Estudando o Espiritismo

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sexta-feira, 26 de maio de 2017

DEUS ACEITA-NOS COMO SOMOS

DEUS ACEITA-NOS COMO SOMOS
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Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti (...) Lucas, 15:18

(...) Deus nunca abandonou ninguém. Sua onipotência é perfeita e sábia, sua bondade é incondicional e justa. Quando nos sentimos abandonados, em verdade, nós próprios perdemos o elo com Deus. Deixamos de entender seus chamados ou não estamos querendo aceitar-lhe a vontade soberanamente realista e necessária ao nosso aprimoramento. Deus aceita-nos como sempre somos.(...) (Para Sentir Deus - Wanderley Oliveira - pelo espírito Ermance Dufaux)

PAI E AMIGO


“E, levantando-se, foi, para seu pai; e, quando ainda estava longe, o pai chegou a vê-lo, moveu-se de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.” - Jesus

(LUCAS, 15:20)

Sendo, ainda, Espíritos imperfeitos buscando o aperfeiçoamento, é natural que vez ou outra nos sintamos entristecidos e até desanimados diante de situações, onde percebemos que não agimos da forma como deveríamos.

Nesses momentos, procuremos lembrar que o amor de Deus, Nosso Pai, nunca falta e que Ele conhece as nossas dificuldades, por isso, proporciona a todos a oportunidade do reajuste.

A Parábola do Filho Pródigo, na qual esta lição se baseia, fala à Humanidade da bondade sem limites, da caridade infinita de Deus.
As individualidades que representam o Filho Obediente e o Filho Desobediente simbolizam a Humanidade da Terra. O Pai de ambos simboliza Deus.
Esta simples alegoria, demonstra o amparo e a proteção que Deus sempre reserva a todos os seus filhos. Nenhum deles é abandonado pelo Pai, tenha os defeitos, as dificuldades que tiver, pratique as faltas que praticar, porque somos todos criaturas suas.
Estejam os filhos onde estiverem, encarnados ou desencarnados, o Pai a nenhum despreza, a nenhum abandona , por que nos criou para sermos felizes e desfrutarmos do seu Amor, e não para sofrermos indefinidamente.

A Lei de Deus é igual para todos: não poderia ser boa para o bom e má para o mau, porque tanto o bom quanto o que é mau estão sob as vistas do Criador, que faz o mau se tornar bom, e o bom se tornar melhor, pois tudo é criado para glorificá-Lo.
Nas Leis de Deus não há privilégios nem exclusões, porque todos foram criados iguais e com as mesmas oportunidades de crescimento, de aperfeiçoamento.

Quando a criatura humana, num momento de irreflexão se afasta das Leis Divinas, e se entrega a toda sorte de dissoluções, a dor e a miséria, esses terríveis aguilhões do Progresso Espiritual ferem a sua alma orgulhosa até que num momento supremo de angústia, ela possa elevar-se para Deus e decidir voltar ao caminho que leva à perfeição.
É então que, como o filho pródigo, o homem transviado, arrependido, volta-se para o Pai carinhoso e diz: “Pai, pequei contra Ti, já não sou digno de ser chamado seu filho...” E Deus, nosso amoroso Criador, abre àquele filho as portas da regeneração e lhe possibilita tudo o que for necessário para esse grandioso trabalho da perfeição espiritual.

A citação evangélica, acima, convida a que nos fixemos no ensinamento de Jesus, enunciando o retorno do filho pródigo aos braços do pai, que o esperava sem exigir desculpas, sem impor qualquer condição, apenas aguardava que o filho se levantasse e desejasse o calor do seu coração.

Portanto, não desanimemos diante dos enganos, que mesmo sem querer , possamos cometer. Guardemos no íntimo a certeza de que Deus, Nosso Pai, não abandona a nenhum de seus filhos, seja ele quem for.
Não há falta, por maior que seja, que não possa ser reparada.
Tudo se corrige, tudo se transforma do pequeno para o grande, do mau para o bom, das trevas para a luz, do erro para a verdade.
Ao impulso do progresso tudo se aperfeiçoa, tudo evolui, todas as almas caminham para Deus.

Maria Aparecida Ferreira Lovo
Setembro / 2009

Bibliografia:
1 - XAVIER, Francisco C., pelo Espírito Emmanuel. Palavras de Vida Eterna.14. ed., Uberaba-MG: CEC, 1990, lição 89 Parábolas e Ensinos de Jesus, Cairbar Schutel,” Parábola do Filho Pródigo”

Filhos pródigos - Emmanuel - Pão Nosso


E caindo em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! – (Lucas, 15:17.)

Examinando-se a figura do filho pródigo, toda gente idealiza um homem rico, dissipando possibilidades materiais nos festins do mundo.

O quadro, todavia, deve ser ampliado, abrangendo as modalidades diferentes.

Os filhos pródigos não respiram somente onde se encontra o dinheiro em abundância.

Acomodam-se em todos os campos da atividade humana, resvalando de posições diversas.

Grandes cientistas da Terra são perdulários da in teligência, destilando venenos intelectuais, indignos das concessões de que foram aquinhoados. Artistas preciosos gastam, por vezes, inutilmente, a imaginação e a sensibilidade, através de aventuras mesquinhas, caindo, afinal, nos desvãos do relaxamento e do crime.

Em toda parte vemos os dissipadores de bens, de saber, de tempo, de saúde, de oportunidades…

São eles que, contemplando os corações simples e humildes, em marcha para Deus, possuídos de verdadeira confiança, experimentam a enorme angústia da inutilidade e, distantes da paz íntima, exclamam desalentados:

– Quantos trabalhadores pequeninos guardam o pão da tranqüilidade, enquanto a fome de paz me tortura o espírito!

O mundo permanece repleto de filhos pródigos e, de hora a hora, milhares de vozes proferem aflitivas exclamações iguais a esta.

Cair em si

Cair em si


Inegavelmente, as parábolas de Jesus são um manancial de aprendizado e beleza, porquanto são narrativas simples, mas de conteúdos espiritual e moral inigualáveis, sendo que permitem ao leitor ou ao ouvinte a identificação espontânea com o sentido ético da lição.

Jesus raramente apontava os erros individuais, pois sabe que o ego possui mecanismos automáticos de defesa, dentre eles, a negação, de tal sorte que, com as parábolas, facultava à criatura humana, de acordo com seu nível de maturidade, o reconhecimento e a análise de seus desvios morais e equívocos existenciais.

Dentre as parábolas narradas no evangelho, destaco a do filho pródigo, porque representa a síntese da evolução espiritual, permitindo-nos uma profunda reflexão a respeito de como anda a nossa atual existência física.

A benfeitora Joanna de Ângelis, na obra “Em Busca da Verdade”, pela lavra mediúnica do confrade Divaldo Pereira Franco, escreve sobre a referida parábola, dando-nos diversos enfoques sobre a conduta de cada personagem, tornando a parábola ainda mais rica e bela de ensinamentos. Fica registrada a sugestão para a leitura da obra mencionada.

A parábola expõe o momento em que o filho pródigo, imaturo e impulsivo, opta por sair da casa do genitor para viajar a um país longínquo, onde gasta sua parte da herança com leviandades e prazeres materiais. Após consumir-se nas paixões e gastar todo seu recurso econômico, vê-se diante de um período de fome que se instalara naquela região. Privado de tudo e passando necessidades, começa a trabalhar com porcos, vindo a disputar a comida com eles. Porém, chega o momento em que o filho pródigo cai em si e retorna à casa do pai, onde é acolhido com imensa ternura e amor.

 Essa parábola explica claramente o processo do deotropismo, isto é, fomos criados por Deus, portanto, saímos “das suas mãos”, mas, por imaturidade e ignorância, perdemo-nos na estrada da evolução e afastamo-nos dEle, até o momento em que, extenuados pelo sofrimento e famintos de amor e conhecimento, caímos em nós e optamos por voltar à casa do Pai Celestial, que, generoso e confiante, sempre nos aguardava.

Cair em nós significa o exato momento em que ocorre o despertar da consciência.

A consciência desperta quando identificamos que somos Espíritos imortais a caminho da plenitude e que a vida no corpo tem um sentido ético, devendo abranger o crescimento intelecto-moral.

Obviamente que é o primeiro passo na direção de regresso a Deus, pois outros desafios evolutivos surgirão, tais como, libertar-se dos conflitos cultivados, harmonizar o eixo ego-self, eliminar os defeitos morais e converter o despertar da consciência em atitudes renovadas sob a égide do amor.

No capítulo quarto da citada obra, Joanna de Ângelis compara o despertar da consciência com o mito da expulsão do paraíso.

Enquanto vivemos, simbolicamente, no jardim do Éden, o ego (carga de egoísmo presente no inconsciente, fruto da evolução nos reinos inferiores da criação) toma todo o espaço do Self (ser espiritual que contém o germe divino para a plenitude), gerando uma vida materialista, de acomodação e deleite. Era a conduta do filho pródigo, cuja consciência ainda estava adormecida.

Notemos que Adão e Eva não trabalhavam, porque o necessário para as suas sobrevivências estava à disposição no Éden. Todavia, após comerem o fruto da árvore proibida (mito), foram expulsos do paraíso, e Deus condenou Adão ao trabalho.

A partir dessa ocorrência, Adão passa a descobrir o valor do trabalho e do esforço, na medida em que tudo o que necessita passa a ser fruto do merecimento, portanto, há o despertar da consciência.

Assim ocorre conosco. Quando os ensinamentos de Jesus preenchem os vazios da alma, passamos a trabalhar em favor do nosso crescimento espiritual, na busca dos valores imperecíveis que dignificam a nossa vida. Na simbologia de Joanna de Ângelis, passamos a ser um novo Adão, isto é, um homem novo, com ideais bem definidos, procurando mais servir do que ser servido.

Caímos em nós e redefinimos o rumo de nossa vida como ser imortal destinado à plenitude, porque começamos a regressar à Casa do Pai, nesse processo de integração com o Arquétipo Primordial, razão pela qual Jesus disse que Ele e o Pai eram um só (perfeita integração).

Paulo de Tarso, ao cair em si, verbalizou “já não sou eu que vivo, mas é o Cristo que vive em mim”, porque integrou-se com o pensamento de Jesus e, por consequência, de Deus.

Anote-se que ao cair em si é natural que surjam as culpas, que, do ponto de vista psicológico, é produtiva desde que bem direcionada.

Joanna de Ângelis fala do “Eu-Angélico” (recursos divinos em nossa intimidade), que estimula a culpa, pois a presença desta é sinal de instalação do despertar da consciência, que nos aponta o certo e o errado, o bem e o mal proceder.

Diante da presença da culpa, cabe-nos não repetir o erro e reparar o mal causado, se possível. Caso não seja, basta fazer o bem em favor de alguém ou da vida, porquanto a ação fraterna é ponto positivo na contabilidade divina a anular ou amenizar o mal causado (o amor cobre a multidão de pecados – Simão Pedro).

À medida que vamos evoluindo, aproximamo-nos cada vez mais de Deus, tornamo-nos mais livres e felizes, uma vez que começamos a superar os impulsos inferiores e as tendências agressivas, bem como não permitiremos que o mal dos maus nos atinjam. Isto é ser livre. Não permitir que os outros afetem a serenidade interior conquistada a partir do cair em si.

O Espírito de Joanna de Ângelis ainda nos apresenta Jesus como sendo o filho pródigo do amor, haja vista que se afastou das regiões celestes (Casa do Pai) e foi para o país longínquo da matéria densa, vivendo com a ralé (pigmeus morais – simbologia do porco na parábola). Ensinou a criatura humana a dissipar a sombra individual, mas foi incompreendido e crucificado, voltando, rico de bênçãos, à Casa do Pai.

Todavia, seus ensinos permanecem como lições vivas de esperança e júbilo, tendo suas parábolas contribuído para esse cenário, auxiliando-nos no processo inevitável do cair em si, com o escopo de renovação moral.

Para os espíritas, cujo despertar da consciência foi mais intenso em virtude dos conhecimentos amealhados a partir do Espiritismo, percebemos que o cair em si se dará diante dos mínimos erros, porque a consciência, de imediato, apontará que não procedemos conforme deveríamos.

O Espírito de Bezerra de Menezes fala-nos sobre o ousar no bem, dar um passo além, de forma que o verdadeiro cristão, por ter caído em si, sabe que pode fazer mais em favor do amor e da paz, sobretudo, dulcificando a própria conduta.

Frise-se que o processo do cair em si não é um episódio único, mas inicia-se com o despertar da consciência, cuja extensão vai se ampliando na exata proporção do nosso esforço em favor da busca do conhecimento e da vivência do amor. “Conhecereis a verdade e ela vos libertará” dos equívocos, da ignorância. Naturalmente, chegará um momento da evolução em que não mais precisaremos cair em nós, pois a consciência e a conduta estarão perfeitamente afinadas com as diretrizes do evangelho.

O tema e a parábola em questão são profundos, de forma que caberiam outros apontamentos, mas fica o convite para o autoencontro, cientes de que o Pai Generoso nos aguarda sempre, amoroso e gentil, cabendo a cada um de nós apressar esse retorno, sobretudo pelas escolhas acertadas e por uma vida pautada pela pureza de coração. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”.

A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO


       Um certo homem tinha dois filhos, que com ele moravam no seu lar.
       Um dia, o mais moço disse ao seu pai:
       — Papai, dá-me a parte da tua riqueza que me pertence. Eu desejo correr mundo, viajar por outras terras, conhecer nova gente…
       O velho pai, diante desse pedido, repartiu com am­bos os seus haveres, dando a cada um a parte que lhes cabia, de sua fortuna.
       Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todas as coisas que lhe pertenciam, partiu para um país distante, muito longe de sua terra natal.
       Esse moço, infelizmente, não era ajuizado. Mal chegou ao país estrangeiro, começou a gastar, sem cuidado, todo o dinheiro que possuia. Durante mui­tos dias não fez senão desperdiçar tudo que tinha. Buscou a companhia de outros rapazes desajuizados e consumiu toda a sua fortuna em bebidas, teatros e passeios. Um dia, viu que a última moeda havia desaparecido e se achava na mais absoluta miséria.
       Foi nessa época que uma grande seca reduziu aquele país a uma situação tristíssima. Com a seca, veio a fome. Mesmo nos lares ricos havia falta de pão. A miséria se estendeu, desoladora…
       O pobre rapaz, então, buscou um homem daquele país, contou-lhe sua desgraça e pediu-lhe a esmola de um emprego qualquer, mesmo que fosse o pior servi­ço. E o homem desconhecido o enviou para seus cam­pos a fim de guardar porcos. Os porcos se alimen­tavam de alfarrobas, que são frutos de uma árvore chamada alfarrobeira; mas, nem mesmo desses fru­tos davam ao pobre moço. Os porcos se alimenta­vam melhor do que ele!
Foi então que o moço começou a pensar no que havia feito com seu bondoso pai, tão amigo, tão com­preensivo, tão carinhoso… Refletiu muito… Como fora mau e ingrato para com seu paizinho! Como fora também ingrato para com Deus, desrespeitando o Seu Mandamento, que manda honrar os pais ter­renos… Sofrendo a conseqüência de seu pecado, o pobre rapaz arrependeu-se sinceramente de sua in­gratidão e de seus dias vividos no erro e no vício…
E pensou, então, entre lágrimas:
— Na casa de meu pai há muitos trabalhadores e todos vivem felizes pelo trabalho honesto. Vivem com abundância de pão e tranqüilidade… E eu, aqui, morrendo de fome!… Não, não continuarei aqui. Voltarei para minha casa, procurarei meu pai e lhe direi: “Meu pai, pequei contra o Céu e perante ti; não sou mais digno de ser chamado teu filho. Quero ser um simples empregado de tua casa …
E o moço, como pensou, assim fez.
Abandonando o país estrangeiro, regressou àsua pátria e ao seu lar. Foi longa, difícil e triste a volta, pois ele não mais dispunha de dinheiro para as despesas de viagem. Passou muitas necessidades, sofreu fome e frio, dormiu nas estradas e nas flores­tas… Nunca abandonou, porém, a idéia de que vol­tar para casa era seu primeiro dever.
Finalmente, chegou ao seu antigo lar. Antes, porém, de atingir sua casa, seu velho pai o avistou de longe e ficou ainda mais compadecido, ao ver o filho naquele estado de grande miséria. Seu coração pa­terno, que nunca esquecera o filho ingrato, era todo piedoso. O bondoso pai correu, então, ao encontro do moço. E abraçando-o fortemente, beijou-o com imenso carinho.
Nesse momento, com lágrimas nos olhos, o filho disse ao seu pai compassivo:
— Meu pai, pequei contra o Céu e perante ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho. Quero ser um empregado de tua casa…
O bondoso pai, porém, que nunca deixou de amar seu filho, disse aos empregados da casa:
— Depressa! Tragam a melhor roupa para meu filho, preparem uma refeição para ele. Tragam-lhe calçado novo! Comamos todos juntos e alegremo­-nos, porque este meu filho estava perdido e foi acha­do, estava morto e reviveu!
E todos os servos e empregados da casa atende­ram imediatamente o velho pai e houve imensa ale­gria naquele grande lar.
O filho mais velho, porém, não estava em casa.
Achava-se trabalhando no campo. Quando voltou e viu aquela grande movimentação no interior da casa e ouviu as belas canções que os músicos acompanha­vam com seus instrumentos, chamou um dos servos e perguntou o que era aquilo.
O servo respondeu:
— Foi teu irmão que chegou. Teu pai, de tão alegre e feliz, mandou que preparássemos uma ceia e uma festa, porque o jovem voltou são e salvo.
O filho mais velho, cheio de ciúme, revoltou-se contra a bondade de seu pai e não quis entrar em casa.
Em vão, o velho pai chamou-o. Mas, ele lhe res­pondeu:
— Meu pai, há muitos anos que te sirvo, sem nunca te desobedecer e nunca preparaste uma ceia para mim e meus amigos. Mas, para meu irmão, que gastou teu dinheiro nas orgias, em terra estrangeira, tu lhe preparas uma grande festa…
O bondoso pai, querendo vencer a revolta do filho, desviá-lo do seu ciúme e incliná-lo à bondade e ao perdão, disse-lhe:
— Meu filho, tu estás sempre comigo e tudo que émeu é teu também. Mas, é justo que nos alegremos com a volta de teu irmão, que é também meu filho como tu. Lembra-te de que ele estava perdido e foi achado. Estava morto e reviveu para nosso amor e para nosso lar.

*

Querida criança: certamente você entendeu tudo que o Senhor nos quer ensinar com a Parábola do Filho Pródigo.
Deus é como o Bondoso Pai da história. Deus é bom, supremamente bom e está sempre disposto a receber Seus filhos arrependidos. É preciso, contudo, que o arrependimento seja verdadeiro como o do fi­lho caçula da história.
Percebeu como foi triste para o moço abandonar seu pai e seu lar? Viu como ele sofreu no país estran­geiro, onde nem mesmo teve as alfarrobas que os porcos comiam?
Assim acontece também com as almas que aban­donam os retos caminhos de Deus. Sofrem muito, pois quem se afasta do dever e da virtude conhecerá, mais cedo ou mais tarde, as dores do remorso e as tristezas da vida.
Arrependendo-se sinceramente, no entanto, Deus o escuta e usa de bondade a alma arrependida, como o pai da parábola, que é um símbolo de nosso Pai do Céu.
Que você se conserve no bom caminho, meu fi­lho. Mas se sentir que pecou contra Deus ou contra os homens, arrependa-se com a mesma humildade do filho pródigo. Nunca imite o filho mais velho da história, que era ciumento e orgulhoso e não teve compaixão do próprio irmão arrependido.
Deus é nosso Pai Compassivo e Eternamente Amigo. Não nos ausentemos nunca de Seu Amor. Mas, se errarmos, corramos para Ele, na estrada da oração sincera, com o coração arrependido e disposto a não errar mais. Ele nos ouvirá e virá ao nosso encontro, porque não há ninguém tão bom quanto Deus. Nem há quem nos ame tanto quanto Ele.

