Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 25 de março de 2013

DA LEI DE ADORAÇÃO - Simonetti


DA LEI DE ADORAÇÃO

1 - A COMUNHÃO COM DEUS

''Qual o caráter geral da prece?"

"A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar n'Ele; é aproximar-se d'Ele; é pôr-se em comunhão com Ele. A tres coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir e agradecer. " Questão n° 659 (Da Lei de Adoração).

Adorar é gostar muito, extremadamente. Adoro meus filhos, adoro chocolate, adoro correr. ..

A mesma expressão é empregada para definir o culto à divindade. Adorar a Deus é buscar a comunhão com Ele, atendendo três objetivos:

Primeiro: Louvar, reconhecendo a grandeza do Criador, Sua presença em nossas vídas e sentindo n'Ele o nosso apoio maior, nossa inspiração mais sublime, nossa esperança mais autêntica, como exprime admiravelmennte David no famoso Salmo XXIII, conforme versão de Emmanuel, no livro "Paulo e Estevão", psicografia de Francisco Cândido Xavier:

"O Senhor é o meu Pastor,
Nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos,
Guia-me mansamente
A águas mui tranquilas,
Refrigera minh'alma,
Guia-me nas veredas da justiça
Por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse
Pelo-vale das sombras da morte,
Não temeria mal algum
Porque Tu estás comigo ...
A tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas-me o banquete do amor
Na presença dos meus inimigos,
Unges de perfume a minha cabeça,
O meu cálice transborda de júbilo!. ..
Certamente,
A bondade e a misericórdia
Seguirão todos os dias de minha vida
E habitarei na Casa do Senhor
Por longos dias ... "

Essa exaltação é de fundamental importância, não apenas para tornar produtiva e disciplinada a existência nos dias tranquilos, mas também para favorecer o equilíbrio e a serenidade quando desabam as tormentas existenciais, reconhecendo, segundo a expressão evangélica, que "até os fios de nossa cabeça estão contados" (Mateus, 10:30), isto é, o Senhor conhece-nos melhor do que nós mesmos e nos oferece experiências compatíveis com nossas necessidades, sem jamais ultrapassar nossa capacidade de suportá-las, cobrando-nos em "suaves prestações" débitos que nos esmagariam se fôssemos convocados a resgatá-los numa só parcela.

Pedir é o segundo propósito na oração, algo perfeitamente admissível, um direito de todo filho que se dirige a seu pai.

Por quê? Afinal, Deus conhece perfeitamente nossas necessidades ...

Quem raciocina assim desconhece que a oração não objetiva trazer Deus até nós, mas de elevar-nos até Ele; nem se trata de expor nossos desejos e, sim, de criar condições para receber Suas bênçãos, que se espalham por todo o Universo. Estamos mergulhados nelas, diz André Luiz, como peixes no oceano. Todavia, para que as assimilemos é preciso que preparemos o coração, a fim de não nos situarmos como um homem que morre de sede, embora dentro de uma piscina, por recusar-se a abrir a boca. '

Há quem reclame que suas preces não são ouvidas.

É que pedimos o que queremos; Deus nos dá o que precisamos, e raramente compatibilizamos desejos e necessidades legítimas. A criança com uma fratura na perna pedia mil vezes a seu pai que a liberte do gesso que a incomoda. Não sendo atendida, em seu próprio benefício. Todos temos "fraturas morais". Se pretendemos que o Senhor nos libere de sofrimentos e dificuldades retificadoras, fatalmente colheremos decepçôes.

O ideal, portanto, não é pedir que Deus nos favoreça nas situações da Terra, mas que nos fortaleça para as realizações do Céu, inspirando-nos o comportamento mais adequado, a atitude mais digna, o esforço mais nobre.

Em "Recados do Além", psicografia de Francisco Cândido Xavier, Emmanuel oferece um modelo perfeito para esse tipo de oração, com palavras singelas que dizem tudo:

"Jesus! Reconheço que a Tua vontade é sempre o melhor para cada um de nós; mas se me permites algo pedir-Te, rogo me auxilies a ser uma bênção para os outros."

