Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Razão e emoção - Adenáuer

“Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua esquerda o que faz a tua direita.” Mateus 6:3.

Vivemos em contato com pessoas, quer parentes ou não, e estamos sujeitos ao regime da convivência a fim de aprender as coisas da Vida e, dessa forma, evoluir. Muito embora se possa viver só, ninguém evolui sozinho. O outro é  nosso espelho, onde refletimos nosso nível de evolução. Estando em contato com nosso semelhante temos que aprender regras de convivência, as quais se aprimoram fazendo-nos crescer juntos. Nessa convivência aprendemos a dar e a receber; a estabelecer relações de trocas, cujos interesses nem sempre aparecem, mas que existem, por mais sutis que possam ser.

A expressão dita pelo Cristo nos aponta também para aquelas trocas, onde ganha quem aprende a melhor administrar o que recebe da Vida. Quem muito quer, acaba por não saber distinguir se possui ou se é possuído pelo seu objeto de desejo.

Não saber a mão esquerda o que dá a direita significa a prática da caridade anônima, a doação desinteressada, a bondade natural, isto é, a tratar o próximo como gostaríamos que nos tratasse. A lógica evangélica nos leva a essa interpretação e nos conduz ao exercício da mais nobre virtude humana: a caridade. Ensina-nos que, nas relações interpessoais, devem vigorar o desinteresse e a afeição sincera, que, por sua vez, conduzem a empatia para com o outro.

Do ponto de vista psicológico, podemos entender que o Cristo talvez estivesse colocando o cuidado que devemos ter em não permitir que influências prejudiciais do inconsciente nos perturbem. Quando falamos ou agimos, sofremos influências internas, oriundas das camadas profundas do inconsciente, onde se encontram as experiências das vidas passadas. Nem sempre separamos o presente do passado, onde estão, muitas vezes, culpas e frustrações não resolvidas que interferem na nossa atividade consciente. Até que ponto a antipatia gratuita por alguém é motivada por emoções oriundas do inconsciente e não se devem a influências espirituais? Até que ponto o inconsciente interfere na vida consciente? Para entender sobre isso, é preciso antes falarmos sobre o lado esquerdo e o direito do cérebro.

Sabe-se das funções distintas dos lobos cerebrais. O esquerdo se ocupa da vida objetiva e o direito da vida subjetiva. Em linhas gerais, o primeiro executa o que o segundo planeja. Um se refere à vida material o outro à vida do Espírito. São como órgãos distintos sob o comando do mesmo centro diretor, o Espírito. O desenvolvimento do lado direito se dá com o exercício de atividades ligadas à subjetividade, como por exemplo, a música, as artes em geral, a  emoções equilibradas, a relações interpessoais, a meditação, a oração, a mediunidade, etc. Dificilmente alguém vai desenvolver o lado direito ocupando-se das atividades inerentes ao esquerdo, que se situam no campo cognitivo e motor. Não saber o que faz o lado esquerdo é o mesmo que dizer que cada pessoa deve dar o devido tempo às coisas do Espírito.

No inconsciente, encontram-se arquivadas as experiências acumuladas nas sucessivas encarnações e quefazem parte da personalidade espiritual. O conjunto dessas experiências determina o nível de evolução do Espírito, pelas aquisições morais que já tenha conquistado. Muito embora os encarnados estejam mais sujeitos ao inconsciente que os desencarnados, estes também possuem, psiquicamente, uma zona inconsciente que lhes influencia as decisões e escolhas. Ao desencarnar, e por muito tempo, até que atinja a perfeição, o Espírito desconhece boa parte de seu passado espiritual.

As influências que sofremos face aos traumas, complexos, culpas, frustrações, ódios, paixões, egoísmo,   etc., nem sempre são percebidas na vida consciente. Tentar separar o que vem do inconsciente, daquilo que vem do mundo externo, equivale a aprender a discernir entre suas escolhas pessoais e as escolhas coletivas. Separar o esquerdo do direito é entender quando é que o inconsciente parece querer superar o consciente.

O recado do Cristo pode ser entendido como a necessidade de aprender que é a vida consciente que separa o que está uno no inconsciente. Devemos buscar a percepção da existência de opostos que devem se integrar, para a necessária realização do ser humano. Esses opostos se encontram na base do psiquismo humano.

O psiquismo humano funciona em regime de compensação entre o inconsciente e o consciente. Quando esta relação produz alguma tensão, há a necessidade de se estabelecer o equilíbrio através de algum mecanismo de escape. Os mecanismos mais comuns ocorrem na vida consciente pelos comportamentos naturais do ser humano, isto é, pelos atos comuns da vida, além dos devaneios, fantasias, meditações, rituais, etc. Pela via inconsciente existem os sonhos que aliviam as tensões imperceptíveis. Nem sempre percebemos esse gradiente em forma de tensão, o qual sutilmente nos impele, às vezes, à realização de atos, dos quais nos arrependemos depois.

O ser humano pensa e vive numa dinâmica dialética. O raciocínio trabalha por comparação. Ele está sempre comparando opostos. Sua análise básica se dá entre o que percebe e o que já conhece. Isso o faz aprender e desenvolver sua capacidade de atuar no mundo. Do ponto de vista emocional, equivale dizer que, nos fenômenos da vida cotidiana, que interferem em suas emoções, ele estará comparando com suas emoções acumuladas no passado. Aquelas que ele já vivenciou e lhe trouxeram felicidade ou sofrimento servem  de pano de fundo para suas reações às emoções do presente. Buscar viver emoções equilibradas, bem como escolher as que tragam felicidade além do prazer físico, significa a garantia de desenvolvimento espiritual.

A grande dialética no nível de evolução em que se encontra o ser humano ocorre entre razão e sensibilidade, entre a mente racional e a mente emocional. O processo de individuação, de desenvolvimento rumo a uma consciência espiritual superior, requer distinção entre o lado esquerdo e o lado direito,  entre a lógica racional e a sensibilidade emocional.

Essas duas âncoras psicológicas da humanidade, razão e sensibilidade, sucederam à sensação e ao dogmatismo que prendiam o ser humano ao instinto e à fixação mental. São novas etapas evolutivas do psiquismo humano. Logo a humanidade entrará na era da intuição superior, onde o cérebro esquerdo, racional, poderá desenvolver habilidades até então do domínio do cérebro direito, subjetivo.

A civilização saiu do mito para o dogma e deste para a razão. Agora entrará no sentimento e na intuição. O Cristo nos convida a não buscarmos recompensa, tendo em vista que, a grande recompensa é a própria assimilação das leis de Deus ao vivermos em sociedade, com amor e harmonia. Nossa  psiquê, automaticamente, estará absorvendo aquelas leis arquetipicamente.

O ser humano deve administrar sua natureza dual, aprendendo a conciliar as características de ser Espírito com as necessidades de viver na matéria. A passagem evangélica nos convoca a encontrar um equilíbrio que nos permita adaptar-nos bem aos dois aspectos da Vida, sem que um perturbe ou se sobrepuje ao outro.

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