Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 4 de outubro de 2016

NÃO VADES TER COM OS GENTIOS

NÃO VADES TER COM OS GENTIOS
(Mateus, 10: 5 a 15)

A tradução do Novo Testamento de João Ferreira de Almeida assim inicia as instruções de Jesus aos 12 apóstolos recém-escolhidos:

— Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidades de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel.

E prossegue, com Jesus orientando os apóstolos na pregação de sua divina mensagem.

O vocábulo preferência, acima grifado, sintetiza o desejo do Mestre de levar seus ensinos às ovelhas perdidas de Israel, que Kardec entende como sendo os judeus que acreditavam no Deus uno e esperavam o Messias, preparados que estavam para Lhe acolherem a sublime palavra, à semelhança de terreno já arroteado.

A conversão dos gentios viria pouco tempo depois com Paulo de Tarso.

Mas, porque a restrição aos samaritanos?
Essa é outra história que teve início após a peregrinação por séculos do povo judeu pelo Crescente Fértil e sua fixação final nas terras da Palestina, conduzidos por Moisés.

A desavença teve seu ponto de partida cerca de mil anos antes de Cristo, com a morte de Salomão e o decorrente cisma das doze tribos.

As tribos de Judá e Benjamin prestigiaram seu sucessor, o filho Reboão, constituindo o Reino de Judá, cuja capital foi Jerusalém.

As outras dez tribos, por razões políticoeconômicas, aderiram a Jeroboão e formaram o Reino de Israel, ao norte da Palestina, sendo a cidade de Samaria sua capital, gerando o cisma grande e incurável animosidade entre esses povos irmãos, descendentes do patriarca Jacob, neto de Abraão e que viveu em torno de meio milênio antes.

Os samaritanos criaram culto próprio, baseado no pentateuco de Moisés, afastando-se de Jerusalém, a cidade sagrada, e jamais foram perdoados pelos habitantes do Reino de Judá.

No início do século VI a.C., ambos os reinos foram golpeados pelas invasões persas. Houve grande destruição na Palestina, os judeus foram aprisionados e levados à Mesopotâmia, ali permanecendo em cativeiro, sendo libertados por Ciro, o Grande, décadas depois, no ano de 537, anterior à era cristã.

A destruição e consequentes perdas humanas foi maior entre os samaritanos. Hoje, os seus raros remanescentes vivem em Nablus, no atual estado de Israel.

Mesmo à época de Jesus, a discórdia entre os judeus de Jerusalém e os samaritanos persistia, daí a sabedoria do Mestre em buscar apaziguá-los.

Jesus, em sua divina pregação mostrou aos judeus chefiados pelo Sinédrio o valor dos samaritanos em três episódios: a cura dos hansenianos, a parábola do samaritano e o encontro com a mulher que retirava água no poço de Jacob.

Na cura dos dez hansenianos, destaca o Evangelho de Lucas que apenas um deles, o samaritano, agradeceu ao Mestre, retornando curado e prostrando o rosto a seus pés. Jesus lhe perguntou: onde estão os outros nove?…

Relata-nos João que Jesus fatigado, passando por Sicar, cidade da Samaria, no poço de Jacob pediu água à mulher samaritana, que lhe saciou a sede. O Senhor lhe falou:

— Quem beber desta água tornará a ter sede, mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede.

E a mulher, convertida pelas suas palavras, lhe pediu:

— Dá-me, Senhor, dessa água para que eu não tenha mais sede.

Na parábola do bom samaritano, nosso Mestre destacou-lhe a caridade, socorrendo o homem caído na estrada de Jericó, o que não fizeram o sacerdote e o levita, representantes da religião judaica.

Sabemos que os levitas, na divisão das doze tribos, não receberam terra para o cultivo e convivência social, e sim a responsabilidade de cuidar da religião, como sacerdotes ou intendentes do templo. Perderam, em parte, a função sacerdotal nos últimos três séculos antes de Cristo, pela interferência do Sinédrio em favor, sobretudo, dos fariseus.

Na vida hodierna, sob a ótica espírita, Jesus não se preocupa mais com os gentios e os samaritanos, mas sim com a nossa integração plena à sua mensagem de vida eterna.

Pede-nos a renovação interior, de todas as maneiras possíveis, enviando inclusive, a cada período do processo evolutivo da Terra seus discípulos, que à feição dos doze que o seguiram nos tempos passados, vivenciam no mundo a Sua lição de amor e de esperança.

Isabel de Aragão no medievo, Gandhi e Chico Xavier, nos tempos atuais, são três desses missionários, que renunciaram a si mesmos em favor do “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”.




São Bernardo do Campo, janeiro de 2013.

Caio Ramacciotti

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