Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 24 de julho de 2012

Os fluidos


Os fluidos

Orson Peter Carrara
Leis que regem a vida espiritual podem encontrar explicar fenômenos materiais onde o elemento espiritual tem participação.
Iniciemos pela questão da pronúncia, onde há certa dificuldade. Alguns pronunciam com acentuação sobre a vogal ufluido; outros com acentuação sobre o ifluído; o correto, porém, é a pronúncia como ditongo(1): fluido (com acentuação tônica sobre a letra u). O tema está sempre presente nos estudos espíritas e mereceu capítulo especial de Allan Kardec: está no livro A Gênese (2), capítulo XIV, com o mesmo título desta matéria. É um capítulo longo, com 31 páginas e 49 itens, mas de farto material para estudo e pesquisa, que recomendamos aos leitores. Há destaques para alguns subtítulos como Elementos fluídicosAção dos espíritos sobre os fluidosCriações fluídicasQualidades dos fluidos, entre outros importantes subtemas.
Para entender e aprofundar o assunto, há que se partir da questão nº 1, de O Livro dos Espíritos (3), cuja resposta indica Deus como a "(...) causa primária de todas as coisas". A mesma obra, em seu capítulo II, nas questões 17 a 36, desdobra o título Dos elementos gerais do Universo com os subtítulos Conhecimento do princípio das coisas, Espírito e Matéria, Propriedades da Matéria e Espaço Universal, oferecendo vasta visão do empolgante tema sobre a origem e constituição de tudo o que até presentemente conhecemos. Chamamos a atenção, porém, para as questões 27, 32 e 33, das quais nos ocupamos para o presente assunto. Na questão 27, os espíritos codificadores indicam que há no Universo dois elementos gerais: Espírito e matéria. E acima de tudo Deus, como criador de todas as coisas. Mas indicam que "(...) ao elemento material há que se juntar o fluido universal, que desempenha papel de intermediário entre o espírito e a matéria... (...)". Já na questão 32, indagados por Kardec, confirmam que os sabores, os odores, as cores, os sons, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos não passam de modificações de uma única substância primitiva. E na questão 33 também confirmam, na pergunta do Codificador, que a mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades, indicando que "(...) tudo está em tudo".
Não é difícil entender. Basta considerarmos que há uma matéria elementar primitiva, uma substância original, que emana do Criador. Seria uma espécie de "hálito do Criador", numa comparação vulgar. É o plasma divino, ou força nervosa do Criador, que assume dois estados (4): a) de eterização (natureza pura) = estado primitivo normal que propicia os fenômenos do mundo invisível; b) de materialização (natureza mais grosseira) = conseqüência do primeiro e propicia os fenômenos materiais. Essa matéria elementar, primitiva, conhecida como fluido cósmico universal, é suscetível, com as inúmeras combinações com a matéria e sob ação do espírito, de sofrer variações ao infinito e produzir toda a variedade de elementos ou coisas conhecidas ou desconhecidas ainda, ou fenômenos explicados ou ainda inexplicados. Interessante pensar que na realidade, a solidificação da matéria não é mais do que um estado transitório do fluido universal.
Mas aí surge outra questão. Estamos habituados no estudo do Espiritismo a encontrar as expressões Fluido magnético, Fluido elétrico, Fluido material, Fluido espiritual ou Fluido vital. Na verdade, todos são combinações ou transformações do mesmo fluido primitivo acima citado. O fluido perispíritico, por exemplo, é o agente dos fenômenos espíritas que se produzem pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o espírito comunicante. Já o perispírito, ou corpo fluídico, por sua vez, que se forma com o fluido universal de cada globo (5), é também uma condensação do fluido cósmico universal em torno da alma, pois os espíritos são a individualização do princípio inteligente. E mais, o próprio corpo carnal também tem origem no fluido cósmico – como matéria original –, e ambos (corpo e perispírito) são matéria, ainda que em estados diferentes e o perispírito seja semi-material para os conceitos humanos. Porém, a natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do espírito.
Em resumo, tudo o que existe é transformação dessa matéria elementar primitiva. Há o espírito, a matéria e este fluido cósmico universal, que conforme resposta à questão 27, de O Livro dos Espíritos (3), "(...) é fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima (...)".