PARÁBOLAS DA OVELHA DESGARRADA E DO FILHO PRÓDIGO

PARÁBOLAS DA OVELHA DESGARRADA E DO FILHO PRÓDIGO

 V. 1. Os publicanos e os pecadores se aproximaram de Jesus para ouví-lo. — 2. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este homem recebe os pecadores e come com eles. — 3. Jesus então lhes propôs esta parábola: — 4. Qual dentre vós, aquele que, tendo cem ovelhas e perdendo uma, não deixará as outras noventa e nove no deserto, para ir procurar a que se perdeu até achá-la? — 5. E que, encontrando-a, não a carregará nos ombros cheio de alegria? — 6. Esse tal, voltando a casa reúne seus amigos e vizinhos e lhes diz: Congratulai-vos comigo, pois achei a minha ovelha que se perdera. — 7. Eu vos digo que, igualmente, mais alegria haverá no céu por ter um pecador feito penitência do que por causa de noventa e nove justos que não precisam fazer penitência.
 V. 11. Disse ainda: Um homem tinha dois filhos. — 12. O mais moço disse ao pai: Meu pai, dá-me a parte que me há de tocar dos teus bens. E o pai repartiu com os dois os seus bens. — 13. Poucos dias depois, o filho mais moço reuniu tudo o que era seu, partiu para um país estranho e muito distante e aí dissipou os seus haveres em desregramentos e deboches. — 14. Quando já havia dissipado tudo, grande fome assolou aquele país e ele começou a passar privações. — 15. Foi então e entrou para o serviço de um dos habitantes do país, o qual o mandou para uma sua fazenda a apascentar os porcos. — 16. Aí, muito gostaria ele de encher a barriga com as landes que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. — 17. Afinal, caindo em si, disse: Quantos jornaleiros há, na casa de meu pai, que têm pão em abundância, enquanto que eu aqui morro de fome! — 18. Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e lhe direi: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti. — 19. Não mais sou digno de que me chames teu filho; trata-me como a um dos teus jornaleiros. — 20. E levantando-se, foi ter com o pai. Vinha ele ainda longe quando este o viu e, tomado de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. — 21. Disse-lhe o filho: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; não sou mais digno de que me chames teu filho. — 22. O pai disse, porém, a seus servos: Trazei-me depressa a melhor das roupas e vesti-a nele; ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés; — 23, trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e regozijemo-nos; — 24, pois que este meu filho estava morto e ressuscitou; estava perdido e foi achado. E começaram a festejar o acontecimento. — 25. O filho mais velho, que estava no campo, ao aproximar-se de casa, ouviu música e rumor de dança. — 26. Chamou um dos servos e perguntou o que era aquilo. — 27. O servo respondeu: É que teu irmão voltou e teu pai mandou matar um novilho gordo por tê-lo recobrado são e salvo. — 28. O rapaz se indignou e não queria entrar. O pai saiu e se pôs a lhe pedir que entrasse. — 29. Ele, porém, disse: Já lá se vão tantos anos que te sirvo, sem jamais haver transgredido ordem tua e nunca me deste um cabrito para que eu me banqueteasse com meus amigos. — 30. No entanto, ao regressar o teu outro filho, que esbanjou todos os seus bens com meretrizes, logo lhe matas um novilho gordo. — 31. Meu filho, disse o pai, estás sempre comigo e o que é meu é teu; — 32, mas, pelo que respeita a teu irmão, era preciso que nos banqueteássemos e rejubilássemos, porquanto ele estava morto e ressuscitou, estava perdido e foi achado. (LUCAS, CAP. V, vv.1-7 e CAP. XV, vv. 11-32).
INTERPRETAÇÃO


Que o sublime Rabi da Galileia vos ilumine!
Maravilhosas são as palavras do Mestre Sublime!
Foram seus ensinamentos aplicados não só aos habitantes daquela época, como a todas as gerações posteriores.
Que somos nós? Que fomos nós, senão ovelhas desgarradas? Espíritos que não quiseram se submeter à sublimidade das leis divinas?
A bondade do Pai, porém, se fez e, em meio às trevas em que nos encontramos, veio Ele buscar-nos para que, juntos, irmanados pela fraternidade universal, participássemos das graças sublimes e da morada celestial.




Trazem essas parábolas um hino de esperança para os desiludidos, para aqueles que, dominados pelas suas próprias paixões, não examinaram qual o caminho certo a percorrer e, assim, enveredaram pelo caminho do mal.
Na parábola do filho pródigo, ainda maiores ensinamentos são revelados, porque é próprio filho que, visitado pela dor, bafejado pelo remorso, volta os seus passos pela estrada já percorrida e procura os braços amigos do seu pai.
E eis que Ele, com amor e alegria no seu coração, tudo perdoa porque recuperou o seu filho perdido.




O novilho gordo nada mais é do que as bênçãos do pai que, guardadas todos aqueles anos, são iluminadas pela gratidão, ministradas ao seu filho querido.
O outro filho que, voltando para casa, não compreende e não quer participar da alegria dos seus familiares, representa aqueles espíritos que não se sentem felizes com a felicidade alheia e que, ainda possuindo uma dose de egoísmo, não querem dividir o seu quinhão com mais ninguém.  Não possuía ainda este filho o espírito de renúncia necessária, imprescindível à espiritualidade superior.




Meus irmãos, minhas irmãs, todos nós erramos, todos nós somos entes frágeis, mas que podemos ser fortes e a tudo venceremos se, com esforço próprio, boa vontade e vigilância, controlarmos os nossos impulsos.
Quis o Sublime Mestre legar à Terra estas palavras de fé e de esperança. Qual de nós já não enveredou pelos caminhos tortuosos do próprio vício? Quem de nós já não voltou as costas aos sublimes ensinamentos?
Por quê? Porque para seguir o Mestre devemos dominar todas as paixões, esquecer o que nós fomos e lembrarmo-nos apenas de que estamos na Terra a serviço d’Ele, o nosso Mestre.







Não importa qual seja a nossa provação. Não importa a condição social em que estejamos. Importa, sim, dominarmos o nosso eu, esta personalidade que, muitas e muitas vezes, dominada pelo egoísmo, pelo excessivo amor próprio, faz com que não ouçamos a voz da consciência, ensinando-nos a prudência a calar, a silenciar para melhor vencer.




Irmãos e irmãs diletos! Quantos há colocados no mundo como uma ovelha desgarrada ou como um pai aflito, que tudo deu a seu filho, e o vê partir!
Lembrai-vos dessas parábolas! Em ambos os casos, apelai para as forças superiores.
Se enveredardes pelos caminhos do erro, não tende medo nem orgulho de vos arrepender!
O arrependimento é como o orvalho depois de um dia causticante. Ele revigora as forças e vos faz ver que o Senhor é misericordioso e vos perdoará.




Se sois o pai que, aflito, vê um pedaço do seu eu partir, apelai também para o Mestre e forças vos serão dadas para que possais aguardar, com paciência e resignação, a volta do seu ente querido.
Qual a atitude do Mestre se não a deste pai que há quantos séculos aguarda a vossa volta?
E para que mais depressa reconheçais os vossos erros, Ele vos faz visitar pela dor, pelos sofrimentos e porque não dizer, pela mediunidade, para que, por intermédio desses dons, possais, mais rapidamente, liquidar os vossos débitos.
Agradecei, pois, estas graças do Pai e, por menor que seja o dom recebido, agradecei. Ele, Jesus, vos servirá de guia para, mais rapidamente, reencetardes o caminho de volta.




Eis que o Senhor vos espera de braços abertos e, quando aos seus pés, vos reconhecerdes indigno de tantas graças, Ele vos estenderá as mãos e, juntos, voltareis ao planeta de trevas, dos sofrimentos, procurando as ovelhas desgarradas.
Compreendeis, então, o que seja valor de renúncia!
Tudo por que passastes, tudo o que sofrestes, foi antes sublime, necessário à evolução do seu espírito.
Tende, pois, tolerância para aqueles que não vos compreende.
Perdoa, com esquecimento completo, todas as ofensas recebidas.




Procurai transformar em luzes de abnegação, de tolerância, as lágrimas vertidas e sempre que puderdes, ao verdes uma ovelhinha se afastando do rebanho, ajudai-a a voltar; estendei-lhe mãos amigas e mostrai-lhe o caminho do aprisco divino.
Quando ainda dominados pela mágoa, se não sentirdes forças para perdoar, implorai ao Pai mais esta graça e Ele vos abençoará e vos ensinará a serdes mais tolerantes.
Que as bênçãos do Pai vos iluminem e vos banhem com os fluidos maravilhosos de paz e de amor!


(Extraído do livro: As Divinas Parábolas – Autor: Samuel (Espírito), médium: Neusa Aguiló de Souza – Centro Espírita Oriental “Antônio de Pádua”, Recife, PE – 1982, p. 96-100)


JULIO FLÁVIO ROSOLEN é Espírita, participa da Sociedade Espírita Casa do Caminho (SECCA), em Piracicaba, Estado de São Paulo, é Coronel (da Reserva) do Corpo de Bombeiros.

Comentários sobre a Parábola do Filho Pródigo

Comentários sobre a Parábola do Filho Pródigo

(Vide abaixo desses comentários trecho do Evangelho de Lucas)

Jesus nos ensinou que há mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende, do que por todos os justos que ali estejam. Na Parábola do Filho Pródigo podemos interpretar o “certo homem” como Deus, Nosso Pai e Criador, Senhor de todas as coisas orgânicas e inorgânicas. Desde o átomo e suas partículas mais ínfimas, até do ar que respiramos, da água que bebemos, dos vegetais que nos alimentam, como o oxigênio e as verduras e frutas. Criador das belezas do Céu, do Mar, das Matas, dos Rios e das Flores. Senhor Deus, Nosso Pai dos ensinamentos de Jesus que diz: O Pai trabalha e eu trabalho também.

Dos seres viventes feitos a sua imagem, destacam-se dois filhos: O Pródigo e o Egoísta. Os filhos que possuem toda herança do Criador. Que seriam esses bens? Seriam principalmente, bens espirituais. As maiores dádivas, A FILIAÇÂO DIVINA, O ESPÍRITO IMORTAL, E O LIVRE ARBITRIO.

Mas o filho mais moço estava inquieto. Queria sair e conhecer outras paragens. Ser senhor de seus desejos, tomar posse do que lhe pertencia. Assim pensando, pediu ao Pai: - Dá-me a parte que me cabe dos bens. O Senhor deu-lhe os bens pedidos, o anel de príncipe, o manto real, os haveres materiais como jóias etc.

Passados não muitos dias, este filho partiu, para uma terra distante a cata de aventuras.
Por onde teria passado? Por quais terras do universo, por quais paragens? Aqui no orbe terreno? Encarnado? Desencarnado? Que importa, por aqui, por ai, acolá, quem sabe? Só ele e Deus sabem.
O certo é que desceu fundo. Nesses lugares conheceu amigos e inimigos, influenciou e foi influenciado, negativa ou positivamente. O certo é que não soube com tudo isso lidar. Atravessou desertos e planícies, subiu montanhas, e desceu aos valados. Uniu-se aos que iam em caravanas vendendo e comprando. Ou ainda trocando. Conheceu gente boa, mas conheceu gente má também. Foi roubado, pelos salteadores da estrada.

Chegou com seus poucos haveres, em uma grande cidade cercada de altas muralhas e grandes portais. Ali, alugou uma bela residência cheia de quartos e salões, porque pretendia promover grandes festas. Entreter "amigos" com lautos jantares. Muita festa, muita dança, muitos comes e bebes. E assim viveu em dissolutas orgias criminosas. Consumindo, esbanjando, menosprezando todas aquelas dádivas divinas que herdara de seu Augusto Pai.

Desprezou até seu corpo físico com tantas intemperanças praticadas. Começou a sentir-se fraco e dente. Tornou-se pobre, roto, faminto e miserável, e teve que desocupar a bela residência e viver em pensões baratas e sujas. Procurou os amigos de antes, mas como não tinha mais dinheiro, também não tinha mais amigos. Estes lhe voltaram as costas. Aprendeu a lição de que " de onde se tira e não põe, acaba". Experimentou, inevitavelmente, da grande Lei de Justiça (Lei de Causa e Efeito). Continuou descendo, descendo, até ao fundo do abismo.

Conta-nos o Evangelista Lucas, que o Pródigo, sofreu bastante. Estando por longo tempo doente e abatido, chegou a ser preso, porque acharam que era um vadio qualquer. Andou ao léu, e depois de percorrer tortuosos caminhos de dores amargas acercou-se de um pequeno sitio, onde eram criados porcos.

Na porteira, titubeou em apresentar-se ao dono da chácara, com receio de ser mal interpretado. Bateu palmas e o dono lá de longe disse:

- Não queremos vadios ou mendigos por aqui, vá andando.

- Senhor, disse o Pródigo, não sou vadio ou mendigo. Estou faminto é bem verdade, mas procuro trabalho, não se preocupe. Se me deres trabalho tratarei dos porcos e comerei das alfarrobas que os alimentam.

E ali ficou por algum temo meditando sobre sua vida e fez um retrospecto nos acontecimentos vividos. Racionalizando, lembrou com saudades de seu bondoso Pai e de seu lar cheio de beleza e fartura, onde os empregados, tinham comida abundante. Arrependido e lembrando-se de que o Pai lhe dissera, que quando quisesse voltar, poderia, que ele estaria esperando-o de braços abertos.

Voltarei para o meu Pai. E a volta se processou, muito penosa. Séculos e séculos. Encarnações e processos espirituais expiatórios e provas. Tudo para se quitar com a GRANDE LEI DE JUSTIÇA. Em que somos livres para plantar, porem a colheita é obrigatória. Tinha que reconquistar a saúde espiritual e apresentar-se com a túnica nupcial. Mas estava determinado a voltar.

O Pai conhecia amplamente o novo estado de espírito do filho. Sentiu como Pai amoroso e justo a sua decisiva transformação. E vinha ele longe, na caminhada evolutiva e o Pai já o avistara e esperava. Compadecido dele, correndo o abraçou e beijou, sentindo naquela alma a maior sinceridade. Do seu coração magnânimo partiram eflúvios benditos de amor. E o filho lhe disse:

- Pai, pequei contra o Céu e contra Ti. Já não sou digno de ser chamado Teu filho. Trata-me como a um de teus trabalhadores.

O Pai compadecido disse:

- Filho estas novamente em teu Lar. Voltas-te para o que é teu.

E chamando os servos, disse-lhes:
- Trazei depressa a melhor roupa. Vesti-o, pondo-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Regozijemo-nos também com uma grande festa. Porque este meu filho estava morto e viveu, estava perdido e foi achado.

Há mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende, do que por todos os justos que ali estão.

O bom filho a casa torna.

A melhor roupa é a túnica nupcial que é a luz do espírito.

O anel representa o brasão de príncipe.

As sandálias representam a proteção espiritual, merecida pelo filho.

Estava o filho mais velho (Filho Egoísta) no campo e quando voltava, ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou o que era aquilo. O criado informou:

- Veio o teu irmão e teu Pai mandou matar um novilho cevado, porque o recuperou com saúde.

Ele se indignou e não queria entrar, saindo o Pai que procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a seu Pai:

- Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma de tuas ordens e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos. Vindo porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele um novilho cevado.

Então lhe respondeu o Pai:

- Meu filho, tudo o que é meu é teu. Entretanto é preciso que nos alegremos, porque esse teu irmão, estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.

O egoísta mostra-se magoado e protesta. Retruca o Pai:

- É certo que não dissipaste os bens herdado mas por isso nada sofrestes. Ao passo que teu irmão, suportou todos os revezes e torturas originários dos erros que cometeu. Hoje é sábio pela experiência adquirida Virtuoso, pelo sofrimento suportado. Puro, graças ao batismo do fogo, que recebeu através do cadinho da dor. Hoje regressa ele ao Lar paterno mansão de todos os filhos, qual perdido, encontrado, qual morto, redivivo. É um ato de justiça, portanto, a expansão de amor com que o recebi.

Os dois irmãos representam a humanidade.

O Pródigo é a fiel imagem dos pecadores, cujas faltas, transparecem, ressaltam logo a primeira vista. Semelhantes transviados, deixam-se arrastar ao sabor das intemperanças, como barcos que vagam a mercê das ondas sem leme e sem bússola. Sabem que são pecadores, estão cônscios das próprias imperfeições e comumente ostentam para os que têm olhos de ver, apesar de graves faltas, apreciáveis Virtudes.

Já o filho mais velho, o Egoísta, é a perfeita encarnação dos pecadores que se julgam isentos de culpa. Protótipos das virtudes, únicos herdeiros das bem-aventuranças eternas, pelo fato de se haverem abstido do mal. São os orgulhosos, os exclusivistas os sectários que se apartam dos demais para não se contaminarem, como faziam os fariseus que desprezavam os samaritanos. E o fariseu que orava no Templo, quando Jesus nos faz lembrar que quem se humilha, será exaltado e quem se exalta será humilhado. O Pródigo, ao seu ver, deve ser excluído do Lar. Não vêem ligação alguma de solidariedade entre os membros da família humana. Quando se refere ao Pródigo, diz: "esse teu filho". Descrêem da reabilitação dos culpados. Imaginam-se no alto e os demais em baixo.

O mal do Egoísta é muito mais profundo, está muito mais radicado que o do Pródigo. O Pródigo tem qualidades ao lado de defeitos. O Egoísta não tem vícios, mas igualmente não tem virtudes. O Egoísta não esbanja os dons: esconde-os, como os avarentos escondem as moedas. Não mata, porém é incapaz de arriscar um fio de cabelo para salvar alguém. Não rouba, mas também não dá. Tais pecadores acham-se, por isso, mais longe de Deus que os demais, apesar das aparências denunciarem o contrário (lembrar que parecer não é ser).

As virtudes são mais facilmente simuladas do que adquiridas. Quem simula, quer parecer. Quem adquire é Virtuoso. A prova está em que as íntimas simpatias, de todos que lêem a Parábola, se inclinam para o Pródigo, num movimento natural e espontâneo à escolha do coração. Depois, nós pecadores confessos, vemos, na vida do Pródigo, a nossa própria história. Sua epopéia é a nossa esperança. Eis porque com ele tanto simpatizamos.

(Referências: Comentários da Parábola por Vinícius, em seu livro Nas Pegadas do Mestre, Cap. 22, disponível em http://lubeheraborde.blogspot.com [03 jul 2009])

A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO*
(Bíblia com tradução de João Ferreira de Almeida)
* Sinônimo de Pródigo: Perdulário, Dissipador, Esbanjador

LUCAS [15]
11 Disse-lhe mais: Certo homem tinha dois filhos.
12 O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me toca. Repartiu-lhes, pois, os seus haveres.
13 Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
14 E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades.
15 Então foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos.
16 E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada.
17 Caindo, porém, em si, disse: Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti;
19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados.
20 Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
21 Disse-lhe o filho: Pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.
22 Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés;
23 trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos,
24 porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a regozijar-se.
25 Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças;
26 e chegando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
27 Respondeu-lhe este: Chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
28 Mas ele se indignou e não queria entrar. Saiu então o pai e instava com ele.
29 Ele, porém, respondeu ao pai: Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu; contudo nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com meus amigos;
30 vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.
31 Replicou-lhe o pai: Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu;
32 era justo, porém, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado.

O filho pródigo e a bênção do perdão

O filho pródigo e a bênção do perdão

Durante suas prédicas espiritualistas em todos os locais em que passava, Jesus falava quase sempre de maneira indireta, por parábolas, uma espécie de figuração em forma de histórias curtas, que talvez na sua época, não tenham sido bem assimiladas, mas com o passar dos anos, descobriu-se que elas continham ensinamentos valiosos e profundos, embutidos de uma maneira sutil e dinâmica, que os interessados no seu Evangelho de Amor podem visualizar.
Uma dessas parábolas foi a do filho pródigo, que ganhou notoriedade por se tratar da ingratidão, e ao mesmo tempo do perdão, no seguinte relato evangélico:

Um pai amoroso, dono de uma fazenda com muitas terras, tinha dois filhos que o ajudavam na administração, no cultivo das terras, no plantio e na colheita dos cereais, e ainda no controle dos empregados.
Era uma propriedade próspera e feliz, em que todos os componentes daquela sociedade viviam bem, com fartura de tudo, nada faltando para o dono das terras, sua família e aos empregados, que também gozavam da abundância que reinava naquele recanto isolado das grandes cidades.
Quando completou 25 anos, o filho mais novo do fazendeiro, exatamente aquele em que o pai depositava maior confiança, se dirigiu ao seu genitor e falou: “Pai, até o dia de hoje eu o servi e trabalhei incansavelmente na fazenda, ajudando-a a progredir e prosperar, usando minha força jovem em todo o tipo de trabalho sem reclamar. Mas sempre tive a vontade de conhecer lugares novos, outras pessoas; viajar pelo mundo sem destino, até saber o que eu realmente quero para minha vida. Por isso, queria pedir ao Senhor que calculasse o valor da herança a que tenho direito, por ser seu filho legítimo, e me adiantasse o que é meu por direito, afim de que eu possa seguir destino. Se tudo der errado, eu volto, e tenho certeza que o Senhor me receberá de braços abertos, e mesmo tendo sofrido decepções, eu estarei feliz por ter sido dado a mim o direito de escolher minha vida e o meu destino”.
O velho pai não disse uma única palavra, e simplesmente retirou de um cofre velho uma grande quantia em dinheiro, dando-a ao filho, mas recomendando que ele agisse fora de casa, exatamente como fazia na fazenda, respeitando todos e tudo, não se envolvendo em brigas, jogo, álcool e drogas. Pediu ainda, que aceitasse qualquer tipo de trabalho, não recusando serviço, principalmente se tratasse de sua sobrevivência, abençoando-o em seguida, desejando-lhe muita sorte.
O jovem aventureiro passou por muitas cidades e alguns países, percorrendo vilas e fazendas, gastando gradativamente os recursos que o pai lhe ofertara, sem observar que aonde tira e nada põe, pode acabar, e foi o que aconteceu; o dinheiro acabou, e ele teve que voltar a trabalhar para o seu próprio sustento. A partir daí começou sua via sacra, pois em nenhuma fazenda ou local de trabalho encontrou o clima de amizade e respeito, carinho e solidariedade que tinha na fazenda do pai, pois os patrões exigiam muito e não pagavam quase nada.
Tanto andou na busca de alguma coisa que se comparasse à fazenda do seu pai, que foi parar numa zona desértica, gelada, cuja temperatura se aproximava de 30 graus negativos. Nesse local não havia quase que trabalho nenhum, e o único serviço que arranjou foi o de cuidador de porcos, e sua alimentação era a dos próprios porcos, tendo que dormir junto a eles, nenhuma proteção do frio e das intempéries da natureza. Começou a questionar que o seu sofrimento estava relacionado com o seu abandono da casa paterna, resolvendo então voltar para casa e pedir perdão ao seu pai, além de se oferecer para trabalhar como peão, sem nenhuma renumeração, só em troca da alimentação.
Depois de uma jornada terrível de peregrinação, vivendo de esmolas e ajuda alheia, esfarrapado, sujo e doentio, chegou finalmente à casa do pai, depois de longos anos ausente, onde só foi reconhecido pelos empregados, depois de dizer quem era. Ao saber da chegada do filho, o pai correu ao seu encontro, abraçando-o e chorando copiosamente enquanto o abraçava e o beijava. Mandou então que um dos empregados o levasse ao banheiro, onde recebeu um longo banho, vestindo roupas novas e quentes.
Em seguida, o dono da fazenda chamou seu homem de confiança e disse: “Prepare uma festa como nunca tivemos antes; convide todos os meus vizinhos; mate quantos bois forem necessários; prepare iguarias de todos os tipos, vinhos e fogos de artifícios, porque quero comemorar a chegada do meu filho que estava ausente”.
Ao saber da chegada do irmão mais novo, que dilapidara a fortuna do pai e voltara como mendigo, e ainda assim estava ganhando uma festa, o irmão mais velho, que nunca se afastara de casa e nem gastara nada do pai, questionou o fazendeiro: “Pai, nunca saí da minha casa, sempre estive com o senhor; nunca dilapidei nenhum recurso da fazenda e nunca ganhei nenhuma festa, nem mesmo nos meus aniversários”. E o pai respondeu: “Filho, você sempre esteve comigo, tem sido esse filho obediente e amoroso e nunca me preocupei com você, mas seu irmão estava perdido e se achou, estava morto e agora está vivo entre nós!”.

