Estudando o Espiritismo

Observe os links ao lado. Eles podem ter artigos com o mesmo tema que você está pesquisando.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Druidismo e Espiritismo

Druidismo e Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1-Introdução. 2-Conceito. 3-Histórico. 4-Teologia Druidica: 4.1- O Sistema Teológico; 4.2- Exotérico X Esotérico; 4.3-As Tríades. 5-Druidismo e Espiritismo. 6-Conclusões. 7-Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

Todas as vezes que nos atemos à biografia de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, lembramo-nos de suas duas encarnações passadas: 1ª) Como sacerdote druida, na época de Júlio César, cujo nome era Allan Kardec; 2ª) Como João Huss, sacerdote checo da Idade Média.

Nosso objetivo é discorrer sobre o Druidismo e não especificamente a respeito da linha psicológica de Allan Kardec. Sendo assim, analisaremos o conceito de Druidismo, o contexto histórico, a teologia tríade dos druidas e a analogia com o Espiritismo.

2. CONCEITO

Druida - nome pelo qual era identificado, entre os Celtas, importante grupo social que desempenhava variadas funções, sendo os responsáveis por manutenção e guarda dos valores da civilização céltica. Modernamente, a preferência etimológica faz o nome derivar de dru-wid, que significa "sábio". (Azevedo, 1990)

Druidismo - é religião dos druidas, sacerdotes pagãos dos povos celtas que habitavam a Gália e a Bretanha no período anterior ao Cristianismo, mais especificamente entre o século II a.C. e o século II, d.C. (Castanho, s. d. p.)

3. HISTÓRICO

druidismo ocorreu entre o século II a.C. e o século II d. C. Sobreviveu apenas em algumas regiões das Ilhas Britânicas, que não sofreram a invasão romana. Foi, mais tarde, suplantado pelo Cristianismo. A influência do Cristianismo, não do Cristianismo que se dogmatizou mas do Cristianismo primitivo, foi extremamente valiosa para a organização desta religião. É que a alma cristã, sendo mais amante, fornecia os elementos básicos para equilibrar espiritualmente a alma céltica, por natureza mais viril.

O nome, bem como sua origem, tem sido objeto de várias interpretações, cronológica ou etimologicamente. A sua existência não foi conhecida dos Gregos senão duzentos anos a. C. César descreve o centro do druidismo nas ilhas britânicas, donde teria irradiado para as regiões vizinhas da Gália. Plínio, ao contrário, dá o druidismo como originário da Gália e só depois levado para as ilhas. Finalmente, há quem pretenda que o druidismo foi encontrado já pelos Celtas entre os aborígenes da Irlanda e da Grã-Bretanha. "Camille Jullian, por exemplo, do Colégio de França, na sua obra mais recente sobre a Histoire de la Gaule contenta-se em fixar como de 600 a 800 a.C. a chegada dos químricos à Gália, o ramo mais moderno dos celtas. Eles vinham, crê-se, da foz do Rio Elba e das costas da Jutlândia, enxotados por maremotos, o que os obrigou a emigrar em direção do sul". (Denis, 1995, p. 27)

Não sendo reconhecidos como magistrados legalmente constituídos, os druidas exerciam funções religiosas, jurídicas, políticas e pedagógicas. Os sacerdotes realizavam seus cultos nos bosques, reverenciando, principalmente, o carvalho. Possuíam escrita própria e o aprendizado da doutrina druidica compreendia vinte anos de exercícios.

Os sacerdotes exerciam cinco funções específicas, dividindo em cinco classes:

1 - os vacios que se encarregavam dos sacrifícios;

2 - os saronidos, encarregados da educação e do cultivo das ciências;

3 - os bardos, poetas, oradores e músicos, que exortavam o povo à prática das virtudes e treinavam os guerreiros;

4 - os adivinhos, que previam o futuro;

5 - os causídicos que administravam a justiça. (Castanho, s. d. p.)