Voltemos, porém, aos diversos adjetivos colocados na palavra fluido, como indicado no segundo parágrafo anterior, e recorrendo agora à Revista Espírita. Observemos o pensamento do Codificador, referindo-se aos fluidos espirituais: "(...) Quem quer que traga os pensamentos de ódio, inveja, ciúme, orgulho, egoísmo, animosidade, cupidez, falsidade, hipocrisia, murmuração, malevolência, numa palavra, pensamentos colhidos das más paixões, espalha em torno de si eflúvios fluídicos que reagem sobre os que o cercam. Ao contrário, na mesma assembléia em cada um só trouxe sentimentos de bondade, caridade, humildade, devotamento desinteressado, benevolência e amor ao próximo, o ar é impregnado de emanações salutares em meio às quais sente viver mais à vontade (...) Os fluidos espirituais representam um importante papel em todos os fenômenos espíritas, ou melhor, são o princípio mesmo desses fenômenos (...)" (6).
Sobre fluido magnético, expõe Kardec (7) "(...) Sabe-se que o fluido magnético ordinário pode dar a certas substâncias propriedades particulares ativas. (...) não há, pois, nada de admirar que possa modificar o estado de certos órgãos; mas compreendam igualmente que sua ação, mais ou menos salutar, deve depender de sua qualidade; daí as expressões ‘bom ou mau fluido; fluido agradável ou penoso’(...)". Sobre fluido magnético, sugerimos ainda a matéria Campo Magnético (8).
Outra expressão bastante usada é fluido vital. Voltemos ao Codificador: "(...) Desde que o fluido vital, emitido de alguma forma pelo espírito, dá uma vida factícia e momentânea aos corpos inertes; desde que outra coisa não é o perispírito senão o próprio fluido vital, segue-se que, quando encarnado, é o espírito que dá vida ao corpo, por meio de seu perispírito: fica-lhe unido enquanto a organização o permite; e, quando se retira, o corpo morre (...)" (9) E ainda: "(...) O fluido vital é indispensável à produção de todos os fenômenos medianímicos, é apanágio exclusivo do encarnado e, por conseguinte, o espírito operador é obrigado a impregnar-se dele (...)"(10). O Espírito São Luiz também explica o mesmo tema: "(...) Ele envolve os mundos: sem o princípio vital, nada viveria. Se uma pessoa subisse além do envoltório fluídico dos globos, pereceria, porque seu envoltório fluídico dele se retiraria, para juntar-se à massa. Esse fluido vos anima, é ele que respirais. (...)"(11).
De qualquer ângulo que os analisemos, perceberemos que eles são o veículo, o transmissor do pensamento e adquirem as qualidades ou as características do pensamento ou das impressões que o conduz. Elemento neutro, sofre a ação da vontade.
A verdade é que os espíritos atuam sobre os fluidos, não manipulando-os como os homens, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Neste processo, eles imprimem direção, aglomeram ou combinam, ou dispersam; organizam aparências, formas, coloração. Isto tudo pela intenção ou pensamento, de forma consciente ou inconsciente. Aí está a origem das regiões umbralinas ou trevosas, das colônias espirituais e a ação dos construtores celestes – na formação dos mundos ou na condução dos seres vivos –, das ocorrências de imagens plasmadas em reuniões mediúnicas para socorro de espíritos em desequilíbrio; também da proteção fluídica superior ou de verdadeiros cercos fluídicos organizados por obsessores. Também está aí a atmosfera espiritual de encarnados, a ocorrência do processo obsessivo ou os benefícios da fluidoterapia, etc. Como também as sensações de paz, harmonia, entusiasmo ou desânimo, mal estar, causados por influências espirituais. E até as modificações causadas no perispírito, como num espelho, das imagens criadas pela força do pensamento. Enquadram-se neles também as reflexões sobre vibrações à distância, curas, manifestações de fenômenos físicos (movimento de objetos e outros), vestuário dos espíritos e outros temas que se podem estudar inclusive no capítulo VIII de O Livro dos Médiuns: Laboratório do Mundo Invisível.