Em síntese, Jesus quis dizer que Deus nunca abandona seus filhos, por mais rebeldes que sejam, e dá sempre preferência aos que estão mais afastados do pai, e por isso o próprio Jesus afirmou que “não necessitam de médicos os sãos, e sim os doentes”. As ovelhas desgarradas do rebanho divino são as que merecem maior atenção, porque nenhuma delas se perderá, e Deus espera pacientemente nossa mudança de postura diante da vida e diante dele, para então nos dar os recursos necessários à nossa evolução física e espiritual.

Reflexão sobre o Orgulho e a Parábola do Filho Pródigo

Reflexão sobre o Orgulho e a Parábola do Filho Pródigo


Disse-lhe mais: Certo homem tinha dois filhos. O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me toca. Repartiu-lhes, pois, os seus haveres. Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades. Então foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada. Caindo, porém, em si, disse: Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. Disse-lhe o filho: Pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. - Lucas 15:11-21

Durante o período da semana santa, em meio a muitas reflexões, me peguei pensando sobre a parábola do filho pródigo de uma forma diferente e focando em um aspecto que passa muitas vezes despercebido para a maioria das pessoas.


Diversas escolhas que fazemos na vida se mostram depois erros enormes, mas condignos com nosso estado de evolução espiritual. Errar é ainda uma constante para nós e por isso uma enorme fonte de aprendizado, mas entre o erro e o aprendizado existem certas etapas que muitas vezes não cumprimos e buscamos pular, isso quando não permanecemos no erro por orgulho.


É nesse ponto em que chamo atenção para a parábola, muitas vezes tomamos caminhos errados inebriados pelas alegrias que esperamos, mas quando o erro se evidencia e nos vemos frente a frente com nossas misérias é difícil lembrarmos de nossa filiação Divina e é aí que podemos passar muito tempo nos contentando com a comida dos porcos que passamos a achar que é o melhor que o mundo pode oferecer ou que é o que nós merecemos por conta da culpa, as vezes por vergonha e orgulho de fazermos o caminho de volta para nós mesmos, encararmos nossos erros e retomarmos parte no banquete da vida que Deus nos reserva.


Faz-se necessário que façamos esse caminho de volta o mais rápido possível, superando o orgulho e a culpa, encarando nossos erros de frente e reconhecendo nossa condição humana ainda falível, mas também nossa condição de filhos de Deus destinados à felicidade que depende apenas de nós alcançar.


Assim meus amigos lembro da importância de após o erro fazermos esse caminho de volta para o banquete da vida, abandonarmos a lavagem dos porcos, reconhecermos o erro aprendendo com ele e voltarmos à vida plena e rica de experiências sem nenhuma culpa, mas mais conscientes de buscarmos sempre fazermos escolhas melhores que nos mantenham no caminho certo que é aquele que seguimos cumprindo as Leis de Deus.

Parábola do filho pródigo


1. O tema deste estudo é a misericórdia. Na verdade é a misericórdia do pai , que permite que seu filho viva plenamente, mesmo de modo errado. Os séculos passam, mas as grandes lições não envelhecem, pois retratam a eterna luta da alma humana para libertar-se do primarismo evolutivo. A Parábola do Filho Pródigo é uma dessas lições, e é um solene e formal desmentido às penas eternas. Esta parábola ao mesmo tempo em que é uma amostra do grande amor de Deus por cada um de nós, também nos leva a refletir sobre o grande pecado da rebeldia e do orgulho que está inoculado em nós. Ela é o drama da evolução do Espírito, através de erros humanos, para a verdade divina.
2. Certa vez, cobradores de impostos e pecadores se aproximaram de Jesus para escutá-lo. Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuraram entre si criticando o Cristo, dizendo: Esse homem acolhe pecadores e come com eles! Então o Mestre propôs-lhes três parábolas seguidas. (Lucas, XV:1-32). A parábola da ovelha desgarrada, da dracma perdida e do filho pródigo. Há semelhança entre as três, que se relacionam entre si. Todas falam do resgate daquele que se desviou do caminho, e da necessidade de arrependimento. A primeira trata de uma ovelha que se dispersa do rebanho. Disse Jesus: “Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, com muita alegria a coloca nos ombros. Chegando em casa, reúne amigos e vizinhos, para dizer:
3. Alegrem-se comigo! Eu encontrei a minha ovelha que estava perdida. E eu lhes declaro: Assim, haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. Já a segunda versa sobre uma mulher que verifica ter perdido uma dracma (antiga moeda grega de prata). Se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, será que não acende uma lâmpada, varre a casa, e procura cuidadosamente, até encontrar a moeda? Quando a encontra, reúne amigas e vizinhas, para dizer: Alegrem-se comigo! Eu encontrei a moeda que tinha perdido. E eu lhes declaro: Os anjos de Deus sentem a mesma alegria por um só pecador que se converte. Entretanto, a parábola do filho pródigo é a mais longa, com mais pormenores e ensino mais profundo, e quem se perde é um homem.
4. Muitas pessoas não sabem o que significa a palavra pródigo, que aparece no título que é dado a essa parábola. Pródigo significa que “Gasta demais”, “Esbanjador”. As parábolas da ovelha e da dracma perdidas e do filho pródigo, apresentam em traços claros o misericordioso amor de Deus para com os que d’Ele se desviam. Eis a parábola do nosso estudo: Um homem tinha dois filhos; o mais jovem disse ao pai: - Pai, me dá a parte da herança que me cabe. E o pai dividiu os bens entre eles. Passados alguns dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para um lugar distante, para viver sua vida como achava que deveria viver, e, lá, dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente.
5. Depois de ter consumido tudo o que possuía, sobreveio uma grande fome nessa região, e ele começou a passar necessidade. Então, ele foi se agregar a um homem daquele lugar, e este o mandou para seu campo, para cuidar dos porcos. Ali ele queria matar a fome com a lavagem que os suínos comiam, mas ninguém lhe dava nada. Então, caindo em si, disse: - quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou me levantar, e vou encontrar meu pai, e dizer a ele: - pai, pequei contra Deus e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi ao encontro de seu pai. Quando ainda estava longe, o pai o avistou, e teve compaixão.
6. Saiu correndo, o abraçou, e o cobriu de beijos. Então o filho disse: - Pai pequei contra Deus e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos empregados: - Depressa, tragam a melhor túnica para vestir meu filho, e coloquem um anel no seu dedo, e sandálias nos pés. Peguem o novilho cevado e o matem. Vamos fazer um banquete, porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado. E começaram a festa. O filho mais velho estava na roça. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. O criado respondeu: - É seu irmão que voltou. E seu pai, porque o recuperou são e salvo, matou um novilho cevado.
7. Então o irmão ficou com raiva, e não queria entrar em casa. O pai insistia com ele. Mas ele respondeu ao pai: - Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua, e nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, matas para ele um novilho cevado. Então o pai lhe disse: - Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu. Mas era preciso festejar e nos alegrar, porque esse seu irmão estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado. Talvez, essa seja a parábola capaz de nos dar o maior número de lições entre todas, pois é muito rica em ensinamentos. E destaco alguns para nossa edificação.
8. Ela nos apresenta o procedimento de Deus com aqueles que uma vez conheceram o amor paterno, mas consentiram que o orgulho e a vaidade os levassem cativos a sua vontade. Talvez, Lucas nos queira apresentar o rosto paterno de Deus que, movido pela compaixão, princípio ativo da misericórdia, vai ao encontro do que estava perdido. Não para condenar, culpar, senão para salvar, amar. E, aí, está a sua alegria. Esse permanente amor de Deus que vai ao encontro de seus filhos, não importando onde se encontrem, é o que moveu Jesus durante sua vida pública, e há de ser também o que move seus discípulos de todos os tempos. Esta parábola mostra Deus na figura do pai. E mostra cada um de nós ou na figura do filho mais velho, que rejeita a conversão do irmão, ou na figura do filho mais novo, que vive uma vida cheia de equívocos.
9. Nesta parábola encontramos três personagens: o filho mais novo, o que se foi; o pai e o filho mais velho, que ficou. No início, os personagens são apenas dois: o pai, bom e generoso, que ensinou aos filhos a Lei de Deus, e o filho mais novo, cheio de vigor e ambição, o qual, com o despertar da personalidade, e dominado pelo impulso de ser livre, resolveu agir por conta própria. O filho mais velho, de início, não tem um papel importante na história. Se ele compartilhou a dor do seu pai com a partida repentina do seu irmão ou o seu anseio por ele durante a sua ausência, o evangelista não contou. É aqui que a trama da parábola tem seu ponto relevante. Independente de quanto é comovente a saga do filho mais novo, o filho mais velho é o verdadeiro foco da parábola.
10. O filho pródigo foi acusado de dissipar a sua herança, de abandonar a casa do pai, e viver dissolutamente. Seu irmão mais velho, que ficou em casa, não esbanjou os seus bens nem abandonou o lar paterno. Porém, tempos depois, sua atitude grosseira tanto para com seu pai como para com seu irmão, que voltara arrependido, renunciando até o direito de filho, demonstra que ele era mais pródigo do que o que deixara o lar. O irmão mais novo era pródigo por ter dissipado sua herança; o mais velho era pródigo por dissipar a oportunidade de demonstrar o seu amor, a misericórdia e o perdão. A sua falta de amor para com o irmão e a desobediência para com seu pai são provas de sua prodigalidade.
11. O filho mais moço cansara-se da casa paterna. Via o pai como alguém rude, incapaz de compartilhar todos os bens. Por isso, exigiu a sua parte na herança, naturalmente pensando que sua liberdade era reprimida. O amor e o cuidado do pai foram mal interpretados, e determinou seguir os ditames de sua própria inclinação. O jovem não reconheceu nenhuma obrigação para com o pai, e não exprimiu gratidão, contudo, reclamou o privilégio de filho para participar nos bens de seu genitor. A rebeldia estava nele, que descumprindo a lei judaica, se torna herdeiro antes da morte do pai. Ele viaja para um lugar longínquo. Lá, esquece o pai e seus ensinamentos; usa equivocadamente seu livre-arbítrio na satisfação de seus sentidos; dissipou o bem com sua devassidão; e passa por suprema humilhação ao ir cuidar dos porcos, pois os porcos eram considerados animais imundos;
12. Fracassou; foi mal sucedido e, sentindo na carne os efeitos da sua rebeldia, arrependeu-se; reconheceu o erro grave, e, constrangido, lembra-se da casa do pai e decide regressar, esperando ser abrigado apenas como um dos empregados da propriedade. Consciente de tudo quanto havia feito de errado, regressou, confiando apenas na solidariedade humana do seu genitor. Nunca pensou que seria acolhido com um abraço de pai. A sua decisão marca o fim da sua descida moral e o início da ascensão. Um outro ponto interessante para reflexão reside no comportamento do filho que ficou em casa. Em um primeiro momento, ele parece mais equilibrado do que seu irmão mais moço. Satisfeito com a disciplina da casa paterna, não se entusiasmou com a perspectiva de festas e desfrutes.
13. Enquanto o denominado filho pródigo ganhava o mundo, ele permanecia vivendo de forma equilibrada. Entretanto, esse equilíbrio é colocado à prova quando o seu irmão retorna, sofrido e humilhado. Por sua vez, orgulhoso e pretencioso, informado do acontecido, em vez de se alegrar com aquele retorno, reage negativamente, com indignação, com inveja e ciúme do irmão mais moço. Sendo correto e cumpridor das suas obrigações, ele não entendia porque razão o pai teria que oferecer uma festa para aquele filho ingrato e irresponsável. E, em atitude infantil, recusa-se a entrar em casa e participar da festa. Instado pelo pai a retificar o seu comportamento, dá mostras de rancor ao falar de sua prolongada obediência, a seu ver, sem recompensas. Qualifica o pai de injusto. Ele procede como quem lastima o dever cumprido, e desestimando a própria virtude.
14. Assim, também nós pensamos e agimos: ou queremos liberdade e independência para provar de tudo que o mundo nos oferece, e darmos as costas para Deus ou então, ficamos na casa do pai por obrigação. Não se esqueça: O Pai está sempre de braços abertos para acolher o nosso arrependimento e, espera por nós, a cada instante da nossa vida. Reflita: Você se sente como o filho mais velho ou como o filho pródigo? Qual dos dois sentiu mais o amor de Deus? Muita Paz! Jesus, rogamos a luz e o amparo que precisamos, nós que aqui estamos ligados ao pesado fardo da matéria.
15. Refrigera-nos o espírito, amenizando as dores e sofrimentos de todos nós. Pedimos que possa haver mais esperança em nossos corações; que possa haver mais fé em nossos espíritos; que possa haver mais entendimento e caridade em nossas ações, tudo conforme a vontade de Deus, nosso Pai. Que os mensageiros da boa vontade de Jesus possam enviar o bálsamo que cada um de nós necessita para o refazimento da jornada que nos é própria. E, que, nessa semana que se inicia, possamos vivificar e aprender, levando a todos com quem vamos nos encontrar, a mensagem do trabalho contínuo, da melhoria, da paz, do amor e da caridade. Que assim seja! Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br

O retorno do filho pródigo

Dos diversos trabalhadores espíritas sob a avaliação de Bezerra e seus auxiliares, Comélia era a que estava enfrentando as maiores dores morais no testemunho de sua fé.

Comélia afastara-se do trabalho mediúnico direto havia quase um ano em decorrência da tragédia familiar que vivia, relacionada ao filho Marcelo, que lhe exigia cuidados intensos. Jamais a doutrina espírita lhe fizera tanto sentido quanto agora, envolvida pelas dobras da dor e do resgate na própria carne. Por isso, apesar de não comparecer ao centro para os trabalhos normais, mantinha-se fiel aos ensinamentos de amor e renúncia nos quais era acompanhada por seu esposo Lauro que, diferente dela, nunca se filiara a qualquer igreja ou prática religiosa formal.

A história de Marcelo e o drama familiar que o envolvia expressava o sofrimento de tantos pais e irmãos inseridos no contexto da dor sem remédio que vitima, em geral, os membros mais inexperientes no entendimento das coisas elevadas do Espírito.

Marcelo, um dos filhos do casal Comélia e Lauro, rapaz imaturo e pouco afeito às coisas espirituais, desde cedo declarara a própria independência, desejando buscar a liberdade da rua, onde daria vazão às próprias inclinações sem se sentir vigiado pelos olhares paternos nem atormentado pelos deveres familiares, notadamente o de conduzir-se de acordo com os ensinamentos recebidos.

Tratava-se de um espírito sem compromissos sérios com a vida e que trazia em seu passado diversas peregrinações pelas facilidades destruidoras do caráter sadio. A presente encarnação fora planejada de modo que a sua insana busca por aventuras desaguasse na oportunidade de reerguimento, na companhia de pais humildes e disciplinadores, conquanto amorosos e vigilantes, visando a sua própria edificação. Renascido em lar simples, sem as facilidades econômicas do passado, lar esse que dependia do trabalho de seus membros para ser abastecido dos recursos materiais indispensáveis à manutenção de seus integrantes, revoltava-o o fato de todos precisarem trabalhar com afinco e, depois, compartilhar os recursos pessoais para cooperar com o progresso comum. Comida, roupas, eletricidade, telefone, escola, tudo dependia do esforço compartilhado, não havendo espaço para a ociosidade de ninguém. De espírito fraco, Marcelo não se conformava com o que o destino lhe oferecia, no caminho áspero do trabalho, como a estrada dura e a disciplina como o meio de tornar-se melhor. Não aceitava trabalhar para todos nem privar-se das facilidades que sua alma almejava desfrutar novamente. Por isso, assim que se viu com idade suficiente e com recursos financeiros que lhe garantissem o próprio sustento, afastou-se do ambiente familiar onde era querido, onde encontrava amigos sinceros e amorosos que velavam por sua segurança e onde, fatalmente, conseguiria enfrentar a luta contra as próprias inclinações. Com a desculpa da necessidade de espaço ou almejando dar o tão sonhado “grito de liberdade”, embrenhou-se na floresta inóspita do mundo, onde o custo dessa liberdade costuma ser a dor, o sofrimento e a decepção.

Jovem, portanto, transferiu residência em companhia de Alfredo, “amigo” que o acolheu com o compromisso de dividirem despesas.

Infeliz gozador do passado, Marcelo viu, na figura do novo companheiro, a tábua de salvação que poderia livrá-lo das disciplinas da família, que ele considerava um peso, castradora de suas vontades e cheia de limitações ao exercício de sua liberdade. Agora, em companhia do amigo, garantiria para si o “espaço” que sempre pleiteara, considerado como o território para as leviandades ocultas, fora da supervisão de pai e mãe.

Então, não tardou para que, na companhia do rapaz, Marcelo se iniciasse nas facilidades perniciosas do mundo livre. Conheceu pessoas, envolveu-se com mulheres, penetrou o mundo da droga e, de degrau em degrau, foi descendo a ribanceira, envolvendo-se cada vez mais nos cipoais venenosos de vícios e aventuras impróprias, com a desculpa de que deveria provar de tudo para descobrir o sentido da vida sem a interferência de outras pessoas. E com o apoio de um viciado ou de outro pervertido, Marcelo ia reconhecendo o velho mundo, aquele ao qual já havia pertencido outrora, em vidas anteriores, onde viciara-se naquelas atitudes superficiais e perigosas. De nada lhe valeram as advertências dos pais quando de suas escassas visitas à família. Quanto mais os escutava, mais repulsa sentia contra aquele “estilinho” de vida decadente, ultrapassado, no qual dois adultos tinham de guiar os filhos escolhendo seus caminhos. Coisa do passado, forma de viver que, segundo suas idéias, havia perdido a razão de existir. Segundo Marcelo e seus amigos frustrados, a família era uma invenção da sociedade para manter seus membros alienados, onde os mais velhos dominassem os mais novos impedindo-os de se desenvolverem de acordo com suas próprias inclinações naturais. Algo como uma prisão revestida de grades de carinho para melhor controlar a vida dos outros.

Então, com toda essa “filosofia” na cabeça, Marcelo não tinha olhos para perceber o buraco onde ia se afundando. Tudo aquilo que ouvira de seus pais, os conceitos de honestidade, responsabilidade, disciplina, repudiara radicalmente, afastando tudo isso de seus comportamentos. Responsabilidade, caráter, seriedade de conduta, respeito aos semelhantes, eram conceitos da “prisão família” e, portanto, não serviam para nada. Não lhe causaram qualquer constrangimento as doses de bebidas sempre maiores que compartilhava com os “amigões”, nem o batismo nas drogas mais pesadas, que comemorava como um ritual de iniciação no grupo que o acolhera como mais um membro. Não percebia que suas condutas eram motivadas pelo desejo de ser aceito em um outro tipo de “família”. Repudiando a família que o recebera e criara com zelo e carinho, buscava, contraditoriamente, tomar-se membro de outra família, aquela que reunia criaturas despreparadas como ele, frustradas, complexadas, preguiçosas e rebeldes em um único conjunto, no meio do qual poderiam dar vazão aos seus comportamentos nocivos, fazendo tudo o que desejassem sem censuras, livres para o exercício das diversas aberrações. Não se importou quando, da droga fácil, migrou para as orgias sexuais e, junto com ambas, para a prática de delitos visando conseguir os valores para alimentar seus vícios.

Sim. Marcelo havia descido toda a escadaria da decência ao lado dos mesmos amigos, aqueles que considerava a própria família até o dia em que surgiram os primeiros sintomas da debilidade orgânica decorrente da enfermidade do sistema imunológico, demonstrando que o jovem havia antecipado o irremediável encontro com a morte.

