Estudando o Espiritismo

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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O argueiro e a trave - 1a parte: Vedes o argueiro e não vedes tua trave:


O argueiro e a trave - 1a parte: Vedes o argueiro e não vedes tua trave:
Disse Jesus em certa ocasião "Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? - Ou, como é que dizeis ao vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro ao teu olho, vós que tendes no vosso uma trave? - Hipócritas, tirai primeiro a trave ao vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão." (S. MATEUS, cap. VII, vv. 3 a 5.).
Nessas palavras Jesus deixa clara nossa capacidade de compreender o mundo a nossa volta a partir daquilo que nós somos interiormente. Nossa percepção de mundo está condicionada aos nossos valores, qualidades e defeitos, pois estes modelam o que percebemos e direciona o foco de nossa visão.
A trave e o cisco evidenciam nossa tendência em projetarmo-nos no mundo, através de nossas percepções. O "cisco" que identificamos nos olhos alheios, pode ser, muitas vezes, sombra de nossa própria trave.
Essa trave pode nos trazer vários e sérios entraves.
Sendo representação da projeção no mundo de nossa visão distorcida, aquilo que não aceitamos em nós, identificamos no outro, transferimos para o outro. Então apontamos no outro aspéctos de nós mesmos que não conseguimos lidar bem. O cisco que vemos no olho do irmão, então, é uma projeção de nossa própria trave. O defeito que criticamos no outro nada mais é, muitas vezes, um defeito que também possuimos e não percebemos ou não aceitamos. Essa trave nos faz ver no mundo e nas pessoas o mal que há em nós mesmos.
Essa trave nos impede então de ver com clareza o outro. E surge o julgamento. Não o julgamento no sentido de ponderação e interpretação, mas no sentido taxativo de suposição e condenação. Assim, fazemos em nossa mente uma imagem prévia das coisas e das pessoas, e vestimos essa roupagem nas pessoas. E então não conseguimos ver a verdadeira imagem da criatura, porque ela já está encoberta com nosso próprio conceito.
Essa trave tem um nome. Orgulho.
É o orgulho que não nos deixa admitir nossos próprios erros, por isso os destaca nos outros. Condena nos outros aquilo mesmo que também pratica. Faz os erros alheios serem exaltados para que suas próprias misérias não sejam percebidas por si e pelos outros. É diminuindo o outro que se vê crescer. O orgulho é a fantasia da alma, que faz nos enxerguemos muito maiores ou muito menores do que realmente somos.
O orgulho, então, é a trave que nos impede de ver com clareza e discernimento, tanto a nós mesmos, quanto ao outro.
Dessa forma, o orgulho enraiza em nós sementes de várias doenças da alma. Porque nos mantém com a mira sobre os outros, as pedras voltadas para os outros, e isso nos faz adoecer. Como?
Mantendo-nos os olhos sobre o outro, não temos tempo de olhar nossos próprios equívocos e nos mantemos protegidos - camuflados - do olhar da consciência.
Se não conseguimos olhar nossos próprios enganos, não conseguimos nos melhorar, porque só conseguimos mudar aquilo que conhecemos. Se não sabemos nem onde está errado, mudar o que? Nos acomodamos e nos conformamos, e portanto recaimos em um grande mal: estacionamos, bloqueamos em nós o principal objetivo de nossa passagem pelo mundo, a autotransformação.
E se não vemos, não aceitamos nossas falhas, então a falha é do outro. Tem origem a segunda doença: o vitimismo.
É o orgulho que nos desperta o sentimento do vitimismo, nos vendo sempre como inocentes, injustiçados.
Projetando nossas próprias sombras no outro, transferimos de nós para ele a responsabilidade por nossas dificuldades. E o vitimismo leva a a mais duas doenças: anulação de si mesmo, e à consolidação da mágoa.
Se nos vemos como vítimas, coitados, deixamos de nos enxergar por completo. Nos anulamos. Nos vemos fracos, incapazes, impotentes, capacho dos outros, coitados vítimas inocentes, e não exergamos nossas potencialidades. O quanto somos fortes, corajosos e capazes, e nos anulamos para termos uma desculpa que nos inocente diante de nós mesmos por nossas omissões. Nos colocando como fracos, vítimas, ninguém pode cobrar algo de nós.
Quantas vezes não culpamos os outros? Por coisas que nos fazem, por dificuldades que atravessamos, por contrariedades que nos causam, por dores morais? Quando passsamos por situações difíceis que envolvem outras pessoas, geralmente nossa primeira reação é culpar o outro por nossa dificuldadde, por interferir, por nos prejudicar de alguma maneira.
É muito fácil atribuir a responsabilidade por nossos insucessos, nossas mágoas, nossas dores somente aos outros, e nos mantermos como vítimas passivas. É cômodo para o orgulho, não nos exigindo maiores reflexões, e também satisfaz nosso orgulho porque tiramos o foco negativo de nós, camuflamos nossas fraquezas.
Não conseguimos perdoar as pessoas, amá-las sem reservas, porque as vemos como culpadas, como adversários prontos a nos prejudicar. Nossa imagem sobre elas está distorcida, nossos sentimentos se direcionarão à imagem que formamos delas.
Não falamos aqui de fazer recair sobre si toda a responsabilidade e toda a "culpa" sobre tudo que nos acontece, sob pena de recairmos em novo sintoma do orgulho, a autoculpa.
Falamos de autoanálise. Falamos de frear a crítica alheia, voltando-nos para nós mesmos. Não para nos culparmos, mas para nos compreendermos, para compreenermos as causas de nossos desequilíbrios, as imperfeições de nossa alma que contribuem para nossa impaciência para com os defeitos alheios, nossa intolerância, nossa revolta, nossa iracibilidade.
Deixar de se ver como vítima passiva implica em reconhecermos, acima de tudo, que a vida nunca oferece lições aproveitáveis apenas por um lado da questão; todos os envolvidos tem a aprender, e ter a humildade de reconhecer que também precisamos algo mudar em nós é a primeira gota do colírio da humildade a combater a cegueira do orgulho. Começa, nesse momento, a retirada das traves que nos limitam e distorcem a visão.

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