bastante parecidos com a Terra. E isto levava naturalmente à formulação da pergunta: Porque haveria o nosso Sol de ser o único astro acompanhado de um séquito de planetas? O grande pensador Giordano Bruno exprimiu essas audaciosas ideias revestindo-as de uma forma clara e inequívoca: "Existe uma infinidade de sóis e de terras girando em torno de seus sóis, tal como os nossos sete planetas giram em torno do nosso Sol... seres vivos habitam esses mundos." Foram cruéis as represálias da Igreja Católica: declarado herege pelo Santo Ofício, Bruno morreu queimado, em Roma, no Campo dei Fiori, no dia 17 de Fevereiro de 1600...

"Na segunda metade do século XVI, e durante o século XVII, sábios, filósofos e escritores consagraram um bom número de livros a esse problema, no universo. Enumeremos Cyrano de Bergerac, Fontenelle, Huygens, Voltaire....

"Vejamos o sábio russo Lomonossov, vejamos Kant, Laplace, Herschel, e haveremos de observar que a ideia da pluralidade dos mundos habitados se difundiu absolutamente por toda a parte, sem que ninguém, ou quase ninguém, nos meios científicos e filosóficos, se atrevesse a levantar a voz contra ela. Poucos foram os que se dispuseram a alertar a opinião geral contra a concepção que apresentava todos os planetas como outros tantos focos de vida, e de vida consciente.

"Na segunda metade do século XIX, o livro de Flamarion "La Pluralité des Mondes Habités" conheceu enorme popularidade: somente na França, foi trinta vezes reeditado em vinte anos, tendo sido traduzido para vários idiomas. Partindo de posições idealistas, Flamarion admitia ser a vida o objectivo final da formação dos planetas. Revelando um apurado senso de humor e redigidos em estilo muito vivo, embora algo rebuscado, os seus livros causaram excelente impressão sobre os seus conterrâneos. O leitor actual impressiona-se, sobretudo, pela desproporção existente entre a quantidade insignificante de conhecimentos exactos sobre a natureza dos corpos celestes (a astrofísica mal acabara de nascer) e o tom incisivo adoptado pelo autor para afirmar a pluralidade dos mundos habitados... Flamarion dirigia-se mais à sensibilidade que ao raciocínio.

"O russo Constantin Tsiolkovski, pai da astronáutica, foi um ardoroso defensor dos mundos habitados. Reproduziremos apenas algumas das suas frases: "Será lícito imaginar uma Europa povoada e as outras partes do mundo não?". E de seguida: "Os diversos planetas apresentam as diversas fases da evolução dos seres vivos. O que foi a humanidade há alguns milhares de anos, o que virá a ser dentro de alguns milhões de anos, tudo isto poderemos aprender interrogando os planetas...".

"A história da pluralidade dos mundos habitados está intimamente ligada à das concepções cosmogónicas. Assim, durante a primeira terça parte do século XX, quando tinha livre curso a hipótese cosmogónica de Jeans, segundo a qual o Sol devia o seu cortejo de planetas a uma catástrofe cósmica extremamente rara (o semichoque de duas estrelas), a maioria dos sábios considerava a vida como um fenómeno excepcional no universo.

A nossa galáxia conta mais de cem biliões de estrelas: parecia bastante improvável, portanto, que nela não se encontrasse pelo menos uma - sem falar no Sol - que não contasse com um sistema planetário. A derrocada da teoria de Jeans, depois de 1930, e a ascensão da astrofísica, têm grandes probabilidades de nos levar à conclusão de que existem na nossa galáxia sistemas planetários em grande quantidade, constituindo o sistema solar mais uma regra do que uma excepção no mundo dos astros. Contudo, ainda não está suficientemente demonstrada esta tão provável suposição.

"A União Soviética, ao colocar em órbita, no dia 4 de Outubro de 1957, o primeiro satélite artificial da Terra, inaugurou uma etapa inteiramente nova na história da ideia da pluralidade dos mundos habitados. A partir de então foram rápidos os progressos obtidos no estudo e na conquista do espaço circum-terrestre, coroado pelos voos dos cosmonautas soviéticos e, posteriormente, pelos americanos. Os homens tomaram subitamente consciência do facto de habitarem um minúsculo planeta solto na imensidão do espaço cósmico. Todos, é claro, tinham aprendido um pouquinho de astronomia na escola... e, teoricamente, ninguém ignorava a situação da Terra no cosmo; a actividade prática, no entanto, continuava dirigida por um geocentrismo espontâneo. Por este motivo nunca será demasiado insistir em recordar a revolução esperada na consciência dos homens nesta fase inicial de uma nova era da história humana, era do estudo directo e, algum dia, da conquista do cosmo.