Quando as feridas explodiram em sua epiderme, a fraqueza invadiu seus membros e a prostração colou-o à cama, a família dos desajustados expulsou o membro podre de seu seio.

Marcelo foi banido do grupo assim que a ambulância o levou ao hospital. Dali, Marcelo não teria mais para onde voltar. Seus amigos deixaram-no entregue a si mesmo, porque não tinham nenhum interesse em perder a própria liberdade para cuidarem dele.

O amigo Alfredo entregou as coisas de Marcelo na portaria do hospital e, para se livrar de qualquer responsabilidade, deixou o nome e o endereço dos pais do rapaz, como responsáveis por ele. Já havia mais de quatro anos que o filho não mandava notícias nem procurava por ninguém.

Em casa, no entanto, a dor do afastamento fustigava o coração dos pais. Durante as noites, Cornélia e o marido se angustiavam nas horas da oração, meditando no destino do filho, que sabiam não ser dos melhores. Tinham a convicção de que o rapaz era orgulhoso demais para voltar ao seu lar com a cabeça baixa, além do fato de se presumir senhor de si mesmo, para chegar derrotado.

Lauro, o genitor, possuía mais extensa a ferida no coração, porquanto doía-lhe a postura de repúdio de Marcelo perante tudo o que ele e a esposa haviam feito para ajudá-lo. A ausência, o sofrimento que seu egoísmo produzia em seus corações, a distância deliberada, as más companhias, eram estiletes no coração do pai que, apesar disso tudo, ainda o amava como antes. Por isso, incontáveis vezes o pai perambulava pela cidade, sempre pensando poder encontrar o filho por acaso.

Toda procura, no entanto, redundava num grande fracasso.

Marcelo tivera o cuidado de mentir sobre seu endereço para que não fosse encontrado, evitando ser perturbado. Haviam, pois, perdido totalmente o contato, e só quando o filho os procurava é que se reviam. Mas já se haviam passado quatro anos de silêncio. Cornélia, indo ao centro espírita para as reuniões regulares, em todas elas colocava o nome do filho na lista de orações, rogando a ajuda espiritual para a proteção do rapaz. Suas preces eram recolhidas pelos mentores da casa com a emoção dos que admiram o amor puro que brota do coração materno ou paterno, ainda que por aqueles que não se fizeram dignos de serem amados. Equiparado ao Amor de Deus por seus filhos transviados, o amor de Cornélia era exemplo para os próprios espíritos, que tudo faziam para acalmá-la tanto quanto ao esposo que, em casa, não havia amadurecido para o interesse espiritual, apesar de acompanhar Cornélia eventualmente, como ouvinte de palestras e recebedor de passes.

Ao longo dos anos, a preocupação acerca dos destinos de Marcelo haviam avassalado os pensamentos e desejos de Cornélia de tal forma que, durante a noite, seu espírito, ao invés de ir aos trabalhos da instituição onde era esperada para o desempenho das tarefas que lhe eram próprias, saía pelas ruas na busca do filho perdido.

Entidades nobres que velavam seus passos a seguiam controlando-a e protegendo-a de ataques de espíritos agressores, uma vez que desejavam impedir que, mesmo em espírito, Cornélia vislumbrasse a real condição do filho amado.

Então, as noites eram infindáveis caminhadas, de becos em becos, expondo-se aos encontros mais assustadores. Nada disso, entretanto, diminuía nela a determinação de encontrar o pobre e infeliz Marcelo.

O regresso ao corpo no dia seguinte era carregado de um sentimento de tristeza, apesar do amparo que seu protetor espiritual lhe estendia incessantemente. O Amor de Cornélia e a proteção dos Amigos Invisíveis era o escudo de sua alma contra os ataques das vibrações trevosas dos lugares onde se metia.

Algumas vezes, durante o sono, os amigos a procuravam, convocando-a para voltar ao trabalho. Apesar de aceder ao convite por alguns dias, eis que, logo depois, voltava Cornélia a ausentar-se dos deveres, demandando continuar as buscas infrutíferas.

Tudo ia nesse passo, quando um telefonema do hospital trouxe a notícia do paradeiro de Marcelo.

Ninguém se apresentava para retirar aquele trapo de gente, nem o setor de assistência social sabia .do paradeiro dos amigos a quem Marcelo, insistentemente, pedia que fossem chamados para retirá-lo daquele lugar. Não queria que os pais o vissem nem que recebessem qualquer solicitação. Aquilo seria a maior vergonha de sua vida, no orgulho gigantesco ferido pela derrocada total.

No entanto, mesmo proibidos pelo enfermo de procurarem a família, não restou outra alternativa à direção hospitalar do que comunicar-se com os pais para informá-los da condição do filho doente.

Marcelo, nessa época, já era homem feito, com seus vinte e cinco anos corroídos pelo “estilo de vida” que adotara. Porém, o destino que o esperava – A MORTE FÍSICA – iria encontrá-lo em qualquer parte em poucos meses.

As dores e feridas estavam controladas com medicamentos, mas a fraqueza persistia, e a falta de forças físicas impedia as suas reações nervosas. Então, não protestou contra o hospital quando lhe disseram que seus pais haviam sido informados tanto de seu paradeiro quanto de sua situação.

Cornélia e seu marido imediatamente correram para a casa de saúde, com o coração apertado pela dor de quem ama e pela notícia trágica do fim das forças do rapaz.

Lauro carregava no coração uma ansiedade mesclada com revolta por tudo o que o filho ingrato fizera sua mãe e ele próprio sofrerem.

–    Por que ficou tanto tempo longe, sem dar qualquer notícia? Somos nós quem mais o amamos na Terra. Por que fez isso conosco? – eram os pensamentos do pai que, nesse momento, procurava calar a insatisfação para que não perturbasse o reencontro que os esperava no hospital.

Aquele momento, fatalmente, seria muito difícil para as partes, mas, tanto ela quanto Lauro estavam amparados pelo amor de Ribeiro que, acompanhando o caso desde o princípio, sabia que Marcelo precisava do sofrimento a fim de que recomeçasse o trajeto da subida espiritual.

Muitas vezes se faz necessário esgotar todo o combustível de insanidades para que a alma se declare, finalmente, cansada das leviandades, tendo bebido todo o fel do cálice de desgostos com o qual se desilude das ilusões cultivadas e das facilidades buscadas com avidez.

O    quarto coletivo já intimidava os visitantes pelo volume de dor ali acumulada tanto quanto pelas condições dolorosas dos ali abrigados, todos em estado terminal.

Marcelo não sabia como se dirigir aos seus pais. Tinha consciência de que era um farrapo humano. Apesar disso, orgulho ainda existia como vestimenta defeituosa da alma, a lutar contra a renovação do espírito. Porém, chegara a hora das verdades e estava encerrado o tempo das fantasias.

Cornélia dirigiu-se ao leito do filho, no encontro doloroso do Amor com a Imaturidade.

–    Marcelo, meu filho – foram as únicas palavras que conseguiu dizer, enquanto tentava conter na garganta o choro convulsivo diante do estado aflitivo do rapaz.

–    Mãe… – falou a voz fraca do rapaz não parece, mas sou eu mesmo… Pai… estou morrendo…

As frases curtas do enfermo eram estiletes no coração dos que o amavam.

Ali estava a família verdadeira. Aquela que não fugia dos compromissos do Bem e que receberia os seus membros derrotados para ajudá-los a se reerguerem.

A presença de Lauro e Cornélia ao seu lado, depois que todos os seus amigos o abandonaram sem qualquer explicação, teve o condão de trazer Marcelo ao entendimento do quanto estivera errado em seus conceitos sobre o lar, ao longo de tantos anos de loucuras. Sua carência física e emocional fizeram brotar, pela primeira vez em muito tempo, as lágrimas do arrependimento. E sem palavras nem discursos, pai e mãe se inclinaram sobre o corpo do filho, juntando suas lágrimas às do moço desditoso. Não lhes incomodava nem o mau cheiro de suas feridas, nem o risco de contágio, nem a sua aparência de cadáver.

Seus pais o amavam, mesmo depois de quatro anos de fuga e indiferença, de arrogância e erros. Nenhum dos dois recordava o passado. Não era mais necessário voltar ao ontem para saber quem havia acertado e quem havia errado.

Essa era a certeza mais importante desse reencontro. Marcelo estava necessitando deles e isso era tudo. Então, depois de se recomporem e de transformar em felicidade aquele momento doloroso, Lauro saiu em busca da direção médica, responsável pelo rapaz.

Assim que o médico chegou no quarto, Lauro lhe disse:

–    Doutor, eu e minha esposa desejamos autorização para levar Marcelo de volta à sua casa, à nossa casa.

Ouvindo aquelas palavras, o próprio doente se sentiu no dever de protestar:

–    Mas pai, eu não tenho casa. Estou este trapo de gente apodrecendo vivo. Não é justo que vocês me levem para lá… Chorava de vergonha. Soluçava, no esforço de resgatar um mínimo de decência.

–    Não, meu filho, este bendito hospital que tem cuidado de você é uma casa abençoada, mas, lar é lar, não é mesmo, doutor? – perguntou Cornélia, emocionada com a reação do próprio marido, reação que ela mesma não esperava, diante das manifestações de contrariedade que Lauro sempre demonstrava ao falar de Marcelo.

– Bem… sim. – disse o médico, um pouco relutante – a casa dos pais é o porto seguro que todos nós jamais esqueceremos. O problema são os cuidados que Marcelo exige.

–    Não importa, doutor. O senhor nos explica o que é preciso fazer e a gente cuida dele como se fosse no hospital -falou Lauro, decidido.

Sabendo que o rapaz não teria muito tempo de vida mesmo, e que o hospital necessitava daquele leito para atender um outro paciente que, como Marcelo, também não teria muitos amigos para acolhê-lo, o médico se prontificou a explicar como deveriam proceder. Para isso, pediu licença ao doente, afastando-se na companhia dos visitantes para fora do quarto, onde poderia falar com franqueza.

Marcelo, por sua vez, não estava iludido quanto ao que o esperava. Havia visto aquela enfermidade vitimar o corpo de muitos rapazes e moças. Visitara alguns deles antes da morte e, por isso, sabia que seu tempo se esgotava. No entanto, jamais imaginara que poderia, um dia, morrer em casa, ao invés de perecer isolado e anônimo, no meio de estranhos num hospital qualquer do mundo.

Seu coração, emocionado, continuava a produzir as lágrimas de arrependimento. Ribeiro, em espírito ao seu lado, alisava seus poucos e desgrenhados cabelos, infundindo-lhe novas energias para o aproveitamento máximo daquele final de estágio reencarnatório.

Ao influxo do amigo espiritual, Marcelo acomodou-se em sereno repouso, como se a esperança viesse a acender a luz da paz no coração. Certamente morreria pelas próprias culpas e excessos. No entanto, morreria nos braços de sua família verdadeira. Poderia pedir desculpas, conseguiria redimir-se ao menos pelas palavras e, quem sabe, servir de exemplo para os que, jovens e irresponsáveis, se iludiam com uma falsa liberdade, aquela que era usada como arma e não como instrumento de crescimento.

Mais do que nunca, agora, sonhava em voltar para casa. Mesmo que fosse para aguentar as acusações de seus irmãos, de ouvir os juízos maus e condenadores de todos quantos não fossem capazes de perdoar-lhe a insânia.

Não se importaria com nada. Procuraria amar a todos, mesmo àqueles que não o aceitassem. Sabia que tinha culpa nisso tudo e, portanto, compreenderia com humildade e aguentaria o que tivesse de suportar. Todo sacrifício valeria a pena para poder estar, novamente, sob os cuidados de Cornélia e Lauro.

Lá fora, o diálogo com o médico foi aberto:

–    Preciso informá-los de que Marcelo não deverá viver mais do que um ou dois meses. As crises serão maiores, seu corpo frágil se ressentirá de diversas infecções e, por isso, quanto menos exposição externa, menores riscos para a sua precária saúde. Poderemos colocar à disposição de vocês aparelhos que monitorem algumas funções de Marcelo e qualquer emergência a ambulância poderá trazê-lo para cá. Será necessário realizar sua higiene íntima com muito cuidado para que as fezes não contaminem as feridas abertas.

–    Doutor, nós faremos tudo o que for necessário, conforme as suas orientações de que, aliás, muito necessitamos também. Queremos, sim, levar nosso Marcelo para casa.

–    Pois bem, senhor Lauro e dona Cornélia. Vamos providenciar a remoção. Acho que um de vocês precisará ir com ele na ambulância enquanto seria bom que o outro fosse embora, providenciar um lugar adequado para receber o doente. Seria importante que ele ficasse em um quarto com banheiro próximo para facilitar as coisas.

Cornélia olhou para Lauro, como a lhe dizer que era no quarto do casal que o filho ficaria. A cama mais larga e o banheiro acoplado facilitariam todos os cuidados, realmente. Ela e Lauro se revezariam, um dormindo no quarto, em uma poltrona, e o outro no sofá da sala ou no outro quarto da casa, ocupado pelo irmão mais novo, o único que ainda morava com os pais.

Cornélia resolveu dirigir-se para casa a fim de organizar as coisas, preparando o ambiente e os membros da família para o retorno do filho perdido. Lauro permaneceria no hospital assinando os documentos finais e acompanhando o traslado daquele tesouro de amor que recuperaram do lodo, ainda que fosse para tê-lo em suas mãos por apenas mais trinta ou sessenta dias.

A disposição dos dois enchia o coração do filho de esperança e paz.

–    Por fim, uma família de verdade – pensava o doente

a família que eu sempre tive, mas não sabia que tinha. Obrigado, meu Deus, obrigado por esta bênção que eu não mereço.

Era a oração que o jovem, descrente inveterado, agora ensaiava com o pensamento, descobrindo o poder do amor como mecanismo de recuperação da alma perdida.

Ali começava para Marcelo o reerguimento longamente planejado pelo mundo espiritual. E para Comélia, Lauro e seus familiares, o testemunho mais importante de suas vidas também era aguardado neste período de atendimento às dores daquele infeliz, que recuperava a sanidade mental graças às tragédias materiais e morais.

A partir daquele dia, todos se sacrificaram para acolher o filho pródigo que regressava ao lar. Na casa espírita, a notícia do reencontro do filho causou alegria, possibilitando a organização da visita fraterna com a aplicação de passes magnéticos e a conversação amiga a benefício do doente.

Jurandir e Alberto, acompanhado às vezes por Alfredo ou por Dalva, semanalmente se dirigiam ao lar de Cornélia para fazerem a prece e envolver Marcelo nos banhos vibratórios de esperança e força.

As primeiras semanas foram um pouco conturbadas pela dificuldade dos cuidados que seu estado de saúde exigia. No entanto, segundo as próprias orientações do mundo espiritual, Marcelo estabilizaria as funções orgânicas pelo tempo necessário ao aproveitamento das lições que lhe chegavam para limpar as chagas de sua alma.

Realmente, as coisas se passaram daquela forma prevista por Ribeiro, com a ação de Bezerra de Menezes auxiliando no reequilíbrio biológico, visando o aproveitamento das novas oportunidades.

A conversa amiga e alegre dos visitantes enchia Marcelo e bom humor. Ele sempre costumava dizer, ao final do encontro:

–    Olha, gente, de um jeito ou de outro eu vou acabar baixando um dia lá nesse centro espírita de vocês, hein! Vocês é que se preparem para me receber. Quando é que voltam aqui?

–    Ora, Marcelo, se você está tão decidido, a gente vai esperar você chegar lá primeiro – respondiam os amigos, sorrindo.

–    Ah!, não… isso vai demorar um pouco ainda. Preciso da energia de vocês para me recuperar. E como é que pensam que vão conseguir entrar no céu se não for fazendo a caridade para com um miserável como eu?

–    A gente não vem aqui por caridade não, Marcelo. A gente vem porque gosta muito de você.

Todos sorriam para disfarçar a emoção e a vontade de chorar, enquanto o doente não conseguia guardar as lágrimas no cofre dos olhos, pensando em quanta coisa boa havia perdido em sua vida.

Os passes magnéticos e o carinho dos que o circundavam fizeram o vaticínio dos médicos cair por terra. Marcelo ganhara peso, se reequilibrara fisicamente, já conseguia sair da cama e andar até a sala. Olhava o sofá onde seu pai dormia todas as noites para lhe deixar a própria cama. Sentia o calor humano dos irmãos, que vinham lhe trazer presentinhos todos os dias, lembranças, fotografias, cds com músicas agradáveis, docinhos e alguns outros agrados.

Nenhum deles lhe dirigiu qualquer palavra de censura ou reprimenda, sobretudo porque se deixaram tocar pela compaixão que o seu estado de saúde impunha por si mesmo.

Era o próprio Marcelo quem tomara a iniciativa de usar-se como exemplo para que os sobrinhos e o irmão mais novo nunca fizessem o que ele havia feito.

HERDEIROS DO NOVO MUNDO
Quando se reuniam à sua volta, Marcelo recomendava, como quem ensina com suas próprias quedas:

–    Não se iludam com as coisas do mundo, por mais sedutoras que possam parecer. Vejam meu estado. Tenho vinte e cinco anos e pareço um velho. Vou viver mais alguns meses quando, em verdade, se tivesse escutado o pai e a mãe, estaria aqui com vocês, sem dar tanto trabalho, por muito tempo. Que a vida que me resta possa servir para alguma coisa. Estou como estou por minha culpa, minha leviandade, porque pensava que a família era a prisão de minha liberdade, castradora de minha personalidade. Precisei chegar a isso para entender que a família é o único lugar onde se encontra quem ama a gente de verdade.

E suas palavras eram tão sinceras, que não havia quem o escutasse e não se emocionasse até o mais profundo de sua alma.

Ali estava um derrotado moral que se esforçava para erguer os outros, tomando a si mesmo como demonstração de equívoco a não ser imitado.

Era um exemplo vivo, não palavras ou teorias.

Marcelo estava refundindo os próprios valores.

Jerônimo e Adelino acompanharam atentos todo o processo de reencontro do filho perdido, sua volta para casa e os meses que levaram o tratamento de seu espírito com vistas ao aproveitamento da experiência final, a mais importante de sua vida, encaminhando-se para a desencarnação.

Assim, no dia em que o falecimento ocorreu, na serenidade do lar, Marcelo e os membros de sua família estavam reunidos. Nos momentos que antecederam o desenlace, pressentindo a chegada da hora final, o rapaz pediu que todos estivessem com ele naquele quarto que se fizera pequeno e, com lágrimas de emoção, pediu que o perdoassem não só pelo sofrimento do passado, mas pelas dificuldades que criara no presente, pelos transtornos que causara na família, pelos gastos que impusera, sem nunca ter cooperado com nada.

Suas palavras, nascidas de um coração agora humilde, eram o atestado da transformação daquele ser, que deixara para trás o charco lodoso da queda moral e se reconstruíra passo a passo, no rumo da autolibertação. Descobrira, por fim, no que consistia a verdadeira liberdade.

–    Orem por mim, meus irmãos, orem como quem ora por um insano que acordou a tempo de reconhecer suas loucuras. No entanto, estejam certos de que eu só consegui reconhecê-las porque recebi o Amor de vocês. Se não fosse isso, talvez ainda restasse em meu interior alucinado a ideia de que o egoísmo e o orgulho são capazes de fazer algo de bom por alguém. Graças a vocês e ao pessoal do centro, vou partir da vida como um devedor feliz, um condenado que se arrependeu sinceramente de seus crimes e que sabe que deverá responder por cada um deles.

Emocionando a todos os que lá se encontravam, pelo esforço com que buscava proferir as derradeiras palavras, por fim, completou:

–    Não sei… para onde vou… mas, quando estiver bem, … quero que saibam que… trabalharei muito… para… um dia… poder recebê-los… do lado de lá… de uma forma que… vocês tenham orgulho de mim… tanto quanto… hoje, eu tenho orgulho de pertencer à família…

E encerrando o desligamento definitivo, encontrou forças para dizer:

–    Desculpa, mãe, desculpa, pai… obrigado… por tudo…

E, sob a comoção geral, entregou a alma aos amigos espirituais que o estavam sustentando até aquele momento, nos ajustes finais do desenlace do pobre rapaz que se recuperava como espírito.

No dia de sua desencarnação, completavam-se onze meses que Marcelo havia deixado o hospital.

Termminada a jornada de Marcelo, Doutor Bezerra nos esclarece o destino do rapaz tendo em vista o momento de transição que atravessa a Terra…

– Marcelo foi considerado um aluno rebelde que, arrependido dos equívocos e suportando com resignação a dor dos meses finais de seu corpo, pôde ser, finalmente, resgatado de si mesmo e encaminhado à recuperação. Seus sofrimentos finais foram consideradas como etapas depuradoras, uma espécie de depuração dos males praticados e, apesar de não terem tido o mesmo volume de seus erros pretéritos, foram aceitos com paciência e humildade e, graças a isso, foram tão produtivos e vantajosos que lhe facultaram a permanência na Terra, ainda que em situação de enfermo do mal sob observação da enfermagem do Bem, a caminho da saúde plena. Ficará em nosso orbe, como um aluno que, ainda que com notas baixas, atingiu o limite mínimo para a aprovação. Certamente que não contará com regalias reservadas aos alunos aplicados. No entanto, poderá continuar seu crescimento espiritual em reencarnações de aprendizado e disciplina em ambientes menos favoráveis, no seio de povos menos desenvolvidos, onde a carência de recursos e meios o auxilie a não mais se iludir com facilidades materiais, valorizando cada conquista como um recurso de crescimento e não como arma de destruição.