O druidismo se aplicava sobretudo a desenvolver a personalidade humana, em vista da evolução que lhe é destinada. Ele cultivava as qualidades ativas, o espírito de iniciativa, a energia, a coragem; tudo o que permitia afrontar as provas, a adversidade e a morte com uma incrível segurança.

Mais recentemente formaram-se confrarias druidicas como as ordens dos Bardos e dos Merlin, em 940. Em 1781 foi fundada a ordem dos druidas de Londres, sociedade secreta que se propunha a fomentar a moral, o patriotismo, o filantropismo e a fraternidade; em 1903, ordens druidicas também apareceram em Gales e na Alemanha. Caráter folclórico. (Castanho, s. d. p.)

4. TEOLOGIA DRUIDICA

4.1. O SISTEMA TEOLÓGICO

É pouco conhecido o sistema teológico dos druidas, pois os autores gregos e romanos quando falam dos mitos druídicos os referem às suas próprias teogonias. Para alguns, o druidismo fundava-se num panteísmo material cheio de mistérios; para outros, o conhecimento da divindade manifestado pelos druidas não muito diferente na perfeição do conhecimento judaico. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

4.2. EXOTÉRICO X ESOTÉRICO

No Druidismo, como em toda a religião, havia traços exotéricos e esotéricos. Os que não se aprofundaram na análise esotérica, ficaram com a impressão de que o druidismo é uma religião primitiva, principalmente por causa dos sacrifícios que impunha. Porém, ao penetrarem no âmago, no âmbito esotérico, mudaram de opinião, porque vislumbraram uma doutrina reveladora das altas verdades e das leis superiores do Espírito. (Denis, 1995, p. 115)

4.3. AS TRÍADES

Léon Denis, no capítulo VII de O Gênio Céltico e o Mundo Invisível, faz uma descrição pormenorizada das Tríades. Resumamo-la. O corpo da teologia druídica era baseado nas tríades. As Tríades eram formadas, utilizando-se de três tipos de ensinamentos, em que cada um completava os outros dois. Seria como o filho numa família constituída de pai e mãe. Quer dizer, para que o filho exista deve existir antes um pai e uma mãe. Faltando o pai ou a mãe, o filho não pode vir à luz. Nesse sentido, os ensinamentos são transmitidos de forma lógica, em que se atrelando um ao outro, tem-se todo o sistema organizado.

Conforme as "Tríades" druídicas há três fases ou círculos de vida: no annoufn, ou círculo da necessidade, o ser começa sob a forma mais simples; no Abred ele se desenvolve, vida após vida, no seio da humanidade e adquire a consciência e o livre-arbítrio; finalmente, no Gwynfyd, ele desfruta a plenitude da existência e de todos os seus atributos, libertado das formas materiais e da morte, ele evolui para a perfeição superior e atinge o círculo da felicidade.

Síntese das tríades: passar do abismo Annoufn para as alturas sublimes do Gwynfyd.

Desta série de tríades, as onze primeiras são consagradas à exposição dos atributos de Deus, como vemos a seguir:

DEUS E O UNIVERSO

I - Deus, verdade e ponto de liberdade;

II - Três coisas procedem de Deus: toda vida, todo bem e todo poder;

III - Deus é necessariamente três coisas: vida, ciência e poder;

IV - Três coisas Deus não pode deixar de ser: o que deve constituir, querer e realizar o bem perfeito;

V - Três garantias do que Deus faz e fará: poder, sabedoria e amor infinito;

VI - Três fins principais da obra de Deus: diminuir o mal, reforçar o bem e esclarecer toda a diferença;

VII - Três coisas Deus não pode deixar de conceder: vantajoso, necessário e belo;

VIII - Três forças da existência: não poder ser de outro modo, não ser necessariamente outra e não poder ser melhor pela concepção;

IX - Três coisas prevalecerão necessariamente: o supremo poder, a suprema inteligência e o supremo amor de Deus;

X - As três grandezas de Deus: vida perfeita, ciência perfeita, poder perfeito;

XI - Três causas originais dos seres vivos: amor, sabedoria e poder divino.