"Assim, o problema da existência de vida em outros mundos saiu do campo da abstracção, para adquirir uma significação concreta. Estará resolvido experimentalmente, dentro de alguns anos, na parte referente aos planetas do sistema solar... (Introdução do trabalho de Slklovski, director do Instituto de Astronomia da Universidade de Moscovo, citado por Pauwels e Bergier)".

"A partir de Copérnico e Galileu, as velhas cosmogonias deixaram para sempre de subsistir. A astronomia só podia avançar, não recuar. A história diz das lutas que esses homens de génio tiveram de sustentar contra os preconceitos e, sobretudo, contra o espírito de seita, interessado em manter erros sobre os quais se tinham fundados crenças supostamente firmadas em bases inabaláveis. Bastou a invenção de um instrumento de óptica para derrocar uma construção de muitos milhares de anos....".

2.2. PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA À DOUTRINA DOS MUNDOS HABITADOS

Para tolher o progresso da ciência, coibir a liberdade de pensamento e combater a doutrina da pluralidade dos mundos habitados, que vinha colocar em descrédito a interpretação literal dos livros sagrados, a religião tomou como estandarte as palavras de Tertuliano: "Não temos necessidade de nenhuma ciência depois do Cristo, nem de nenhuma prova depois do Evangelho; quem crê nada mais deseja; a ignorância é boa, em geral, para que não se chegue a conhecer o que é inconveniente."

A interpretação errónea dos livros sagrados sobre a imobilidade da Terra cobria já com um véu espesso os olhos dos homens desejosos de conhecer, e a aceitação tácita do pensamento de Tertuliano, reverenciado por muitos como sentença, encobriu a doutrina da pluralidade dos mundos habitados durante séculos e séculos.

Da parte da religião havia necessidade de um ferrenho combate a essa doutrina, porque contrariava os seus dogmas. Analisemos esses dogmas.

2.2.1. A ENCARNAÇÃO DE DEUS SOBRE A TERRA

Essa doutrina traria aos teólogos enorme dificuldade para responder à questão: "A Terra que habitamos, não sendo mais do que um átomo insignificante na universalidade dos mundos, sobre o que fundaria o privilégio com que a gratificaram de ter sido o objecto especial da complacência divina, de haver recebido em sua habitação o próprio Eterno, que não desdenhara descer a encarnar-se num pouco de poeira terrestre?

"...O homem, criatura que Deus fez à sua imagem, peca e cai logo no primeiro dia da sua existência; Deus, cheio de uma bondade compassiva, desce Ele próprio para levantá-lo. Eis aí uma crença muito doce e consoladora para o homem, que pode apresentar sem demasiados mistérios, o que os espíritos mais simples podem aceitar e compreender. Porém, já não é assim desde que a revelação astronómica faz perder à Terra e ao homem todo o seu prestígio, ao mesmo tempo que eleva Deus a uma altura inacessível. Esta Terra privilegiada, que digo eu, esta Terra única, estava outrora envolvida numa auréola resplandecente; porém, um belo dia os nossos olhos abriram-se, olhámo-la na face, esta Terra cercada de glória, e repentinamente a sua auréola brilhante dissipa-se, o palácio dos homens perdeu a sua riqueza aparente, afundou-se na obscuridade, e logo uma multidão de outras terras apareceu atrás dele, enchendo espaços sem fim. Desde então o aspecto do mundo modificou-se, e com ele crenças que até então pareciam estar solidamente fundadas.

"Desde a época de Copérnico e Galileu sentira-se, em toda a sua profundidade, as dificuldades que o novo sistema do mundo ia suscitar contra o dogma do Verbo encarnado; e não obstante... não se deve ver somente um negócio de ciúme ou de jesuitismo no memorável processo de Galileu. Não é a pessoa do ilustre toscano que tiveram em vista, porém os princípios que ele defendia... O movimento da Terra, uma vez demonstrado, a Igreja deveria desde então interpretar num sentido figurado as passagens das Escrituras que lhe são contrárias."