E se estas novas experiências forem bem aproveitadas por um Marcelo renovado, quem sabe venha a renascer um dia no seio da família que o ajudou nesta hora tão amarga de seu destino, graças a cujo apoio e carinho reordenou a trajetória evolutiva ao invés de seguir para o triste exílio em planeta inferior à Terra.

Nesta etapa evolutiva, Lauro e Cornélia foram os seus Maiores benfeitores. Pela forma como ambos se conduziram nesse transe doloroso, demonstraram ser bons alunos, capacitados para para o entendimento das diretrizes planetárias,
construtores de uma nova humanidade e enfermeiros do Bem. Apesar de lutarem contra as próprias deficiências, souberam vencer os obstáculos que carregavam no coração e, pela força de suas deliberações amorosas vividas na forma de renúncia, compreensão, tolerância, compaixão, passaram no exame com louvores dignos de excelentes e aplicados estudantes.

Livro Herdeiros do Novo Mundo, caps. 29 e 30, Espírito Lúcius – psicografia de André Luiz Ruiz.

Filhos pródigos


 Quando ouvimos falar de filho pródigo, logo nos vem à mente um homem rico dissipando a sua fortuna material, nas festas e gozos do mundo.

No entanto, se ampliarmos nossa visão, perceberemos outros aspectos que merecem atenção.

Os filhos pródigos não estão somente onde há dinheiro em abundância. Podemos encontrá-los em todos os campos da atividade humana, ocupando diversas posições.

Grandes cientistas da Terra são perdulários da inteligência, destilando venenos intelectuais, indignos das concessões com que foram distinguidos.

Artistas preciosos gastam, por vezes, inutilmente, a imaginação e a sensibilidade, através de aventuras mesquinhas, caindo no relaxamento e nos resvaladouros do crime.

Filhos pródigos que estão, neste momento, desperdiçando a fortuna do tempo acomodados na ociosidade irresponsável. Ou então, usando seus conhecimentos para criar coisas ou situações infelizes.

Há os que dissipam a saúde através dos vícios de toda ordem.

Os que são pródigos em desculpas para seus próprios erros, mas econômicos quando se trata de desculpar os erros alheios.

Muitos esbanjam, deliberadamente, as oportunidades de crescimento que a vida lhes oferece a cada instante.

Vários governantes dissipam a confiança que lhes foi depositada, jogando fora a chance de testemunhar dignidade e honradez.

Pais que se demitem da missão que lhes foi conferida e deixam escoar a bendita oportunidade de elevar moralmente a prole que Deus lhes confiou.

Filhos pródigos somos quase todos nós. Deixando passar as oportunidades de calar uma ofensa, evitar um ataque de ira, conter um comentário maldoso.

Temos sido avaros ou comedidos quando se trata de doar-nos, de oferecer algo de nós mesmos.

Somos econômicos quando alguém nos pede uns minutos de atenção, um favor qualquer, mas pródigos em passar as horas ocupando-nos com coisa nenhuma.

Economizamos bons modos, e distribuímos palavrões, críticas azedas, queixas sem fim.

Não economizamos palavras vazias, mas custa-nos falar bem de alguém ou de alguma coisa.

É importante que pensemos um pouco a respeito do uso que temos feito de tudo o que nos é concedido: tempo, saber, saúde, oportunidades.

E, de acordo com as Leis que regem a vida, tudo o que se esbanja fará falta, hoje ou mais tarde.

É bom verificar se não estamos sendo pródigos demais com as coisas ruins e economizando virtudes ou deixando de cultivá-las.

*   *   *

Os obstáculos que criamos na estrada evolutiva só retardam a nossa felicidade.

Enquanto nos detivermos nos caminhos estreitos dos enganos, não perceberemos a grande avenida iluminada que nos conduzirá ao Pai.

Essa avenida é a mensagem do Cristo, pois a afirmativa é Dele: Eu sou o caminho da verdadeira vida. Ninguém chegará ao Pai, senão por mim.

Pensemos nisso!

Redação do Momento Espírita com base no cap. 24
 do livro Pão nosso, pelo Espírito Emmanuel, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.
Em 28.06.2010.

Parábola do Filho Pródigo - Compilação

http://acasadoespiritismo.com.br/parabolas/PARABOLA%20DO%20FILHO%20PRODIGO.htm

"Um homem tinha dois filhos. Disse o mais moço a seu pai: Meu pai, dá-me a parte dos bens que me toca. E ele repartiu os seus haveres entre ambos. Poucos dias depois o filho mais moço ajuntando tudo o que era seu, partiu para um país longínquo e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome e ele começou a passar necessidades. Então foi encostar-se a um dos cidadãos daquele país e este o mandou para seus campos a guardar porcos; ali desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Caindo, porém, em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai tem pão com fartura e eu aqui, morrendo de fome! Levantar-me-ei, irei a meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o Céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado de teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros. E levantando-se foi a seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai viu-o e teve compaixão dele, e, correndo, o abraçou e o beijou. Disse-lhe o filho: Pai, pequei contra o Céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: trazei depressa a melhor roupa e vesti-lha, e pondo-lhe o anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também um novilho cevado, matai-o, comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho era morto e reviveu, estava perdido e se achou. E começaram a regozijar-se. Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e, quando voltou e foi chegando a casa, ouviu a música e a dança, e chamando os criados perguntou-lhes o que era aquilo. Um deles respondeu: Chegou teu irmão e teu pai mandou matar o novilho cevado porque o recuperou com saúde. Então ele se indignou, e não queria entrar; e, sabendo disso, seu pai procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos; mas, quando veio este seu filho que gastou teus bens com meretrizes, tu mandaste matar o novilho mais gordo. Respondeu-lhe o pai: Filho: tu sempre estás comigo, e tudo que é meu é teu; entretanto, cumpria regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu irmão era morto e reviveu, estava perdido e se achou".

(Lucas, XV, 11-32)

1 - CAIRBAR SCHUTEL

Esta parábola imaginosa relatada pelo evangelista Lucas é a doce e melodiosa palavra de Jesus, dizendo aos homens da bondade sem limites, da caridade infinita de Deus! Ambas as individualidades que representam o filho obediente e o filho desobediente simbolizam a Humanidade Terrestre. O pai de ambos aqueles filhos, simboliza Deus. Uma pequena, pequeníssima parte da Humanidade personificada no filho obediente se esforça por guardar a lei divina e permanece, portanto, na casa do Pai. A outra parte personifica o filho desobediente, que, de posse dos haveres celestiais, dissipa todos esses bens e vive dissolutamente, até chegar ao extremo de ter de comer das alfarrobas que os porcos comem. Esse extremo é que o força a voltar à casa paterna, onde, acolhido com benemerência e conforto, volta a participar das regalias concedidas aos outros filhos.

Em resumo: esta simples alegoria, capaz de ser compreendida por uma criança, demonstra o amparo e a proteção que Deus sempre reserva a todos os seus filhos. Nenhum deles abandonado pelo Pai celestial, tenha os pecados que tiver, pratique as faltas que praticar, porque se é verdade que o filho chega a perder a condição de filho, o Pai nunca perde a condição de Pai para com todos, porque todos somos criaturas suas. Estejam eles onde estiverem, quer no mundo, quer no espaço; quer neste planeta, quer em país longínquo, ou seja noutro planeta, com um corpo de carne ou com um corpo espiritual, o Pai a nenhum despreza, a nenhum abandona, porque nos criou para gozarmos da sua luz, da sua glória, do seu amor.

O Pai celestial não é o pai da carne e do sangue, pois como disse o apóstolo: "a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus"; a carne e o sangue são corruptíveis, só o Espírito é incorruptível, só o Espírito permanece eternamente. O Pai celestial é Espírito, é Deus de verdade, Deus vivo, por isso seus filhos também são Espíritos que permanecem na imortalidade. A luz, a verdade, o amor não foram criados para os corpos, mas para as almas. Como poderia Deus criar um "filho pródigo", a não ser para que ele, depois de passar pela experiência dura do mal que praticou, voltar para o seu Criador, e, arrependido, propor o não mais ser perdulário, mas adaptar-se à vontade divina e caminhar para os destinos felizes que lhes estão reservados! Como poderia Deus criar uma alma ao lado de um Inferno eterno! que pai é esse que produz filhos para mandá-los atormentar para sempre?

A Parábola do Filho Pródigo é a magnificiência de Deus, e ao mesmo tempo o solene e categórico protesto de Jesus contra a doutrina blasfema, caduca, irracional das penas eternas do Inferno, inventada pelos homens. Não há sofrimentos eternos, não há dores infindáveis, não há castigos sem fim, porque se os mesmos fossem eternos Deus não seria justo, sábio e misericordioso. Há gozos eternos, há prazeres inextinguíveis, há felicidades indestrutíveis por todo o infinito, esplendores por toda a Criação, amor por toda a eternidade!

Erguei as vossas vistas para os céus. O que vedes? Um manto estrelado sobre vossas cabeças, chispas luminosas vos cercam de carícias; fulgurações multicores vos atraem para as regiões da felicidade e da luz! Olhai para baixo, para a terra, para as águas: o que vedes? Essas chispas, essas luzes, essas estrelas, essas cintilações retratadas no espelho das águas, nas corolas das flores, nos tapetes verdejantes dos campos; porque das luzes nascem as cores, são elas que dão colorido às flores que iluminam os campos, que agitam as águas!

O homem! onde quer que estejas, se quiseres ver com os olhos do Espírito, verás a bondade e o amor de Deus animando e vivificando o Universo inteiro! Tanto em baixo como em cima, à esquerda como à direita, se abrires os olhos da razão, verás a mesma lei sábia, justa, equitativa, regendo o grão de areia e o gigantesco Sol que se baloiça no espaço; o infusório que emerge, a gota dágua e o Espírito de luz, que se eleva sereno às regiões bem-aventuradas da paz. A lei de Deus é igual para todos: não poderia ser boa para o bom e má para o mau; porque tanto o que é bom quanto o que é mau estão sob as vistas do Supremo Criador, que faz do mau bom, e do bom melhor: pois tudo é criado para glorificar o seu imaculado nome!

Não há privilégios nem exclusões para Deus; para todos Ele faz nascer o seu Sol, para todos faz brilhar suas estrelas, para todos deu o dia e a noite; para todos faz descer a chuva!

CAIRBAR SCHUTEL

2 - PEDRO DE CAMARGO "VINICIUS"
Parábolas é uma história encerrando certa moralidade que deve ser destrinçada do enredo. Jesus utilizava-se desse meio para ensinar. É um processo pedagógico de relevância porque obriga o estudante a fazer uso do raciocínio. Uma das nossas aprendizes empregou certa figura elucidativa, bem interessante, a propósito deste assunto, a qual passamos a reproduzir. O avô ensinava evangelho aos seus netos. Chamando a atenção de um deles, perguntou-lhe: o que vês na parede da frente? Vejo uma sombra, retruca o interpelado. E você, continuou o velho instrutor, dirigindo-se a outra criança. É um cachorro; distingo a cabeça, o corpo e a cauda. Em seguida, um terceiro acrescenta: é cachorro policial, veja o formato e a posição das orelhas.

Concluiu então o avô: É isso mesmo. Um de vocês apenas viu a sombra projetada na parede pela estatueta de cerâmica que aqui está sobre a mesa. Outro distinguiu que era um cachorro; outro, finalmente, ajuntou que se tratava de um cachorro policial. As parábolas são assim: uns dizem que são historietas; outros, que são casos interessantes cujo enredo prende a atenção; finalmente, outros descobrem a moralidade ou ensinamento que a narrativa oculta em suas entrelinhas.

Comecemos pela parábola mais conhecida e que tem sido muito comentada: a do Filho Pródigo, inserta no Evangelho de Lucas, cap. XV.

Vamos comentada conjuntamente com as da Ovelha Desgarrada e da Moeda Perdida que a procedem, porque as três incidem sobre o princípio filosófico adotado pelo Espiritismo, isto é, a Unidade do Destino.


1 - "E chegavam-se a Ele os publicanos e demais pecadores para o ouvir. E os escribas e fariseus então murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. E Jesus, por isso, lhes propôs a seguinte parábola: Que homem, dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a encontrá-la? E, achando-a, põe-na, alegremente, sobre os ombros; e chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhe: Alegrai-vos comigo, pois achei a minha ovelha perdida. Digo-vos, pois, que haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.

2 - Ou, qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a encontrar? E, achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já encontrei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.

3 - E, continuando, disse mais: Um certo homem tinha dois filhos e o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. E havendo gastado tudo, sobreveio naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquele lugar, o qual o enviou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava ele encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, caindo, então, em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui, perecendo de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou mais digno de ser chamado teu filho; recebe-me como um dos teus jornaleiros. E, levantando-se, foi para seu pai; e quando estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. E o filho disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não mereço ser considerado teu filho. Mas, o pai disse aos seus servos: Trazei depressa o melhor vestido, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel no dedo, e alparcas nos pés; e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; pois este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido e foi encontrado. E começaram todos a alegrar-se. E o filho mais velho achava-se no campo; e quando veio, e chegou perto da casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, indagou o que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recuperou são e salvo. Mas, ele indignou-se, e não queria entrar. E, saindo, o pai insistiu com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir as tuas ordens, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; vindo, no entanto, esse teu filho, que esbanjou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas; mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e agora achou-se."

Conforme verificamos, o ponto central destas três parábolas é a unicidade do destino.

1 - De fato, é o que se depreende claramente do caso do pastor que tendo cem ovelhas, deixa no campo noventa e nove, e sai à procura de uma que se havia perdido.

2- O mesmo sucede com a dona-de-casa que, tendo dez moedas, perde uma. Aflita por isso, ela remove suas mobílias, varre todos os cómodos até encontrar aquela banho desfalcado de uma ovelha; como a mulher, que não se conforma com a perda de uma só de suas moedas;

3 - e, como o progenitor solícito e amorável que recebe jubiloso o moço arrependido, assim como o Pai Celestial não quer que se perca nenhum de seus filhos.


Esta é a moralidade que ressalta de modo inequívoco e insofismável desta trindade parabólica. É digno de nota sabermos que o céu está interessado no que se passa neste mundo. A sorte do pecador faz parte da cogitação dos anjos de Deus, os quais se rejubilam com a regeneração dos culpados. Nada há isolado no Universo. Os mundos e as humanidades que os habitam guardam relação íntima entre si. Os maiores, os justos e os sábios pensam e se preocupam com os pequenos, os injustos e os ignorantes.

Esta circunstância é animadora. Ninguém está abandonado nem esquecido. Tudo pende para a Unidade Suprema que é Deus. Comentemos agora de modo particular a parábola do Filho Pródigo. Dentre todas as imaginadas pelo Mestre, é a mais conhecida e a quem tem dado margem a publicações de vasta literatura. Realmente trata-se de uma lição tocante, que fala à nossa alma e sensibiliza o nosso coração. É, geralmente, sob o aspecto sentimental que essa magnífica página evangélica tem sido vista e explanada. Mas, não é somente debaixo desse prisma que devemos encará-la. Cumpre que aprofundemos, tirando de sua estrutura as grandes verdades que encerra. Comecemos pelo seu título.

Seria mais acertado a denominarmos: O Pródigo e o Egoísta — considerando que o seu enredo gira principalmente em torno de dois personagens que encarnam aquelas duas modalidades de indivíduos. Apenas três figuras aparecem neste conto evangélico: o pai e os dois filhos. No entanto, só se tem comentado o procedimento de um dos filhos, o mais moço, o pródigo, e nada diz sobre o outro filho, o mais velho, o egoísta, o maior pecador. Vamos, pois, trazê-lo à baila, pois é protagonista importante cuja conduta deve ser meditada.
À simples leitura do texto percebemos que aquele pai é Deus. Seus filhos representam os homens, os pecadores de todos os matizes.

O mais moço personifica os que se entregam desvairadamente aos prazeres sensuais, concentrando na gratificação dos sentidos todas as suas aspirações, consumindo em bastardos apetites as riquezas herdadas do Divino Progenitor. Empobrecido e arruinado, faminto e roto, material e espiritualmente, acaba reconhecendo-se o único culpado de tamanha desventura, o responsável, em suma, pela penosa situação em que se vê. Arrependido, resolve procurar os penates abandonados insensatamente, voltando para junto do seu lugar de filho e herdeiro de todos os bens e prerrogativas paternas.

A história desse moço encarna a odisséia dos pecadores que se encarnam neste orbe. Devaneios, aventuras, busca de prazeres, aspirações malogradas, tendo como consequência desapontamentos, dores e angústias. Em seguida — arrependimento, regeneração, retorno a Deus. Entre os dois extremos — prodigalidade e egoísmo — encontra-se a grande série de pecados e erronias que os homens cometem. O final ou remate de toda a trajetória do Espírito através das encarnações e reencarnações, das provas e expiações, por que venha a passar, é um só: confissão da culpa, o arrependimento e a consequente reabilitação pela dor e pelo amor! Ninguém se perde, não há culpas irremissíveis. O desígnio divino é um só. A porta da redenção jamais se fecha, está sempre aberta aos pródigos e aos egoístas arrependidos, de todos os tempos.

Outro ensinamento de relevância que ressalta da parábola em apreço é o que respeita à lei da consequência ou de causalidade, propagada pela Terceira Revelação. A redenção do Filho Pródigo deu-se mediante a sua influência. Ele criou um conjunto de causas que determinaram um conjunto de efeitos análogos. Como as causas foram más, os efeitos foram dolorosos. Suportando-os como era natural, e não como castigo imposto por agente estranho, o moço acabou compreendendo a que suportava. Tomou, então, espontaneamente, e não coagido por terceiros, a resolução de emendar-se. E assim o fez. A obra da nossa redenção, portanto, deve ser iniciada intimamente, em nosso interior, processando-se no recôndito de nossas almas. Dessa reforma individual decorrerá a reforma da sociedade.

Deus é imutável. Seu atributo principal é o Amor. Na sua imutabilidade, Ele espera que o homem o procure. Deus é a luz da Vida. Quando mais d'Ele nos aproximamos, tanto mais nos sentiremos iluminados pela sua luz e fortalecidos pelo seu calor, o que vale dizer que mais intensificaremos a nossa própria vida. Afastarmo-nos de Deus é embrenharmo-nos nas trevas, é caminharmos para a morte. Daí o dizer da parábola: Este meu filho era morto e reviveu, tinha-se perdido e agora achou-se. Ir a Deus é encontrarmos a nós próprios, descobrindo-nos em nossa vida imortal. Ainda outro ensinamento: a relatividade do livre-arbítrio. O homem é um ser relativamente livre. Se não possuísse essa faculdade seria um títere, movendo-se ao sabor das circunstâncias que o cercam. O Espírito, quanto mais atrasado, menor soma de liberdade possui.

À medida que vai progredindo — moral e intelectualmente —, sua esfera de ação livre dilata-se e se amplia, até que adquire completo livre-arbítrio. A ignorância, em seu duplo aspecto —- moral e intelectual —, constitui o cárcere do Espírito. Basta considerarmos a condição do analfabeto. É um emparedado que se debate entre as grades da prisão. Abre um livro e não pode interpretar os seus símbolos: é um cego. A liberdade, pois, depende do grau evolutivo do Espírito. Não basta o desenvolvimento intelectual; é indispensável que a educação seja equilateral, isto é, que o sentimento constitua a base da nossa evolução. É pelo despertar do sentimento que se opera a conversão dos culpados, conforme atesta exuberantemente o caso do moço desassisado. O Pródigo faz jus à nossa simpatia, porque é um pecador confesso.

Errou, sofreu as consequências, reconheceu-se culpado, implorou e obteve a divina misericórdia. Pela sinceridade do seu gesto e humildade de sua atitude, ele atrai a nossa indulgência e conquista o nosso coração. E, como não há de ser assim se nós nos vemos nele, como num espelho, refletindo o que somos e indicando o roteiro a seguir ? O delito do Pródigo é menor, e menos grave do que o do seu irmão. A sua culpa revela fraqueza, inexperiência, e não maldade ou desamor. Fez mal a si próprio. Não envolveu a ruína de terceiros em suas aventuras; não ocasionou dor física nem moral a seu próximo. Foi insensato, leviano, boêmio e perdulário, prejudicando-se, como dissemos, a si mesmo.

E o Egoísta, com sua aparente santidade, jactando-se de jamais haver infringido as ordens e preceitos paternos? Na sua impiedade manifesta e ostensiva, esquivando-se indignado a tomar parte no banquete promovido pelo pai em regozijo ao regresso de seu irmão, ele mostra toda a aridez e secura de sua alma. O Pródigo, a despeito das insânias que cometeu, não atentou tão gravemente contra a Lei como ele: não feriu os sentimentos paternos de modo tão desalmado e cruel. Sendo a encarnação viva do egoísmo, pretendeu monopolizar a herança e o convívio paternos. Sentiu-se bem sem o irmão transviado, por cuja sorte jamais se interessou. Desapareceu o irmão? Melhor, ele se tornaria o único herdeiro do céu! Por isso, estomagou-se com o seu retorno e com a maneira afetuosa como o pai o recebera. Que outra prova maior de impiedade poderia demonstrar? Onde a sua decantada santidade, onde o seu presumido puritanismo?