O terceiro propósito na oração: agradecer. Deus coloca à nossa disposição, diariamente, riquezas inestimáveis: As manifestações da Natureza, o conforto do lar, as possibilidades da inteligência, a disciplina do trabalho, a oportunidade de servir. .. Mil bênçãos! ...

Se, ante as lutas da existência desanimamos ou nos comprometemos no desajuste, não é por ausência da Providência Divina, mas, simplesmente porque, esquecidos de agradecer pelos valores mais importantes, cérebro povoado por quimeras, colição possuído por sentimentos menos edificantes, não prestamos atenção aos sinais que Deus estende no caminho em favor de nossa segurança e paz. A propósito há o curioso episódio de um sábio hindu que, inspirado, dizia ao discípulo:

"Meu filho, infinitas são as bênçãos que devemos agradecer ao Criador: a beleza da flor, o verde das matas, o azul do céu, o brilho das estrelas, a majestade do oceano, o sorriso da criança ... Em toda a Criação há sinais da Sublime Presença, convidando-nos a confiança e oferecendo-nos conforto e alegria."

Impressionado com tais raciocínios, o aprendiz, de retorno ao lar, divagava:

"Sim, há muito que agradecer. Deus está presente em tudo! Nesta flor que desabrocha, deslumbrante; naquela cascata que canta a sublimidade da Vida, no Sol, que ilumina o Mundo!. .. "

Despertando de seu deslumbramento íntimo, avistou um elefante furioso que corria pela estrada, em sua direção. Montado no animal, um homem advertia aos gritos:

"Sai da frente, sai da frente!. .. "

"Ah! - suspirou, tranquilo - nada há a temer. A Majestade Divina está naquele elefante furioso que se aproxima. O nobre animal também faz parte da Criação."

Mal formulara semelhante raciocínio e foi violentamente colhido pelo paquiderme, que o atropelou como um trem expresso, jogando-o a distância.

Com contusões generalizadas, sentindo mil dores, foi socorrido pelo seu mestre, que ouvira o barulho. Medicado, entre gemidos, o discípulo comentou, queixoso:

"O senhor disse que Deus está em todas as manifestaçôes da Natureza, até nos animais! Veja como fiquei por supor que Ele estava naquele elefante furioso! ... " O sábio sorriu, benevolente, e respondeu:

"Meu filho, realmente Deus está presente em tudo.

Até naquele elefante furioso. Entretanto, você se esqueceu de que o Todo-Poderoso estava também naquele homem que alertava, a plenos pulmôes: "Sai da frente, sai da frente !.. "

2 - A PORTA DO CORAÇÃO:

"Agrada a Deus a prece?"

"A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coraçâo, pois, para ele, a intençâo é tudo. Assim, preferível é a prece do íntimo à prece lida, por muito bela que seja, seja lida mais com os lábios do que com o coração. Agrada-lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e sinceridade. Mas, não creais que o toque a do bomem fútil, orgulhoso e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade. " Questão n° 658 (Da Lei de Adoração).

Oração é sentimento. Podemos, com as palavras, exprimir o que vai em nosso íntimo. Mas, se nos limitamos a pronunciá-las ou repeti-las em meras fórmulas verbais, caímos no mecanicismo estéril em que os lábios movimentam-se divorciados do coração.

Esse engano é cometido por muitos profitentes religiosos que decoram orações usando-as como recursos mágicos para solução de seus problemas, cuja eficiência estaria subordinada a quantidade de repetições. Isso ocorre particularmente com o sublime "Pai Nosso", de Jesus, precioso roteiro da oração confundido com inócua reza.