Vamos para exemplos simples do cotidiano: a) Pensemos na influência benéfica ou constrangedora de um espírito junto a um encarnado; b) Pensamos numa pessoa e o telefone toca: é a própria pessoa em quem pensávamos. Ambos os casos revelam a transmissão de fluidos espirituais ... E, para concluir, deixemos a palavra ao Codificador Allan Kardec: "(...) A qualificação de fluidos espirituais não é rigorosamente exata, uma vez que, em definitivo, é sempre da matéria mais ou menos quintessenciada. Não há de realmente espiritual senão a alma ou princípio inteligente. São assim designados por comparação, e em razão, sobretudo, de sua afinidade com os Espíritos. Pode-se dizer que são a matéria do mundo espiritual (12): é por isso que são chamados fluidos espirituais (...)"(13).
Nota da redação: Sugerimos consultar também O Livro dos Médiuns, especialmente capítulos I, II, IV, V da Segunda parte – Das Manifestações Espíritas.
  1. Ditongo: grupo de vogais que se pronunciam numa só emissão de voz e compõem uma só sílaba, conforme Grande Dicionário da Língua Portuguesa – Edit. Novo Brasil Ltda –, 30ª edição, 1986, São Paulo-SP.
  2. 1ª edição IDE – 1982 – Araras –SP.
  3. 78ª edição FEB – 04/1997 – Rio de Janeiro-RJ.
  4. Vide itens 2 e 3 do capítulo XIV de A Gênese, 1ª edição IDE – 1982 – Araras-SP.
  5. Questão 94 de O Livro dos Espíritos, 78ª edição FEB – 04/1997 – Rio de Janeiro-RJ.
  6. Revista Espírita, ano 1867, página 133, edição Edicel.
  7. Revista Espírita, ano 1864, página 8, edição Edicel
  8. Revista Internacional de Espiritismo, de outubro de 2001, seção Recordando Allan Kardec.
  9. Revista Espírita, ano 1858, página 158, edição Edicel.
  10. Revista Espírita, ano 1861, agosto, edição Edicel.
  11. Revista Espírita, ano 1858, página 161, edição Edicel.
  12. Destaques do autor.
  13. Em A Gênese, cap. XIV – página 241 –, item 5 em transcrição parcial, 1ª edição IDE – 1982 – Araras –SP.
E a definição da palavra?
De acordo com L. Palhano Jr. (*),"1. é substância de fluência fácil, espontânea, como os líquidos e os gases, que, flácidos e frouxos, tomam a forma do recipiente em que estão colocados e podem escapar de modo volátil; 2. Em Espiritismo, fluido é a substância primária do Universo, designada fluido cósmico universal (...); 3. São designadas também por fluido todas as substâncias sutis, invisíveis à visão comum e imponderáveis, que emanam dos corpos: no mineral, como é o caso do imã, o fluido magnético; no vegetal: o fitomagnetismo; no animal: o fluido magnético animal; no espírito: o fluido magnético espiritual (perispiritual). No mesmerismo (veja quadro nesta matéria), fluido é uma espécie de emanação magnética (energia) das pessoas que, por exercício, pode ser aumentada, como no caso dos magnetizadores. Em Espiritismo, essa força é conhecida como fluídica e emana das pessoas naturalmente, ou por força da vontade, como no caso dos hipnotizadores, magnetizadores e médiuns. (...)".
O Espírito André Luiz (**), pela psicografia de Chico Xavier, define-o "(...) como sendo um corpo cujas moléculas cedem invariavelmente à mínima pressão, movendo-se entre si, quando retidas por um agente ou contenção, ou separando-se, quando entregues a si mesmas (...)"
(*) Livro Definições Espíritas, página 61, 1ª edição Publicações Lachâtre, Niterói-RJ, 1996.
(**) Livro Evolução em Dois Mundos, página 95, capítulo XIII, 6ª edição FEB, 09/1981- Rio de Janeiro-RJ.
Mesmerismo(*):
Expressão atribuída ao magnetismo animal, estudado por Antoine Mesmer (1734 – 1815), que pode ser definido como a ação recíproca de dois seres vivos por intermédio de um agente especial chamado fluido magnético. Ciência conhecida em toda a antiguidade, sobretudo no Egito, onde era prática nos mistérios, assim o provam os documentos autênticos.
(*) Página 90 do livro Definições Espíritas, página 61, 1ª edição Publicações Lachâtre, Niterói-RJ, 1996.

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