OS TRÊS CÍRCULOS

XII - Há três círculos de existência: o círculo da região vazia (cegant) onde - exceto Deus - não há nada vivo nem morto e nenhum ser que Deus não possa atravessar; o círculo da migração(abred) onde todo ser animado procede da morte, que o homem atravessou; o círculo da felicidade (gwynfyd), onde todo ser animado procede da vida, que o homem atravessará no céu.

XIV - Três fases necessárias de toda a existência em relação à vida: começo em annoufn, a transmigração em abred e a plenitude em gwynfyd; e sem estas três coisas nada pode existir, exceto Deus.

Em resumo: a doutrina dos druidas se baseia em três princípios fundamentais: a eternidade de Deus, a perpetuidade do Universo e a imortalidade das almas.

5. DRUIDISMO E ESPIRITISMO

Allan Kardec, no capítulo I do livro segundo de O Livro dos Espíritos, descreve a classificação dos Espíritos quanto ao grau de desenvolvimento, de acordo com as qualidades adquiridas pelos Espíritos como também pelas imperfeições de que ainda não se livraram. A analogia com a teologia druidica pode ser feita, bastando acrescentar à escala espírita, abaixo da terceira ordem, o círculo de anufn, que caracteriza o abismo ou a origem desconhecida das almas e, acima da primeira ordem, o círculo cegant, morada de Deus, inacessível às criaturas.

O quadro abaixo mostra esta analogia: 
ESCALA ESPÍRITA
ESCALA DRUIDA

Cegant. Sede de Deus
1.ª ordem
1.ª classe
Espíritos puros. Não mais reencarnação
Gwynfyd. Sede dos bem- aventurados. Vida Eterna
2.ª ordem (Bons Espíritos)
2.ª classe
Espíritos Superiores*
Abred. Círculo das migrações ou das diversas existências corpóreas, que as almas percorrem para chegar deanufn a gwynfyd.
3.ª classe
Espíritos Prudentes*
4.ª classe
Espíritos Sábios*
5.ª classe
Espíritos Benévolos*
3.ª ordem (Espíritos Imperfeitos)
6.ª classe
Espíritos Batedores*
7.ª classe
Espíritos Neutros*
8.ª classe
Espíritos Pseudo-sábios*
9.ª classe
Espíritos Levianos*
10.ª classe
Espíritos Impuros*

Anufn. Abismo; ponto de partida das almas.

* Depurando-se e elevando-se pelas provas da reencarnação.

Fonte de Consulta: Revista Espírita de 1858, p. 111.

6. CONCLUSÃO

Sintetizando as pesquisas realizadas, deduzimos que o druidismo é fonte de muita sabedoria, e que deveria ser motivo de estudo dos espíritas, a fim de melhor dimensionar o alcance de suas palavras, quer em tribuna ou nas conversas ao pé de ouvido. A absorção destes ensinamentos serviu-nos para enfatizar que o Espiritismo sempre existiu. Nesse sentido, a missão primordial de Kardec nada mais foi do que juntar o que estava espalhado, de maneira esparsa por toda a face do planeta.

Hoje estamos no século XX, considerado mais evoluído do que na Antigüidade. Porém nada nos impede de supor Espíritos, já naquela época, mais evoluídos do que nós, uma vez que as verdades são eternas e estão disseminadas no espaço sideral.

7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

AZEVEDO, A. C. Dicionário de Nomes, Termos e Conceitos Históricos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1990.
CASTANHO, C. A. Dicionário Universal das Idéias. São Paulo, Meca, s. d. p.
DENIS, L.. O Gênio Céltico e o Mundo Invisível. Rio de Janeiro, CELD, 1995.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
KARDEC, A. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos (1858). São Paulo, Edicel.

São Paulo, 25/01/1998

Nenhum comentário:

Postar um comentário