Havia um preto velho que era escravo. Trata-se, sem dúvida, da mais degradante condição social a que se possa submeter alguém. O infeliz não detém a posse de si mesmo. Há um senhor que pode dispor de seu corpo, de seu trabalho, de suas horas e até de seu corpo. Não obstante ele vivia relativamente feliz, porquanto era alguém profundamente ligado a Deus.

Diariamente, em plena madrugada, dirigia-se à gleba de terra sob seus cuidados e, antes de iniciar o trabalho do dia, tirava o chapéu, erguia o olhar para o céu, levava a mão direita ao peito e dizia, humilde:

"Sinhô! Preto véio tá qui!"

Apenas isso. Ele era analfabeto e não conhecia muitas palavras, mas fazia o essencial: exercitava o sentimento, com o impulso do filho de Deus que não quer iniciar seu dia sem pedir a bênção do pai.

O que importa, portanto, na prece, não é sua duração, a repetição, a sofisticação das expressões. Fundamental, indispensável é a presença do sentimento.

Há pessoas que, atormentadas por complicadas perturbações, submetem-se durante longos períodos ao tratamento psicanalítico. Falam, em numerosas sessões de terapia, de sua vida pregressa. Enunciam seus anseios, seus receios, os problemas existenciais, enquanto o médico, anotando aquela enxurrada de informações, tenta pôr um pouco de ordem em sua casa mental, ajudando-as a superar suas angústias.

Embora o respeito que merecem os profissionais que se dedicam a esse tipo de atividade, dificilmente conseguirão penetrar os socavões da individualidade humana, definindo com exatidão a natureza dos males que afligem os pacientes, mesmo porque a origem perde-se, geralmente, no passado remoto, representando apenas o substrato de lamentáveis comprometimentos com as Leis Divinas.

Resultados mais amplos e eficientes alcançariam os próprios consulentes se, sem abdicarem dos benefícios da Medicina, conversassem com Jesus, o médico das Almas, falando-lhe de seus anseios e receios, sempre com a orientação de um sentimento profundo de contrição, com o reconhecimento das próprias mazelas, sem o que a prece poucos resultados produzirá. Inconcebível orar retendo mágoas e rancores, invejas e irritações. É o que explicam, na questão n° 660-a, os Espíritos que assistem Kardec:

"O essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas pessoas supõem que todo o mérito está na longura da prece e fecham os olhos para seus próprios defeitos. Fazem da prece uma ocupação, um emprego, nunca, porém, um estudo de si mesmas. A ineficácia, em tais casos, não é do remédio, sim da maneira por que o aplicam.

Aqueles que colocam na prece os ingredientes da humildade e da sinceridade, dispostos a reconhecer suas mazelas, no propósito da própria renovação, têm suas dificuldades dissolvidas pelos mananciais de bênçãos que se derramam sobre suas cabeças, emanados do Criador.

O alcoolismo situa-se como um dos mais graves males humanos. É considerado doença grave, quase incurável. Frequentemente, após passar meses em hospiital especializado, desintoxicando-se, o viciado, de retorno ao lar, entra no primeiro bar para "um trago apenas", que se faz seguido por muitos outros, sustentando o círculo vicioso de recuperação precária e recaída certa.

Só há uma terapia definitiva para o alcoolismo: a oração. Se o alcoólatra, reconhecendo sua miséria moral e física, dispuser-se a conversar com o Cristo, expondo-lhe suas limitações, fatalmente receberá o apoio espiritual que lhe permitirá vencer o vício.

No quadro "A Luz do Mundo" o pintor Holan Hunt mostra Jesus num jardim, à noite, segurando na mão esquerda uma lanterna, e com a direita batendo numa porta. Ao ver o quadro um crítico de arte observou:

- Senhor Hunt, esta obra não está acabada. Falta pintar a maçaneta da porta.

- Engano seu - explicou o artista. - Esta porta simboliza o coração humano. Só pode ser aberto pelo lado de dentro.

A ajuda do Céu chega invariavelmente, em todas as situações, desde que nos disponhamos a abrir o coração.

Richard Simonetti

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