Estará, acaso, nas virtudes negativas que proclamara tão enfaticamente? Virtudes negativas importam na abstenção do mal. Mas, isso não basta. O homem pode abster-se do mal visando somente ao proveito próprio, ao seu bem-estar, ao bom conceito e à fama. E o que prova tudo isso, se não egoísmo? Não procede mal, para não se comprometer, para zelar pela sua integridade moral. Sim, empregamos o prefixo propositadamente, porque, em realidade, tal pessoa não passa de um bom aparente, de um santo de fancaria, incapaz de um gesto altruísta em prol do seu próximo. Não arrisca um fio de cabelo na defesa do inocente ou de uma causa justa; não dedica um momento do seu tempo em favor de outrem. Ainda mais: entristece-se com a felicidade alheia e revolta-se com a alegria do próximo.

Refestelando-se presumidamente no céu, conforma-se com a perdição eterna de seu irmão! Tal o grande pecador, imagem fiel do fariseu que, orando no templo, assim se pronunciava: Graças te dou, meu Deus, porque não sou como aquele publicano. Não sou ladrão, pago o dízimo e jejuo regularmente. O publicano, porém, orava deste modo: Meu Deus, tem piedade de mim, miserável pecador. Em verdade, ensinava o Mestre, este voltou para sua casa justificado, e não aquele.

A lição mais importante da alegoria que ora comentamos está resumida no seu último tópico, quando o Egoísta, extravasando zelos e ciúmes, queixou-se ao pai, dizendo: Mataste o novilho cevado em sinal de regozijo pela volta desse teu filho que dissipou teus bens com as meretrizes, enquanto que a mim, que tão bem te sirvo, nunca me deste um cabrito para regozijar-me com meus amigos. O pai, então, retruca: Filho, tu sempre estiveste ao meu lado, e tudo que é meu é teu; entretanto, cumpria regojizarmo-nos, porque este teu irmão era morto e reviveu, estava perdido e agora achou-se. O ensinamento áureo está sintetizado num simples possessivo: esse teu irmão. O adjetivo — teu — é, no caso, tudo quanto há de mais significativo.

O Egoísta viu, no Pródigo, apenas, o filho dissoluto de seu pai; mas, este mostrou-lhe naquele — o seu irmão! Que importam os seus erros e desatinos? Ele é teu irmão! Apliquemos em nossa vida este preceito. Saibamos ver nos que se transviam, nos que cometem culpas e mesmo delitos graves, o nosso irmão. Lembremo-nos de que o dia de sua regeneração e redenção será festivo nos céus. Alegremo-nos com Deus na reabilitação do pecador, expurgando o nosso coração de todo o pensamento sectário e exclusivista. A Casa do Pai Celestial é bastante grande para agasalhar todos os seus filhos. Regozijemo-nos e nos confraternizemos, todos, no alegre banquete do Amor, olhos fixos em nossa sublime e sábia legenda:

"Fora da Caridade não há Salvação".

PEDRO DE CAMARGO "VINICIUS"

3 - PAULO ALVES GODOY

Evidentemente a Parábola do Filho Pródigo é a mais consoladora, a mais bela e a mais edificante página dos Evangelhos, encerrando o duplo mérito de revelar toda a grandiosidade do amor de Deus para com Seus filhos, e destruir pela base as tão absurdas teorias das penas eternas e do pecado chamado irremissível.

Reiteradamente, afirmava Jesus que muitos dos homens de sua época "tinham olhos mas não viam, tinham ouvidos mas não ouviam". Essa afirmação do Mestre tem também aplicação nos dias atuais, quando alguns ensinamentos religiosos ultrapassados, não permitem que se veja, na referida parábola, a mais insofismável e decisiva afirmação contra as tão decantadas penas eternas.

Um confronto, ainda que bastante superficial entre o Criador e a criatura, seria o bastante para destruir essa abominável concepção religiosa. Se o homem, eivado de imperfeição, não concilia a idéia de condenar um seu filho e o máximo que poderá fazer é aplicar ligeiros corretivos; e não se deve supor, de forma alguma, que Deus, perfeição absoluta e expressão máxima do amor, pudesse agir de modo diverso, através de suas leis imutáveis, punindo de forma eterna os seus frágeis filhos, que transgridem as suas leis.

Na Parábola do Filho Pródigo, Jesus Cristo deixou transparecer todo o amor de Deus, que não se limita a aguardar a volta do filho fracassado, mas, vai buscá-lo nos caminhos da vida, fazendo-o através dos seus mensageiros de amor e bondade, que tudo fazem para soerguer aqueles que desfalecem, preparando-os para novos aprendizados reedificantes, no decorrer de novas vidas com a aplicação da magnânima lei da reencarnação.

A aceitação da teoria esdruxula das penas eternas implicaria na repulsa daquele filho transviado: o "pai" da parábola deveria se limitar a fechar as portas do seu lar àquele filho que esbanjara tão prodigamente os seus bens, acumulados com tantos sacrifícios, ordenando que ele fosse severamente punido.

O ato do pai, acolhendo em seu seio aquele filho transviado, fazendo-o com satisfação e com festa, simboliza bem o amor incomensurável de Deus, traduzido naquelas palavras do Meigo Nazareno: "Há mais alegria nos céus por um pecador que se regenera, de que por noventa e nove justos que perseveram". Como reforço a essa ponderação, devemos também salientar a afirmação D'Ele: "Qual o pastor que não deixa o rebanho sujeito ao assédio dos lobos vorazes e tudo faz na procura de uma ovelha tresmalhada, sendo grande a sua alegria quando a encontra?"

Não se concebe a idéia de um Pai que cria os seus filhos pusilânimes, para após qualquer deslise condená-los a habitar os domínios de um decantado príncipe dos demônios. Tal idéia jamais poderá prevalecer num século de destacado progresso espiritual. A sua aceitação seria a negacão pura e simples de toda a virtude, de toda a sabedoria, de toda a misericórdia e de todo amor.

Não é esse Deus que o Espiritismo apregoa. Esse Deus pertence aos egoístas, aos maus e aos rancorosos. O Deus que o Espiritismo apresenta é um Pai de clemência, infinitamente Bom e a Expressão Máxima da tolerância e da brandura.

Deixemos, pois, de lado o Deus-inquisitorial da Idade Média; o Deus dos antigos israelitas, consubstanciado no Jeová dos Exércitos; os deuses dos antigos povos politeístas, e consagremos a imagem de um Deus Onipotente, Onisciente, Eqüitativo e Bom.

Abandonemos o Deus que se fecha num paraíso exclusivista, que se compraz no gozo de ladainhas intermiináveis, que se deleita com as preces de homens intolerantes e eivados de maldade, e exaltemos o Pai Infinito que abre as portas dos páramos mais elevados do Grande Além, não apenas para receber as "almas eleitas", mas, precipuamente, enviar os grandes missionários da luz, para recolherem as almas falidas nos escabrosos caminhos da vida.

Posterguemos o Deus das adorações contemplativas, e alegremo-nos por termos por Pai um Deus que é todo vibração, trabalho, amor e ação.

Devemos sentir em nossos corações um Deus que quer mais a ação, e coloca em segundo plano a adoração por parte dos seus filhos.

É óbvio, na narrativa evangélica, que o Filho Pródigo representa os que Deus coloca nos caminhos da vida, para o aprendizado comum, e que, por uma razão ou outra, vem a falir no desempenho das tarefas peculiares ao processo evolutivo.

Em outras palavras, o Filho Pródigo da parábola simboliza a parcela de criaturas humanas que é cumulada de bens para o desempenho satisfatório de determinada tarefa e que, por invigilância, prevaricação ou desídia, vem a fracassar, retomando ao mundo espiritual sem ter praticado os atos meritórios, mas como "um morto que reviveu", dotado de experiência suficiente para poder prosseguir a sua tarefa ascencional rumo ao Criador, em futuras vidas na Terra ou em "outras moradas da casa do Pai". Tudo isso confirmando o dizer evangélico de que "há mais alegria nos Céus por um pecador que se regenera, de que por noventa e nove justos que perseveram no caminho do bem".

O irmão do Filho Pródigo, por outro lado, representa a outra parcela de seres humanos: aqueles que se encastelam nas muralhas dos dogmas, julgando-se os únicos herdeiros das coisas celestiais e os monopolizadores da verdade, arrogando-se ao qualificativo de "eleitos" ou "escolhidos", jamais tolerando que os seus irmãos, que eles qualificam de "hereges" venham a ser, um dia, recebidos na Casa do Pai com o mesmo amor e carinho a eles dispensados.

Esses homens avocam a si o título de herdeiros do reino de Deus, fazendo-o simplesmente pelo fato de se assentarem nos bancos das igrejas e templos da Terra, cumprindo exteriormente as ordenações que suas religiões prescrevem, revoltando-se intimamente pelo fato de Deus cobrir com o Seu infinito amor todos aqueles que "estiveram sobrecarrregados" nos caminhos da vida, mas que uma experiência tardia levou de volta ao roteiro do bem.

Foi a atitude egoística de homens dessa estirpe, que levou o Cristo a proclamar: "Muitos virão do Oriente e do Ocidente e assentar-se-ão ao lado de Abraão, de Isaac e de Jacó, no reino dos Céus".

Foi a demonstração de falta de amor desses homens, que levou o Cristo a exclamar: "Os publicanos e as meretrizes entrarão no reino dos Céus adiante de vós".

Paulo Alves Godoy

4 - PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO - THEREZINHA OLIVEIRA

Por derradeiro, na terceira história, Jesus coloca como elemento central o maior valor que podemos conceber: um ser humano, alguém como nós mesmos, e narra a comovente história de um pai e seus dois filhos, que examinaremos a seguir.

Um homem tinha dois filhos. O mais moço disse ao Pai:
- Dá-me a parte dos bens que me toca.
E o pai repartiu os seus haveres entre ambos.

Segundo a lei mosaica, entre os judeus, os bens de um casal dividiam-se por herança entre os seus filhos. Mas não igualmente. O primogênito, o nascido primeiro, o mais velho, geralmente gozava os direitos de sucessão na família (tornava-se o seu chefe e representante) e herdava em dobro (uma parte a mais do que seus irmãos). No caso, sendo dois os filhos, a divisão seria em três partes: uma terça parte para o mais moço e as outras duas partes eram do irmão mais velho.

O pedido do mais moço, dá-me a parte dos bens que me toca, é típico dos muito jovens. O jovem anseia pela liberdade de ação, por fazer o que quiser, sem controle de ninguém. Capacidade para gerir o patrimônio? Acha que tem. Responsabilidade? Ainda não pensou nisso. Não avaliou se custou ao pai produzir e juntar os bens, nem para que, como e quando devem ser usados. Só entende que tem direito a uma parte desses bens e deles quer usufruir livremente.

'E o pai repartiu os seus haveres entre ambos. Costumava ser pela morte dos pais que os filhos herdavam e o pai ainda não morrera.. Há pais que seguram demais a herança e acarretam problemas entre os seus descendentes e herdeiros. Não era assim o pai da parábola. Além de justo, revela-se bom e generoso, pois acedeu, ainda em vida, em calcular o que caberia a cada filho e entregar ao jovem a sua parte.

Poucos dias depois, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para um país longínquo.

Não demorou nada, poucos dias, para o moço abandonar a casa do pai. Natural, era jovem, inexperiente... E, assim que se viu na posse de seus bens, saiu, se aventurou, partiu para um país longínquo. Quase podemos visualizar a figura do jovem na estrada. Lá vai ele! Nos alforjes carregados, leva a sua parte da herança. E até lhe desejamos: — Aplique acertadamente, moço, e manterá suas posses. Quem sabe poderá, até, multiplicá-las!
Mas ele era jovem, inexperiente...

E ali desperdiçou os seus bens...

Ah, em desregramentos, excessos de toda sorte! Com tal comportamento, não há dinheiro que chegue, saúde que resista, situação social que não se abale.

Quando já havia dissipado tudo,
grande fome assolou aquele país e
ele começou a passar privações.

Fazendo o que queria, porque queria, como e quando queria, esbanjou tudo! Em consequência do mau uso de sua liberdade, veio o momento difícil e começou a passar privações...

Então, pôs-se a serviço de um dos habitantes do país.

Subordinou-se a outrem, perdeu sua autonomia. Pôs-se a serviço. De quem? De um dos habitantes daquele país. Mas era um país longínquo, afastado, distante...Como seriam os seus habitantes? Não como os judeus. De sentimentos e costumes muito diferentes dos que o jovem conhecera na casa de seu pai

...o qual o mandou para seus campos a guardar porcos.

Naquele país longínquo, dissipou todos os seus bens. Gastou tudo, tudo! Sem controle nem proveito. Por isso é denominado de pródigo, ou seja, esbanjador, perdulário.
Como foi que gastou tudo tão depressa?

Um trabalho como outro qualquer? Não para os judeus. Para eles, o porco era um animal impuro, por se alimentar de sobras de comida, de coisas podres, o que quer que satisfaça a sua voracidade, e sua carne não deveria ser comida. Os judeus não lidavam com esse animal. Quem criasse ou guardasse porcos não poderia, sequer, entrar no Templo de Jerusalém, e só poderia casar com mulher da mesma profissão. Guardar porcos era, pois, a condição mais aviltante a que um judeu poderia chegar. E nessa condição se encontrava o jovem da parábola, no ápice da degradação!
Trabalhando, fazia jus a um salário, certamente muito pequeno, pago diariamente mas somente ao fim da jornada de trabalho. Durante o dia, o moço deveria sentir fome.

Aí, muito desejaria ele se fartar com a comida que os porcos comiam mas ninguém lhe dava.

Era pago para cuidar dos porcos, não para comer a comida deles. Dos porcos, o dono tinha cuidados, pois lhe rendiam algo; com o moço não se preocupava, era apenas um serviçal.
Em que dolorosa situação estava o moço judeu! A narrativa de Jesus deveria estar causando grande impacto, emocionando aos seus ouvintes.

Afinal, caindo em si, o moço disse:
Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura e eu aqui estou morrendo de fome!

Afinal! Depois de muito sofrer, o moço analisou sua triste situação, lembrou como era diferente na casa de seu pai; lá, nem mesmo um simples servo passava fome.
Adiantaria ficar se lamentando, se acusando? Pensou no que fazer para sair daquela situação.

Levantar-me-ei, irei a meu pai e lhe direi:
- Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como a um dos teus empregados.

Uma decisão acertada e corajosa. Baseada em arrependimento sincero e muita humildade.

E levantándose foi ter com o pai....

Raciocinou, compreendeu, decidiu e agiu. Se não agisse de acordo com o que entendera, continuaria lá, na mesma situação, apesar de já estar arrependido.

O moço não teve medo do pai. Conhecia-o, sabia que era bom. Levantou-se e se pôs a caminhar de volta para casa. . "

Vinha ele ainda longe quando o pai o viu...

Não havia concluído a caminhada de retorno, estava ainda longe, mas o pai o viu! Como? Olhava a estrada, pensando nele, esperando-o. Quando o viu, lá Ionge, vindo pela estrada, em andrajos, os passos trôpegos, aspecto abatido...

...e tomado de compaixão, correu-lhe ao encontro, abraçou o e o beijou.

Que atitude terna e amorosa Jesus põe no pai da parábola!

E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti. E já não sou digno de ser chamado teu filho.

Estava cumprindo o que, intimamente, se prometera: demonstrar seu arrependimento. Às vezes, prometemos e não cumprimos... Humildemente, ia pedir ajuda, nova oportunidade. Conforme o discurso que preparara, ainda iria dizer: Trata-me como a um dos teus empregados.

Mas o pai disse aos seus servos:
- Trazei depressa a melhor roupa e o vistam. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés;

O pai não o deixou terminar o discurso e, de imediato, atendeu as maiores carências do jovem, restaurando-o no seu verdadeiro estado: o de filho. Veste e anel de família lhe devolviam a identidade e o valor, sandálias lhe protegiam os pés feridos na caminhada. E fez mais!

Trazei, também, um novilho gordo, matai-o, comamos e regozijemo-nos...

Era costume judeu manter um novilho cevado, gordo, e matá-lo numa grande ocasião, a fim de demonstrar alegria, ou para homenagear pessoa importante na sua chegada.
Por que fazia o pai tanta festa e demonstrava tanto contentamento?

Porque este meu filho estava morto, e reviveu. Tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.

Saibamos cultivar alegria com o bem que nos suceda.

E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio e chegou perto da casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
- Veio teu irmão; e teu pai matou o novilho gordo porque o recebeu são e salvo.

Entrou em cena o filho mais velho. Seria de se esperar que fosse mais experiente, mais maduro. Porém, informado de que o irmão voltara são e salvo e por isso o pai estava alegre, qual a sua reação: alegrou-se, também?

Mas ele se indignou, e não queria entrar.

Não gostou e demonstrava seu descontentamento, com a recusa de entrar na casa.

E, saindo o pai, instava com ele.

O pai veio insistir com o filho mais velho para que entrasse. Amava os dois, queria ambos em sua casa.

Mas, respondendo ele, disse ao pai:

Vai explicar do que não gostou, porque está indignado.

Eis que te sirvo há tantos anos sem nunca transgredir o teu mandamento e nunca me deste nem um cabrito para alegrar-me com os meus amigos.

Começa enunciando como é bom e as suas qualidades: não se ausentou, sempre cumpriu as ordens do pai com perseverança (há tantos anos). E se queixa de que não recebeu nenhuma compensação especial.

Vindo, porém, este teu filho que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o novilho gordo.

Aponta as falhas do irmão, os prejuízos que causou. Acha injusta a comemoração especial e honrosa pelo seu retorno. Parece-nos justa sua reclamação? Sim, se o nosso senso de justiça for duro, como olho por olho, dente por dente. Mas, nesse critério de justiça dura, o pai poderia dizer: Serviu obedientemente? Não fez mais do que seu dever. Não lhe dei um cabrito!... Quantos você já comeu nesta casa em que participa de tudo? Não era seu dever se alegrar com a recuperação de seu irmão? Em vez disso, fica lhe apontando as faltas!

Mas o pai não é dessa justiça dura e fria. Amoroso, quer que o filho mais velho compreenda e sinta como ele, por isso lhe fala:

Filho, tu estás sempre comigo e todas as minhas coisas são tuas. O teu irmão estava morto e reviveu, tinha-se perdido e foi achado. Era justo alegrarmo-nos e folgarmos.

Ou seja, você partilha de tudo, sempre, aqui comigo. Seu irmão, porém, experimentou muitas dores e carências. Somente agora, ele está podendo se sentir bem de novo, volta a gozar a felicidade de estar em casa Devemos nos alegrar!

O irmão mais velho não pensara nem sentira nada disso. Em sua justiça (egoísta, invejosa, agressora), queria a condenação do outro e a sua própria exaltação.

Não era assim que estavam agindo os escribas e fariseus? Diziam-se mais conhecedores e cumpridores das leis divinas mas não tinham amor nem piedade para com seus irmãos ignorantes, fracos e infelizes. Julgavam mal a atitude benevolente de Jesus para com os que se haviam desviado do bom caminho, e murmuravam: Ele recebe pecadores e come com eles. Não entendiam que o Filho do Homem veio: salvar o que estava perdido, chamar ao arrependimento não os justos mas os pecadores, curar não os sãos mas os enfermos. (Lucas 19:10 e Mateus 9:12/13)

No simbolismo das três parábolas: da dracma e da ovelha perdidas, bem como na do filho pródigo, Jesus acabara de dar à murmuração dos escribas e fariseus, a mais cabal, clara e luminosa das respostas: manda o amor que se procure resgatar quem está espiritualmenie desorientado.

Aplicando a parábola à nossa atualidade

O Pai e os filhos

O pai é Deus, a inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas, o Criador. Os filhos somos nós, os espíritos, seres que Deus criou à sua imagem e semelhança, quanto à natureza espiritual (inteligência, sentimento e capacidade de ação), filhos aos quais ama e de que cuida com sabedoria, nos prevendo e provendo do necessário.

A herança

Nossa herança é o Universo inteiro (mundos, coisas e seres), tudo o que Deus criou e, como pai generoso, partilha com seus filhos, nós, os seres espirituais, seus herdeiros e co-herdeiros com Jesus Cristo, no dizer do apóstolo Paulo (Romanos 8:17).

Espíritos imortais a progredir incessantemente, já vivemos muitas vidas corpóreas, renascendo em épocas, lugares e povos diversos, ocupando, em cada existência, esta ou aquela condição. Ao fim do processo evolutivo, todos teremos experimentado, igualmente, as mais variadas situações que a vida humana pode oferecer. Agora, neste momento, estamos numa determinada situação.

Qualquer que ela seja, é tão útil e necessária ao nosso progresso intelecto-moral como as que já vivemos em encarnações passadas ou as que ainda iremos viver, em encarnações futuras.

A vida no Universo e suas imensas possibilidades! Eis o patrimônio divino de que todos nós podemos usar, usufruir, cada qual a seu tempo, cada qual na medida de sua evolução, conforme o que já é capaz de pensar, sentir e agir, mas que nenhum de nós pode deter em suas mãos indefinidamente, como se fosse de sua propriedade pessoal, particular.