2.2.2. A CRIAÇÃO DOS ASTROS NA GÉNESE BÍBLICA

A doutrina da pluralidade dos mundos habitados viria a trazer problemas inúmeros para a interpretação do Génesis, de Moisés, que afirma terem sido os astros criados somente no quarto dia da criação, para iluminar a Terra e marcar-lhe o tempo e as estações do ano.

"E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e para anos.

"E sejam para luminares na expansão dos céus, para alumiar a Terra. E assim foi.

"E fez Deus os dois grandes luminares; o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas.

"E Deus os pôs na expansão dos céus para alumiar a Terra.

"E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que era bom.

"E foi a tarde e a manhã do dia quarto."

(Génesis, Moisés, cap. I, v. 14 a 19)

A Terra, não sendo mais privilegiada de entre as demais obras da criação universal, colocaria em posição difícil aqueles que ainda lutavam para que os livros sagrados fossem interpretados segundo a letra, e não conforme o espírito, que vivifica. Demonstrando a astronomia que os mundos se sucedem ao infinito e que a Terra gravita em torno do Sol, como conciliar a ideia de que só depois de formar este planeta, no quarto dia, teria o Criador criado o Sol e a Lua? Surgiu, então, a necessidade do combate sem tréguas da religião dogmática à doutrina dos mundos habitados.

2.2.3. A DESCENDÊNCIA ADÂMICA

Com a pluralidade dos mundos habitados cairia por terra a doutrina de um único casal, criado à imagem e semelhança de Deus, para povoar toda a Terra, e únicas criaturas do universo. Também a doutrina do pecado original estaria invalidada.

Havendo outros mundos e outros habitantes longe da Terra, por certo não descenderiam de Adão, e como tal Deus houvera criado, noutros lugares e noutro tempo, as suas criaturas, que também deveriam lutar, sofrer, aprender, progredir na grande marcha evolutiva, que se constitui lei do universo. E essas criaturas ligação nenhuma teriam com o "pecado original" do casal primitivo, que afirmam ser herança "inesgotável" dos viventes da Terra.

2.2.4. A PARADA DO SOL E DA LUA

"Então Josué falou ao Senhor no dia em que o Senhor deu os amorreus na mão dos filhos de Israel, e disse, aos olhos dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeão, e tu, Lua, no vale da Aijalom.

"E o Sol se deteve, e a Lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto não está escrito no livro de Recto? O Sol, pois, deteve-se no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro." (Josué, cap. 10, v. 12 e 13)

As observações da astronomia contrariam a passagem acima; comprovando que a Terra é que se move ao redor do Sol, só poderiam gerar revoltas e perseguições, como as sofridas por Giordano Bruno e Galileu Galilei.

Desaparecendo o suposto privilégio da Terra, por ser igual a milhões e milhões de mundos, também desapareceria a ideia de um povo eleito, em detrimento de outros, e mesmo girando a Terra em redor do Sol não poderia o Senhor parar este, para que o dia se prolongasse até que a batalha fosse vencida.

Tais argumentos colocariam em risco a credibilidade das escrituras sagradas, daí as perseguições às teorias heliocêntricas e da pluralidade dos mundos habitados.

2.2.5. A SALVAÇÃO DA HUMANIDADE PELO SANGUE DE JESUS

Diz o dogma que o Cristo deu a sua vida em holocausto para que o seu sangue lavasse a alma do homem, manchada pelo pecado original.

Com a doutrina da pluralidade dos mundos habitados, existindo então comunidades que não estariam vinculadas ao pecado original, cometido pelo primeiro casal da Terra, já não haveria lógica na salvação pelo sangue derramado do Cordeiro Divino.

Para que esse dogma continuasse a vigorar entre os crentes não poderia haver outro mundo habitado além da Terra, e toda a humanidade deveria descender do casal inicial e trazer consigo a mácula da desobediência perpetrada por eles à ordem do Senhor e necessitar do sangue de Jesus para redimi-los.

2.3. HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI

"Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse já vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar." (S. João, cap. XIV, v. 1)

"A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos espíritos...

"Do ensino dado pelos espíritos resulta que muito diferentes umas das outras são as condições dos mundos, quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus habitantes. Entre eles há os que são inferiores à Terra, física e moralmente; outros, da mesma categoria que o nosso; e outros que lhe são mais ou menos superiores em todos os aspectos. Nos mundos inferiores, a existência é toda material, reinam soberanas as paixões, sendo quase nula a vida moral. À medida que esta se desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal maneira que, nos mundos mais adiantados, a vida é, por assim dizer, toda espiritual.