Que estamos fazendo com o que temos, sabemos e podemos? Como difere de pessoa para pessoa o aproveitamento! No entanto, o que estamos fazendo com os bens de que dispomos é o que nos importa, pois estará trazendo resultados desiguais (bons ou maus) e definindo o nosso futuro espiritual. A cada um segundo suas obras. (Mateus 16:27)

Dois são os filhos

Por que não agem os espíritos igualmente? Não tiveram todos um mesmo princípio, tendo sido criados simples e ignorantes? Não evoluem por um processo semelhante, através de experiências corpóreas e no Além? Não rumam todos para uma mesma destinação, a perfeição e a felicidade? Sim, mas não se individualizaram todos na mesma época, há espíritos mais "moços" e mais "velhos". Nem todos aproveitaram igualmente as oportunidades, há espíritos mais e menos evoluídos. Essa diferença de idade e experiência entre os espíritos, fica bem simbolizada na parábola por serem dois os filhos, cada qual agindo conforme o seu grau de desenvolvimento.

O mais moço

O espírito pouco evoluído, inexperiente, imaturo, anseia dispor livremente de ação no Universo. Quer ter, usar, gozar logo tudo que puder.

Já saberá por que e para que Deus criou o Universo? Como, quando, quanto e para que deve esse patrimônio divino ser usado? Já terá plena consciência de que seus atos produzem efeitos pelos quais é responsável?

Provavelmente, não. Mas, como o filho mais moço da parábola pedia a seu pai, dá-me a parte dos bens que me toca, o espírito pouco evoluído pede a Deus: Deixa eu viver como eu quero. E Deus deixa! Permite ao espírito, mesmo inexperiente, no plano espiritual ou como encarnado, usar livremente das situações que a vida enseja, na medida de suas próprias possibilidades. Porque o espírito precisa se desenvolver e só poderá progredir intelectual e moralmente se exercitar livremente suas potencialidades.

Não há perigo de ele retroceder? O que já desenvolveu, não perde mais. Nem de degenerar? Nossa essência espiritual não degenera. E se exorbitar prejudicialmente com seus atos? Os mecanismos naturais das leis divinas mantêm a ação do espírito em limites providenciais. E a chance de ele acertar, produzindo o bem, é grande; bastará aplicar corretamente os bens recebidos.

Saindo da casa do Pai

Entretanto, quando o espírito pouco evoluído se sente com liberdade de ação sobre os bens da vida, podendo escolher por si mesmo o rumo a dar para a sua existência, o que acontece, geralmente? Como o jovem da parábola, ajunta tudo o que é seu (vale-se de tudo que é ou tem ao seu dispor) e deixa a casa do Pai (afasta-se do que é espiritual). Quando encarnamos nesta nova existência: recebemos um corpo novo, família, passamos a ter acesso a tantas coisas e pessoas!... E o que fizemos com tudo isso?

Pela estrada da vida corpórea, lá vai o espírito pouco evoluído! Está cheio de vitalidade, pleno de forças, rico de tempo! Mas se afastando, cada vez mais, do que é espiritual e rumando, voluntariamente, para o materialismo, país longínquo, muito distante da espiritualidade. Começa a viver só para a matéria, buscando conquistar coisas terrenas mais e mais, lançando-se às sensações físicas, no afã de gozar tudo dos sentidos. Acredita que, no campo da vida terrena, pode fazer o que quer, porque quer, como e quando quer, sem qualquer consequência, sem responsabilidade. Deixa-se encantar pelas ilusões e arrastar pelas paixões...

Como gasta nisso suas energias, fluidos, corpo e tempo! Gasta loucamente, tudo! tudo! Sem nada produzir de realmente proveitoso para o seu eu imortal. Que grande pródigo, esbanjador dos recursos divinos, é o espírito que vive apenas para a matéria e somente para o momento que passa!

A subordinação e a fome

Mas, com os desvios e excessos materiais e morais: as energias se exaurem sem que se faça a devida reposição; a saúde física se desgasta e abala; os fluidos perispirituais se alteram prejudicialmente.

Espíritos inferiores se aproximam do esbanjador, atraídos por seus pensamentos, sentimentos e atos também inferiores, e passam a influenciá-lo dominadora e perniciosamente, a ponto de se tornarem seus amos e ele seu servo, levando-o a viciações físicas e espirituais: prostituição, crueldades e violências, práticas indignas e criminosas... Tudo muito impróprio de um filho de Deus, coisas "imundas" e tão aviltantes para o espírito humano como degradante era, para o jovem judeu, cuidar de porcos.

O tempo passa, o desencanto chega, a insatisfação, o desânimo... Complexo de culpa, tristeza, insegurança, medo, angústia... Uma indizível sensação de esvaziamento (orgânico e psíquico). É a fome da alma!

Que podem os seus comparsas e dominadores oferecer para lhe preencher esse vazio na alma? Nada! Nem mesmo lhe prestam um mínimo daquela atenção que dão aos seus "porcos" (seus interesses impuros). Para eles, a pessoa dominada é, apenas, um instrumento de que se servem para os seus propósitos.

Pobre espírito esbanjador de seus valores divinos, agora subjugado a seres e práticas inferiores! Maltratado, sofredor, faminto de fé, de paz, de amor!

Quanta gente há, neste mundo, vivendo assim em dolorosa e infeliz subjugação espiritual! E são nossos irmãos, filhos de Deus, seus herdeiros e co-herdeiros com Jesus Cristo!

Caindo em si

Depois de muito sofrer (só então!), o moço da parábola, afinal, caiu em si. "Quem não vem pelo amor, vem pela dor", a qual tem função providencial. A dor física resulta da sensibilidade do sistema nervoso e nos ajuda a identificar e reconhecer, no próprio corpo, limites e carências, qual região está afetada; alerta-nos para que tomemos providências necessárias à restauração do bem-estar. A dor moral vem da nossa sensibilidade como espíritos e nos alerta sobre o que nos esteja trazendo prejuízos, quais as nossas carências, a fim de que atendamos ao necessário, corrijamos o erro, retomemos o equilíbrio.

Pessoas há que, ao caírem no sofrimento, ficam revoltadas e querem culpar a Deus pelos seus padecimentos. Foi o pai que colocou o jovem em situação difícil e dolorosa, à mercê de criaturas sem piedade? O pai só lhe deu bons valores. Ele é que não os soube empregar, desgastou-se em atividades inferiores e se entregou à dependência de criaturas más. As condições do meio ambiente o levaram a isso? Ele é que se afastou da conduta correta, aceitando a má influência sem lhe opor resistência, como poderia e deveria fazer. As condições do ambiente sugerem, estimulam, mas não obrigam. Jesus desafiava aos maus: Quem me convence de pecado? (João 8:46)

A vida terrena enseja certas provas e lutas, que são naturais nela e apropriadas ao nosso estágio evolutivo. Não constituem fardo pesado demais para nossos ombros. Nós as podemos evitar, superar ou suportar. Quando, porém, nos afastamos da lei de Deus, caímos em situações mais difíceis que o normal, muito dolorosas e angustiantes.
Por desvios assim, nesta ou em encarnações anteriores, é que surgiram os graves problemas que ora enfrentamos, o desencanto e a insatisfação que costumamos sentir. A fome na alma!

Comparando

Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura e eu aqui estou, morrendo de fome! refletia o filho pródigo. Vivendo segundo as leis de Deus, a mais simples criatura, o mais humilde servidor espiritual, sempre estará suprido, abastecido do que é essencial para a vida do espírito: energias, fluidos bons, fé, esperança, amor e paz. Na casa do Pai, há trabalho, disciplina, deveres, responsabilidades mas, fome na alma? Jamais!

E decidindo

Na parábola, Jesus aponta a atitude correta para quem, sofrendo, teve a consciência despertada: Arrependimento sincero, humildade, propósito de reaproximação espiritual. Sem medo de Deus, confiando em sua bondade.

Cairbar Schutel (Parábolas e Ensinos de Jesus), comenta que, se, às vezes, perdemos a condição de filho, Deus nunca perde a condição de Pai de todas as criaturas. Como e onde estejam os espíritos, seus filhos, na vida terrena ou no espaço, neste planeta ou em outro, num corpo de carne ou em corpo espiritual, o Pai a nenhum despreza, a nenhum abandona, a todos sempre ama.

Agindo

Reerguer-se e caminhar de retorno compete à pessoa. Ninguém pode fazer isso por ela. É do seu livre-arbítrio, depende de sua vontade e esforço. Nos centros espíritas, por exemplo, tudo está aparelhado para a prestação de assistência espiritual às criaturas. Mas a pessoa tem de querer receber essa assistência e ir mesmo até lá, vencendo dificuldades, superando tentações. E, estando na casa espírita, deve prestar atenção às orientações doutrinárias e evangélicas que ali ministram, procurando vivê-las e colaborar nas atividades do bem.

Colocando no pai da parábola a atitude compassiva e amorosa para com o filho pródigo, Jesus quer nos assegurar que Deus nunca rejeita nem condena as suas criaturas, aguarda sempre que o filho que se extraviou queira voltar. E todos, um dia, voltam ao bem, ao regaço do Pai. A obra divina não se perderá. Comenta Cairbar Schutel, na mesma obra: "Não há falta por maior que seja, que não se possa reparar; assim como não há nódoa por mais fixa que pareça que não possamos apagar. Tudo se retempera, tudo se corrige, tudo se transforma, do pequeno para o grande, do mau para o bom, das trevas para a luz, do erro para a verdade! Tudo se lipa, alveja e reluz ao atrito do fogo sagrado do progresso, tudo se aperfeiçoa, tudo evolui, todas as almas caminham para Deus!".

E, quando a pessoa inicia a sua parte, Deus vai-lhe ao encontro, se apressa em ampará-la no seu retorno, abrindo-lhe com todo o amor as portas da regeneração, facultando-lhe, de novo, o que lhe seja necessário para o grandioso trabalho do aperfeiçoamento.

Leis divinas incessantemente transbordam o bem, em todo o Universo. Leis e forças estão prontas, ao dispor dos seres espirituais, filhos de Deus. Corretamente acionadas, logo produzem bons efeitos. Pedi e se vos dará, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á... (Mateus 7:7).

Nas reuniões mediúnicas, os bons espíritos acolhem em nome de Deus os espíritos sofredores, restauram-lhes as energias, recompõem-lhes o perispírito, confortam-nos e lhes fortalecem o ânimo. E' o fazem como quem mata o novilho gordo, ou seja, em clima de festa espiritual.

Por que a alegria?

Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido e foi achado. Espírito se perde? Sim, quando, no caminho da evolução se desvia, complicando o próprio destino. E morre? Sim, quando se entrega ao materialismo, porque se anula quanto à atividade espiritual superior, não participa das belezas da vida espiritual. E como se, em espírito, não estivesse vivendo. Deixai que os mortos enterrem os seus mortos. (Mateus 8:22) Mas se volta a agir acertadamente, revive! Se de novo pensa e sente o bem, é achado! Meditemos e oremos e cultivemos bons pensamentos e sentimentos. Eles produzem efeitos fluídicos, vibrações, sinais, que evidenciam o que se passa no íntimo da criatura.

E assim por essa movimentação íntima que, nas regiões trevosas do Além, caravanas socorristas identificam os espíritos que já estão em condições de melhora e procedem ao seu resgate. E com que alegria o fazem! Há mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por 99 justos que não precisam de misericórdia. (Lucas 15:7) Céu são os planos elevados da espiritualidade. Os bons espíritos que o habitam trabalham para que se cumpra, em si mesmos e nos outros, a vontade de Deus. E a vontade de Deus é que todos os seus filhos evoluam, alcançando a perfeição e, com ela, a felicidade decorrente.

Justo é o espírito que está progredindo bem, agindo de acordo com o programa evolutivo. Ele não precisa de misericórdia, prossegue feliz, ao amparo das leis divinas. Isso é bom e há natural contentamento no Além, pelo seu bem-estar e seu progresso. Pecador é o espírito que está desviado do bem. Forçosamente em sofrimentos, porque sua inércia e seus erros provocam consequências infelizes e dolorosas. Mas, se começar a reagir acertadamente, deixará de sofrer, voltará a se sentir bem. Nele recomeçará a ser alcançado o objetivo divino de progresso e felicidade para todos os seres. Não é motivo de grande alegria espiritual? Sim, para quem entende os desígnios divinos e com eles concorda, quem tem amor e compaixão para com o seu semelhante.

Discordando

Mas o filho mais velho não entendia assim. Achava que, por haver errado muito, por haver se comportado mal, o irmão nada mais merecia de bom, enquanto ele próprio, que se comportava bem, merecia recompensa e ainda nem recebera. Por isso, se indignou, e não queria entrar em casa.

Ainda bem que é Deus que nos julga e não os homens, porque Deus nos avalia com justiça mas, também, com misericórdia. Que todo aquele que se dispõe a recomeçar seja acolhido com amor e alegria! Essa é a vontade divina. E os bons Espíritos a cumprem sempre na Terra e no Céu.

Há quem não consiga entender nem aceitar a ideia de um Deus bondoso assim. Preferem um Deus vingativo, que jamais perdoa os pecadores e os condena a sofrerem por toda a eternidade. Pensam: Tivemos de nos esforçar muito para servir a Deus, cumprindo as suas leis. E os pecadores, que erram tanto, vão ser perdoados, ajudados, receberem tanto quanto nós? Não é justo!

Quem pensa assim, também está se colocando fora da casa do Pai, por discordar da lei de amor universal. Deus, porém, que ama a todos os seus filhos, também o ama e procura trazê-lo de volta a uma plena convivência. Filho, tu estás sempre comigo e todas as minhas coisas são tuas.

Quem segue, fiel, as leis divinas sem se afastar do sentido espiritual da vida, está sempre com Deus, sob sua proteção; na medida do que já sabe e pode, está desfrutando do divino patrimônio universal, sem que nada lhe falte espiritualmente: segurança íntima, paz na alma, progresso constante. De que se queixa? Que mais poderia desejar? O Senhor é meu pastor, nada me faltará. (Salmos 23:1)

Seu irmão errou muito, é verdade, mas, também, muito sofreu. Dores e males que você nunca experimentou! Somente agora está retornando ao equilíbrio. Vai se reajustar, recuperar, voltar a progredir, produzir o bem! Não é motivo para que nos alegremos?

Que filho somos?

O pródigo? Mergulhados no materialismo e no imediatismo, gastando sem controle e sem proveito maior energias da alma, recursos espirituais, tempo e vida? Arrependamo-nos e, quanto antes, iniciemos o retorno à casa do Pai, procurando melhor ajuste com as leis divinas.

O irmão mais velho? Correto mas impiedoso, sem compaixão para com quem erra e sofre? Aprendamos com a bondade divina a acolher bem os que estão querendo voltar (na família, na comunidade).

Não é endossar atos maus ou pactuar com erros nem permitir que invadam nosso ambiente com hábitos maus. Mas é:

• ajudar a que pensem sobre a sua própria situação;

• mostrar que podem se reerguer moralmente;

• estimular o esforço pelo reequilíbrio;

• amparar com amor quem está fazendo a longa, difícil e trabalhosa viagem de volta, até que recupere a dignidade de filho de Deus, revestindo-se novamente de valores espirituais.

Alegremo-nos!

E quando alguém estiver conseguindo sentir de novo o bem-estar na alma porque voltou, enfim, à casa do Pai, ao clima de fé, paz e amor, onde, por mercê divina, já estamos habitando, alegremo-nos todos! Festejemos espiritualmente! Este filho de Deus, este irmão nosso, estava morto na inércia e no erro e reviveu para a prática do bem! Estava perdido nos anseios e sensações inferiores e foi achado, pelo seu desejo de redenção espiritual! Louvado seja Deus!

THEREZINHA OLIVEIRA
CAIR EM SI

- Parábola do Filho pródigo:
Cair em si

Lucas, 15:11-24

Tinha dois filhos aquele homem rico, senhor de muitas terras...
Um dia o mais moço, certamente cansado das disciplinas a que era submetido na casa paterna, disse-lhe:

- Meu pai, quero minha parte na herança.

Bem merecia severa reprimenda por sua petulância. Era herdeiro, não o dono.
Sabiamente, porém, o pai considerou que era chegado o tempo do filho ter suas próprias experiências.
Deixaria o aprendizado suave no lar e teria mestra bem mais rigorosa - a Vida.
Segundo a lei, quando eram apenas dois filhos, o primogênito herdava dois terços dos bens.
Assim, o filho mais moço recebeu um terço, juntou seus pertences e partiu para um país distante, o mais longe possível.
Não queria os olhos paternos sobre ele.
Ansiava por desfrutar plena liberdade.
Engano frequente, próprio da juventude - desprezar a experiência dos mais velhos.
Logo se cercou de amigos... do seu dinheiro.
Viveu prodigamente, gastando muito sem economizar nada, sem investir, empolgado pelos prazeres imediatistas.
Em pouco tempo dissipou seus haveres.
Com eles perdeu os supostos amigos.
Viu-se só, sem recursos.
Era época de depressão, país assolado pela fome.
Depois de muito procurar, tudo o que conseguiu foi um serviço no campo - guardador de porcos. Suprema humilhação para um judeu - cuidar de animais considerados "imundos" em suas tradições religiosas.
Vivia miseravelmente, com inveja até dos suínos sob seus cuidados. Bem tratados, recebiam rações abundantes de alfarroba, uma vagem adocicada e nutritiva.
Quanto aos servos, chegavam a passar fome. Eram descartáveis... Sobrava a oferta de mão-de-obra.
Afinal, depois de muito sofrer, o jovem caiu em si.
Reconheceu que cometera um grave engano.

- Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui estou, morrendo de fome!

E decidiu:
- Regressarei à casa de meu pai. Chegou até a pensar no que diria:
- Pai, pequei contra o Céu e diante de ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um de teus empregados.

Deixou a fazenda e partiu.
Viagem longa e sofrida, sem dinheiro, sem acompanhantes, sem serviçais, sem carruagem... Transpôs a imensa distância a esmolar alimento e pousada.
Finalmente, depois de muito caminhar, chegou ao fim da jornada. Exausto, faminto, roupas esfarrapadas, cabelos e barba em desalinho, mais parecia um mendigo. Coração a pulsar agitado, emoção incontida, aproximou-se do lar.
O pai certamente fora avisado de sua presença, pois veio correndo ao seu encontro. Sem uma palavra de admoestação ou queixa, deu-lhe apertado abraço e o beijou carinhosamente.
O filho, em lágrimas copiosas, extravasando arre¬pendimento e saudade, ajoelhou-se.
- Pai, pequei contra o Céu e diante de ti! Já não sou digno de ser chamado teu filho...

Adivinhando que o jovem pretendia submeter-se à suprema humilhação de ser acolhido como simples empregado, o pai não o deixou prosseguir. Ergueu-o de encontro ao peito e, transbordante de felicidade, dirigiu-se a seus servos:

- Trazei-me depressa a melhor túnica e a vesti em meu filho; ponde-lhe o anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei também o novilho cevado. Preparemos uma festa. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.

A melhor túnica, longa, de fino linho, era reservada para acontecimentos especiais.
O anel, com pedra preciosa engastada, era usado pelas pessoas de classe social elevada.
Os calçados distinguiam os senhores dos servos. Estes andavam descalços.
Aquelas recomendações significavam que o jovem não fora rebaixado a simples servo.
Era o filho muito amado de retorno ao lar.

***

Temos aqui a famosa Parábola do Filho Pródigo, a mais notável de quantas Jesus contou.
E tão bela quão simples. Fácil de ser interpretada.

O pai generoso é Deus. Seu filho, o ser humano.
No estágio de evolução em que nos encontramos, alma adolescente, imaturos e orientados pelo egoísmo, malbaratamos as dádivas divinas.
Tomamos nossa herança, simbolizada pelos valores da inteligência e o tesouro do tempo, e nos afastamos da casa paterna, isto é, da disciplina e do discernimento, que sustentam a comunhão com Deus.
Empolgados por enganosas promessas de prazer, conforto, riqueza e poder, com que o mundo nos acena, resvalamos para o imediatismo terrestre, na rotina do comer, dormir, vestir, trabalhar, procriar, divertir-se...
Avançamos por estéreis campos de indiferença em relação aos objetivos da vida e dissipamos as oportunidades de edificação como quem joga fora imensa fortuna.
Quando surgem as atribulações, os períodos de crise, de dificuldade, em que a vida testa nossas aquisições ou exige a reformulação de nosso comportamento, ei-nos à semelhança do homem imprevidente, que não se preparou na abundância para os dias de escassez.
Espírito vazio de ideais, coração atrelado às sombras, sentimo-nos quais mendigos de paz, atormentados por dúvidas e aflições, em clima de infelicidade crônica.
E invejamos pessoas que sob o ponto de vista humano parecem inferiores - têm menos dinheiro, são incultas, estão em posição social humilde -, mas detentoras da única riqueza autêntica, pela qual daríamos tudo o que temos: um coração em paz!
A semelhança do filho pródigo, poderíamos considerar:

- Quantos humildes servidores de meu pai têm o pão da tranquilidade, enquanto eu me alimento de inquietação.
E que eles permanecem na casa paterna
Estão em comunhão com o Pai, a exprimir-se nos valores do sacrifício e da renúncia, do trabalho e da abnegação.
Cumprem fielmente seus deveres, particularmente o de comportarem-se como filhos do Altíssimo.

***

Para saber a que distância estamos do Senhor da Vida, basta examinar nosso íntimo.
Se há inquietação, tensão, angústia, insatisfação, tristeza, depressão, desajuste, é porque permanecemos afastados da casa paterna.
O filho pródigo caiu em si, segundo a expressão evangélica, isto é, reconheceu seus enganos, a necessidade de procurar o pai.

Glorioso e decisivo momento!
Felizes os que caem em si, os que se dispõem a mudar de rumo enquanto no trânsito terrestre.
Multidões o fazem apenas no plano espiritual, depois de prolongados padecimentos. Há, ainda, Espíritos que se demoram séculos em regiões sombrias, por não reconhecerem sua miséria moral, nem decidirem caminhar ao encontro do Criador.

***

Imperioso que esse despertamento ocorra durante a experiência humana, a fim de que a morte não nos imponha penosas surpresas. É o primeiro passo para que nos habilitemos à renovação, agilizando nossa jornada para Deus.
O caminho delineado está no comportamento religioso. Não é por acaso que o termo religião, do latim religare, significa ligar ou religar.
Esqueçamos o aspecto formal da religião, o culto exterior, a mera frequência aos templos.
Privilegiemos o conteúdo moral, a vivência dos princípios, cuja essência está nas lições ensinadas e exemplificadas por Jesus.
Diz o Mestre, em O Sermão da Montanha (Mateus, 5:8):

Bem-aventurados os que têm limpo o coração, porque verão Deus.

Sinalização perfeita, na singeleza do ensinamento. Caminhar para Deus é depurar o coração, eliminando nódoas que se sustentam nos sentimentos inferiores que caracterizam a Humanidade, no estágio evolutivo em que nos encontramos.
Podemos até avaliar nossos avanços nessa direção, considerando algumas situações:

Diante dos filhos. O homem comum:
- São indisciplinados. Precisam de castigo.
O homem puro:
- São imaturos e inseguros. Precisam de carinho.

Diante dos pais. O homem comum:
- Não sabem nada.
O homem puro:
- Tenho muito a aprender com eles.

Diante do familiar em desajuste.
O homem comum:
- E' um imbecil, tresloucado!
O homem puro:
- É o irmão que pede paciência.

Diante do pedinte.
O homem comum:
- Mais um malandro!
O homem puro:
- Em que posso ajudar?

Diante da ofensa.
O homem comum:
- Vou comer-lhe o fígado!
O homem puro:
-Não foi nada.

Diante das atribulações.
O homem comum:
- Estou farto!
O homem puro:
- Poderia ser pior.

Diante da enfermidade.
O homem comum:
- É uma tortura insuportável!
O homem puro:
- Abençoado embelezamento para a alma!

Diante de uma falta.
O homem comum:
- Negarei até a morte!
O homem puro:
- Assumo minha responsabilidade!

Diante da maledicência.
O homem comum:
- .. .E tem mais!
O homem puro:
- Não me compete julgar.

Diante da morte.
O homem comum:
- Tenho medo!
O homem puro:
- Estou pronto!

Dá para perceber que estamos mais perto do homem comum.
Não obstante, conquistaremos a pureza ideal para o encontro com Deus, se estivermos dispostos a usar esse tira-manchas infalível - o Evangelho.
É preciso "esfregar" com perseverança e vigor esse "detergente" infalível que depura nossos pensamentos, palavras e ações.
E como nos receberá o Todo-Poderoso. Com sanções severas? Com admoestações exasperadas? Com o rigor do patrão intransigente diante do servo em falta?
Não! Deus é nosso Pai e já nos amava antes que o conhecêssemos.
A parábola é muito clara a esse respeito.
Júbilos celestes marcarão nosso encontro com o Senhor que, na intimidade de nossas almas, nos procura, nos fala, nos chama, nos guia, nos espera!

Richard Simonetti


CAIR EM CIMA

Cair em Cima

Lucas, 15:25-32

A Parábola do Filho Pródigo tem um desdobramento, nem sempre observado, mas igualmente importante.
Durante a comemoração pelo retorno do filho caçula, o mais velho, que estava no campo, retornou ao lar.
Aproximando-se, ouviu música e o burburinho festivo.
Chamando um dos servos, perguntou-lhe o que estava acontecendo.

- Teu irmão voltou e teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou são e salvo.

Indignado, ele não quis entrar.
Vendo-o, o pai aproximou-se e insistiu para que participasse da festa.
Raivoso, o primogênito "caiu em cima" do genitor, a reclamar:
- Há tantos anos que eu te sirvo, e nunca transgredi uma ordem tua, e jamais me deste um cabrito para festejar com meus amigos. No entanto, veio esse teu filho, que devorou teus bens com meretrizes, e mataste para ele um novilho gordo!

O pai lhe disse:
- Filho, tu sempre estás comigo e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso fazer festa e alegrar-nos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi reencontrado.

Há aqui o velho problema do egoísmo, móvel das ações humanas, origem primordial de todo o mal que há no Mundo.
Sua ação é terrível.
É capaz de conturbar a instituição mais sagrada do mundo - a família.
O sangue fala alto quando envolve os desafios da existência, o enfrentar a adversidade, os problemas, as dores... O grupo familiar faz-se unido, coeso, um por todos, todos por um!
Mas, quando entra o interesse pessoal, principalmente de ordem pecuniária, envolvendo bens materiais, salve-se quem puder!
Sucedem-se brigas e discussões. O familiar toma-se inimigo. Parente vira serpente!
Os tribunais estão lotados de processos envolvendo heranças e divisão de bens.
Nesse vale tudo, os mais fortes, com mais recursos para contratar os melhores advogados e forjar situações favoráveis, acabam levando vantagem, sem nenhuma preocupação com os prejuízos que causam às pessoas do mesmo sangue. E como se não fossem da família.
Observemos como o filho mais velho, dirigindo-se ao pai, refere-se ao mais novo:

... esse teu filho...

Já não era o irmão. Apenas um estranho, um atrevido que vinha apossar-se de seus bens.

***

Num primeiro momento poderíamos dar razão ao filho mais velho. Afinal, permaneceu no lar, obediente ao pai. Deu duro, trabalhou, enquanto o mais novo desfrutava de prazeres, envolvia-se com gente de má vida.
Eis que, depois de ter gasto um terço dos bens da família, atreveu-se a retornar.
Embora o pai tenha comentado que tudo o mais era dele, sempre haveria pressão para que algo de substancial fosse destinado ao caçula, prejudicando-o.
Se analisarmos a questão sob o ponto de vista estritamente humano, considerando a justiça da Terra, o raciocínio está perfeito.
Fez! Que pague!
Se não se comportou como filho, seja servo - com muitos deveres e nenhum direito.
Ocorre que não estamos lidando com a justiça da Terra.
Trata-se da justiça do Céu, que é diferente.
No Sermão da Montanha (Mateus, 5:20), há uma observação basilar de Jesus:

Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus.

A justiça dos escribas e fariseus é a de Moisés: olho por olho, dente por dente.
A justiça proposta por Jesus tem um componente a iluminá-la - a misericórdia.
E aquela justiça que dá a cada um segundo suas obras, mas jamais discriminando o que erra, oferecendo-Ihe reiteradas oportunidades de reabilitação.
Foi essa justiça que o pai usou com o filho pródigo, já suficientemente castigado pelos sofrimentos que enfrentou, na longa jornada de retomo à casa paterna.
Tomou consciência de seus erros, sofreu as consequências, arrependeu-se, dispôs-se a mudar.
Por que, portanto, discriminá-lo?
Curioso como os homens pretendem levar a justiça torta do irmão mais velho Além-Túmulo, com a ideia das penas eternas.
Morreu em pecado, ainda que próximo de nós, ainda que ligado a nós pelo sangue, já não é nosso familiar. Perdeu a humanidade. Que se dane para sempre nas profundezas do inferno!
E onde fica a misericórdia infinita de Deus, revelada por Jesus, que pressupõe infinitas oportunidades de reabilitação?

***

Filha dileta do egoísmo é a inveja, um pecado capital capaz de remeter-nos para as profundezas do inferno, quando a morte providenciar nossa transferência para o Além.
Bem antes disso, ainda em vida, o invejoso costuma sentir-se nele.
Em sua expressão mais simples, inveja é o desejo de possuir o bem alheio e o desgosto por não tê-lo.
Acontece, frequentemente, entre irmãos.
Raras famílias não enfrentam esse problema.
Os pais vêem-se na contingência de agir com muito cuidado no lidar com os filhos, porquanto tudo o que façam por um será cobrado pelos outros. Estão sempre vigilantes, exigindo algo semelhante, sem considerar as circunstancias e as necessidades de cada um.
Tragédias, não raro, acontecem, envolvendo irmãos inconformados.
O primeiro fratricídio da história, irmão que mata irmão, está na Bíblia (Gênesis, 4:1-8):
Caim, com inveja de Abel, achando que o pai lhe dava mais atenção, conduziu o irmão a local ermo e o matou.
Quando Jeová veio perguntar-lhe onde estava Abel, deu de ombros:

-Acaso sou eu o guardião de meu irmão?

Não estava nada preocupado com a sorte dele. Muito menos com o fato de tê-lo assassinado.

A propósito, leitor amigo, proponho-lhe um teste relacionado com o cotidiano, envolvendo a inveja.
Anote os itens em que se enquadre, segundo sua idade e sexo, envolvendo família, sociedade e profissão:

• Família.
O irmão ganha um presente de nossos pais.
a) Festejamos com ele.
b) Ficamos possessos:
- Exijo algo semelhante!

Nossos pais preocupam-se com um filho. Vive aprontando. Não medem dedicação para colocá-lo no bom caminho.
a) Damos a maior força. Precisa de ajuda.
b) Vociferamos:

- Injustiça! Logo esse pilantra é o preferido?!

Nosso irmão vai muito bem na escola. Tem ótimas notas.
a) Vemos nele um exemplo a imitar.
b) Torcemos o nariz:

- É um idiota. Vive debruçado nos livros, sem tempo para viver!

• Sociedade.
A amiga compra belo vestido.
a) Elogiamos sinceramente seu bom gosto.
b) Logo o desvalorizamos:
- Não combina com você. E já notou um defeito nas costas?

Ela se casa com jovem rico, bonito e charmoso.
a) Regozijamo-nos.
b) Ficamos incomodados:
- Não sei o que viu nela!

Nasce o primeiro filho do casal.
a) Ficamos jubilosos.
b) Questionamos o Criador:

- Por que tudo para ela e nada para mim?!

O casamento conturba-se. Vem a separação.
a) Solidarizamo-nos. Sofremos com nossa amiga.
b) Experimentamos uma ponta de satisfação:
- Era muita areia para seu caminhão!

O amigo vai em viagem de férias à Europa.
a) Vibramos com ele. E' uma excursão maravilhosa.
b) Ficamos incomodados:
- Pobre metido a besta!

O amigo constrói bela residência.
a) Consideramos elogiável o seu bom gosto.
b) Fofocamos:
- De onde tirou o dinheiro? Sei não... • Profissão.

O colega de serviço faz amizade com o chefe:
a) Enaltecemos seu bom relacionamento.
b) Destilamos veneno:
- Puxa-saco desavergonhado!

Ele é prestativo e disciplinado.
a) Admiramos sua dedicação.
b) Menosprezamos seu esforço:

- Quer aparecer!

O colega de serviço recebe uma promoção.
a) Vamos cumprimentá-lo. Mereceu!
b) Ficamos indignados:
- Panela de sem-vergonhas! Fui passado para trás!


Se cravamos várias respostas no item "b", estamos mal.
Sempre que nos sentimos incomodados, deprimidos, inquietos, infelizes, irritados com o sucesso alheio, entramos nos perigosos caminhos da inveja.
É preciso mudar, reconhecendo que a felicidade tem muito a ver com a capacidade de ficarmos felizes com a felicidade dos que cruzam nosso caminho.

Richard Simonetti



A GÊNESE ESPIRITUAL DAS DOENÇAS

A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO
DR. INÁCIO FERREIRA
CAPÍTULO 19

"A Parábola do Filho Pródigo", contada por Jesus e anotada apenas no Evangelho de Lucas, capítulo 15, versículos 11 a 32, para mim, é uma das mais belas e significativas. Desde encarnado, tenho me dedicado a estudá-la, em seu sentido profundo, pois que, segundo depreendo, resume toda a trajetória evolutiva do espírito, a partir de sua criação.

Relendo-a com calma, fui, então, efetuando resumidas anotações noutras folhas de papel que fariam parte de meus arquivos. No intuito de tomar o estudo mais didático, a ser utilizado em futuras palestras, reescrevia trechos da Parábola e, logo abaixo, alguns comentários alusivos aos respectivos versículos.
11 Continuou: Certo homem tinha dois filhos;
12 o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte que me cabe dos bens. E ele lhes repartiu os haveres.

O filho mais moço, provavelmente, era adolescente e, portanto, sem qualquer experiência da Vida. Reclamava independência e o Pai não protestou. Ele permutou o determinismo pelo livre-arbítrio. A compreensão em torno do segundo filho, o mais velho, é mais complexa. Subentende-se que ele delibera não sair da companhia do Pai - talvez seja uma alusão aos espíritos que permanecem na condição em que foram criados, ou seja, simples e ignorantes, já que, no final da Parábola, há uma reação de imaturidade espiritual do filho mais velho.

13 Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente.

O filho mais moço ajuntou o que o Pai lhe dera, e não o que havia conquistado a partir do próprio esforço. Quantos filhos não dissipam o que recebem por herança de seus pais? O filho mais moço já começa cometendo um equívoco: reclamando o que, a rigor, não lhe pertencia! Saiu da casa paterna, como quem sai batendo a porta, e vai viver a vida que deseja - em terra distante, imaginando estar longe das vistas do Pai! Em tradução metafísica, deixando o Plano Etéreo, ele reencarna! Mergulha, de cabeça, na experiência da reencarnação! Até então, ele não possuía carma, estava isento!

14 Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade.

Aqui tem início o carma do filho mais moço: ele sofrerá as consequências de sua atitude. Tendo tudo consumido, na vida dissoluta que passou a levar, fica sem nada e não encontra, naquele "país", com o que se alimentar. Longe de Deus, o espírito sente fome - fome de luz! O jovem começa a se inquietar, mas ainda não o suficiente para retroceder. O Pai, certamente, que conhece o desfecho da história, acompanha e abençoa o filho a distância. O Pai sabe que ele voltará! Por este motivo, consente na sua partida sem mais argumentos, para que não se entregue a tal aventura. Afinal, o filho reclamava independência!

15 Então, ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos.

Por "um dos cidadãos daquela terra", compreendo os espíritos que já se encontravam em exílio, igualmente rebelados - espíritos que por lá se radicavam há muito tempo, sem se decidirem pelo regresso! "Habituaram-se" à estranha situação. Provavelmente, desmemoriados quanto à sua origem divina. Isto poderia acontecer àquele filho mais moço, como acontece a muitos que transformam a reencarnação num círculo vicioso e, por milênios, vivem a repisar antigas provas.

16 Ali desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada.

Vejamos a que o espírito pode descer! Ele se nivelara aos porcos, que, nos tempos antigos, eram tomados por símbolos de impureza. Inclusive, Mateus, no capítulo 8, versículos 28 a 34, narra o episódio dos dois endemoninhados gadarenos que viviam entre os sepulcros. Ao curá-los de semelhante estado de possessão, Jesus ordena que os espíritos que os atormentam passem para uma manada de porcos. "Alfarrobas" são espécies de vagens com que os porcos eram alimentados naquela região (não vamos entrar no mérito da questão sobre a existência, ou não, de porcos, à época, naquela região da Palestina - não nos prendamos tanto às palavras). Com tal imagem, Jesus queria dizer que a provação do filho mais moço chegara ao extremo - ele quase se animaliza!

17 Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!

Este, talvez, seja o versículo mais interessante da Parábola. "Caindo em si", quer dizer: tomando-se lúcido o suficiente para compreender que errou! Aqui, o filho mais moço para de se afundar ou de se distanciar do Pai em espírito. Ele descobre que, em Deus, não existe necessidade. Representando o Pai, Jesus nos disse: "Eu sou o pão da Vida"\ O espírito, motivado pelo sofrimento, deixa de ser jovem e começa a amadurecer-ele sai da adolescência! E o que o conhecimento espírita nos enseja: fazer com que saiamos de nossa prolongada adolescência espiritual! O Espiritismo, sem dúvida, é a doutrina do fazer "cair em si"!

18 Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o Céu e diante de ti;

19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores.

A decisão de empreender a "jornada de volta" abandonar a periferia e retornar ao centro! Assumir e reparar os equívocos cometidos. Não apenas abandonar o mal, mas praticar o bem. Em suma, deixar de reencarnar sem proveito - dar um basta ao próprio carma! Jesus fora enviado por Deus à Terra para suscitar esse "cair em si" do espírito. A Misericórdia Divina não nos abandona e nunca nos deixa à mercê das circunstâncias. Jesus não se coloca na Parábola que narra, mas, ao narrá-la, Ele está la. "'Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará!" "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!". O filho, vilependido, quer renunciar à sua condição filial, mas o Pai não renuncia à sua condição paternal, como veremos.
Ele faz com que "se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos ".

20 E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, abraçou-o e beijou-o.

É comovente este versículo. O Pai vai ao encontro do filho. À sua simples intenção de voltar, abre-lhe os braços em aconchego. Estamos a infinita distância de Deus, mas Deus não está a menor distância de nenhum de nós! Atentemos para a expressão: "correndo"... Deus tem imensa saudade de cada um de nós! "... e, compadecido dele, correndo, abraçou-o e beijou-o." Não lhe faz qualquer pergunta ou repreensão. Apenas o abraça e o beija! Por isso, no fundo do poço do arrependimento, Deus vem nos estender as mãos e nos resgatar. Este versículo me arranca lágrimas e me enche o coração de esperança. A solicitude do Criador pela Criação é algo que ainda não compreendemos. A gente não reencarna para encontrar Deus alhures, mas para encontrá-Lo dentro de nós!

21 E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.

22 O pai, porém, disse aos seus servos: trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés;

23 trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos,

E' claro que o Mestre, em suas lições à Humanidade, recorria aos costumes e às convenções sociais da época. O novilho cevado, por exemplo, era reservado para as grandes ocasiões festivas. O anel no dedo era sinal de nobreza. O Pai quer receber, regiamente, seu filho de volta. É notória a sua alegria! De fato, há mais alegria no Céu quando um pecador se converte do que quando noventa e nove justos perseveram! Outra atitude digna de destaque, conforme já o dissemos, é que 0 Pai não quer, absolutamente, saber do passado do filho. Ele se justifica por um impositivo da consciência e não porque esteja sendo constrangido a fâzê-lo. A verdade é que o filho ainda não se sente completamente redimido. A Bondade do Pai se revela maior do que ele fosse capaz de supor!

24 porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se.

"Morto", quer dizer: imerso na matéria! Voluntariamente, ele havia se colocado fora de Deusl "Estava perdido" - era um espírito errante! Peregrinava por ínvios caminhos! Está escrito nas páginas de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", no capítulo XI: "O sangue resgatou o espírito e o espírito tem hoje que resgatar da matéria o homem". A matéria é o cadinho onde o espírito se acrisola! A reencarnação é indispensável à evolução do espírito.

25 Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.

26 Chamou um dos criados e perguntou-lhe o que era aquilo.

27 E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde.

Para mim, este é o trecho mais difícil de interpretar da Parábola: o ciúme do filho mais velho! Ele, o irmão mais velho, que não saíra da companhia do Pai, revela-se mesquinho e egoísta - com certeza, a fim de aprender o que o irmão mais novo aprendeu no sofrimento, deverá sair... Será que o seu amor pelo Pai seria verdadeiro, incapaz de se alegrar pelo regresso do irmão que estava perdido? Eis uma questão das mais transcendentes, envolvendo o despertar do espírito e a sua real integração com Deus. Vejamos, em seguida, como é descrita a sua reação.

28 Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai procurava conciliá-lo.
Desculpem-me, mas não resisto: ele fez birra! O pai procurava contornar a situação, o que, convenhamos, deveria fazer com umas boas chineladas astrais... Eu não sei se haveria uma alusão à ciumeira de religiosos. Ora, parece até que o Céu é pequeno demais para mais de um!

29 — Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos;

30 vindo, porém, esse teu filho que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado.

Além de tudo, é respondão. Eu nunca poderia imaginar que os filhos de Deus fossem tão problemáticos quanto os filhos da gente! Ele diz, com desprezo: "...esse teu filho" - nem o chama de irmão! O texto nos leva a concluir que, sem sair de casa, a gente não volta para casa, porque não se sente em casa nem "sabe" o que é casa. Recordo-me da "Parábola dos Trabalhadores na Vinha", quando, acusado de injustiça, o dono da vinha responde: "Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?". Para quem não é feliz, a felicidade dos outros é sempre um desperdício.

31 - Então lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo que é meu é teu.

32 Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.

O filho é pródigo, mas somente o amor de Deus é sempre prodigioso! O Cristo não se revela um irmão ciumento; tanto é assim, que veio nos redimir. Não obstante, na Casa do Pai, que possui numerosa família - maior do que concedeu a Abraão! - devem existir alguns com aparência de virtude. Eu não sei como termina a história, porém presumo: o filho regressou repleto de equimoses e hematomas, a vontade do Pai se impôs, a festa aconteceu, o irmão mais velho deve ter ficado com um pedaço do novilho cevado engastalhado na garganta e, até hoje, está procurando digeri-lo! Apenas uma pergunta que, sinceramente, não tenho cancha para responder: Não teria se transformado esse menino cheio de vontades num anjo rebelado?!...