"Nos mundos intermediários misturam-se o bem e o mal, predominando um ou outro, segundo o grau de adiantamento da maioria de quem os habita. Embora se não possa fazer, dos diversos mundos, uma classificação absoluta, pode-se, contudo, em virtude do estado em que se acham e da destinação que trazem, tomando por base os matizes mais adiantados, dividi-los, de modo geral, como segue: mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana; mundos de expiação e provas, onde domina o mal; mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda têm que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas das lutas; mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal; mundos celestes ou divinos, habitações de espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem. A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias."

2.4. UNIVERSO INFINITO - EVIDÊNCIA RACIONAL DA EXISTÊNCIA DE OUTROS MUNDOS HABITADOS

Buscando argumentos racionais que justifiquem a doutrina da pluralidade dos mundos habitados não se pode olvidar a vastidão do universo, com os seus incontáveis planetas, sistemas solares, galáxias, etc.

Com o avanço da astronomia e da astrofísica evidencia-se um universo infinito, e afirmar que só a Terra teria o "privilégio" de possuir uma humanidade seria condenar essa humanidade a ser excepção dentro das leis naturais ou divinas.

A ideia de ser o universo infinito surgiu com Filipo Giordano Bruno, um ex-monge dominicano de 52 anos de idade, que foi queimado publicamente depois de passar sete anos no cárcere por causa das suas ideias heréticas e por se recusar a abjurar as suas crenças diante da Inquisição romana.

"Ao contrário de Galileu Galilei, que, alquebrado, alguns anos mais tarde abjurou a teoria de Copérnico (continuando, porém, a desenvolver com os seus discípulos uma moderna cosmologia, no seu exílio em Arcetri, perto de Florença), Giordano Bruno não pôde ser convencido pela Inquisição a abjurar as suas teorias. Estas não se resumiam apenas na defesa do sistema de Copérnico, que irritava a Igreja, mas incluíam também a sua opinião de que o universo não era limitado por um invólucro, mas sim formado por uma quantidade infinita de estrelas, sendo imensuravelmente grande...". (4)

No cap. VI de "A Génese", de Allan Kardec, temos um trecho da comunicação de Galileu a Camille Flamarion.

Nele encontra-se o seguinte: "...Com efeito, a Via Láctea é uma campina matizada de flores solares e planetárias, que brilham em toda a sua extensão. O nosso Sol e todos os corpos que o acompanham fazem parte desse conjunto de globos radiosos que formam a Via Láctea. Mau grado as suas proporções gigantescas, relativamente à Terra, e à grandeza do seu império, ele, o Sol, ocupa inapreciável lugar em tão vasta criação. Podem contar-se por uma trintena de milhões os sóis que, à sua semelhança, gravitam nessa imensa região, afastados uns dos outros mais de cem mil vezes o raio da órbita terrestre.**

"Por esse cálculo aproximativo se pode julgar da extensão de tal região sideral e da relação que existe entre o nosso sistema planetário e a universalidade dos sistemas que ela contém. Pode-se igualmente julgar da exiguidade do domínio solar e, a fortiori, do nada que é a nossa pequenina Terra...

"Assim, fica-se a conhecer a posição que o nosso Sol ou a Terra ocupam no mundo das estrelas. Ainda maior peso ganharão estas considerações se reflectirmos sobre a própria Via Láctea que, na imensidade das criações siderais, não representa mais do que um ponto insensível e inapreciável, vista de longe, porquanto ela não é mais do que uma nebulosa estelar, entre os milhões das que existem no espaço. Se ela nos parece mais vasta e mais rica do que as outras é pela única razão de que nos cerca e se desenvolve em toda a sua extensão sob os nossos olhares, ao passo que as outras, sumidas nas profundezas insondáveis, mal se deixam entrever.

"Ora, sabendo-se que a Terra nada é, ou quase nada, no sistema solar; que este nada é, ou quase nada, na Via Láctea; esta, por sua vez, nada, ou quase nada, na universalidade das nebulosas, e essa própria universalidade bem pouca coisa dentro do imensurável infinito, começa-se a compreender o que é o globo terrestre."

* Hoje sabe-se que há centenas de biliões de sóis na Via Láctea ("Universo - A Grande Enciclopédia para todos" - Editora Delta - Editora Três - Edição 1973).

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