Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

SÓ O BEM REPARA O MAL - Ermance Dufaux

SÓ O BEM REPARA O MAL

"INDETERMINADA É A DURAÇÃO DO CASTIGO, PARA QUALQUER FALTA;
FICA SUBORDINADA AO ARREPENDIMENTO DO CULPADO E AO SEU RE-
TORNO A SENDA DO BEM." E.S.E. CAPÍTULO 27, ÍTEM 21.


O desejo do progresso é princípio ativo em todas as almas, induzindo a vontade para a ascensão nos domínios da evolução. Embora faça parte do processo natural de aperfeiçoamento individual em todo ser humano, esse desejo toma conotações bem específicas, conforme natureza das provas vividas na erraticidade. Quanto mais dor e decepção no interregno entre as reencarnações, mais profundos anseios de mudança integrarão as aspiraçõe desse coração em plena Terra, determinando alguns traço psicológicos. Esse desejo é mais intenso naqueles que já regressaram arrependidos ao corpo físico.


Na verdade, todos retornamos ao carreiro físico com certo nível de arrependimento que intensifica esse anseio de melhora e reparação. Assim sendo, volve-se ao corpo carnal com o olvido temporário dessas recordações, mas com expressiva soma de ideais de renovação, sustentado por esse "piso psicológico do remorso dinâmico", nos recessos da vida mental. Isso determina os motivos pelos quais para uns a reforma Íntima é tão essencial em relação aos vários objetivos da existência, todavia, igualmente explica a causa de tantos sentimentos que levam o homem ao sofrimento, quando ainda estagia no remorso sem o buril da vontade ativa de reparar suas faltas.


Particularmente, a maioria de nós, que somos atraídos para a necessidade imperiosa de renovação perante a vida nas linhas do bem, quando no retorno à escola terrena , carreamos na intimidade uma pulsante aspiração de transformarmos, em razão das angústias experimentadas pelas duras revelações descerradas pela desencarnação.


O traço psicológico característico desse quadro é um forte sentimento de cobrança conosco mesmo. Isso exerce uma pressão psíquica, facilmente percebida por vários incômodos durante todas as etapas da existência carnal, desde a infância até a velhice, somente atenuáveis pelo exercício do amor que modifica as paisagens da dor, através da edificação dos beneplácitos do bem aplicado e sentido.


Nesse torvelinho do "sistema psíquico de cobranças", provocadas pelo "estado de arrependimento", surgem dores emocionais profundas - sintomas de almas em crescimento. Depressão e baixa auto-estima, insegurança e ansiedade muito freqüentemente são "angústias do aperfeiçoamento", são alguns dos "castigos" a que se refere o Mestre Rivail, quando diz: "Indeterminada é a duração do castigo, para qualquer falta;" a marca mais saliente de suas manifestações pode ir desde uma suportável perturbação no halo energético da criatura, através de purgação moderada ou mesmo de descargas eletromagnéticas de intenso teor deletério, das distonias comuns da neurose, até ao câncer, a esquizofrenia, a artrite reumatóide, as ulcerações fulminantes, a AIDS, ao desequilíbrio glandular e neuroquímico-cerebral, causando parafrenias, paranóias e atrofia na saúde mental.


Outro "castigo psicológico" muito freqüente é a inquietude interior, expressada em forma de contínua preocupação nascida do "nada", sem utilidade racional ou explicável- reflexos típicos de reajustamento do espírito que se despe pouco a pouco do monturo de suas faltas.


Preciso se esclareça que não temos uma "caixinha de sentimentos guardados do passado". Sentimento é algo vivido no presente. Não existe sentimento de culpa arquivado, existe morbo psíquico acumulado como resultado das "feridas conscienciais" que se espraiam para o corpo, transformando-o em um "dreno".


Todo esse processo de desajuste pode fixar, de forma mais acentuada no psiquismo ou no cosmo biológico, os reflexos de sua ação, criando em muitos casos o encontro de ambas as perturbações, quando não há reações favoráveis à recuperação da paz interior.


A cobrança é o estado de incômodo permanente criado pela presença quase contínua desse morbo psíquico no halo de energias sutis da mente, impedindo o fluxo natural das correntes da saúde, da harmonia e do amor a si. É como se fossem "doses controladas" ou um "expurgo dirigido".


Conquanto dolorosa, essa é a forma pela qual a alma resgata o vínculo entre sentimento e consciência, "rompido" pela artimanha aprendida de negar sentimentos para não "escutar" os alvitres da "voz interior". Nunca enganamos a consciência, porque ela é o tribunal infalível da Verdade em nós. No entanto, desenvolvemos ao longo de milênios a "capacidade" de negar os sentimentos que ela nos envia, como sendo suas mensagens dirigidas ao bem. O coração é o espelho da consciência. Pelo que sentimos identificamos os apelos da consciência em favor do nosso progresso. Recusando reincidentemente, em séculos de rebeldia, os seus alvitres pelas vias do sentir, estabelecemos o que nomeamos como "cristalização de afeto", um desajuste nos reinos da vida mental que causa inúmeros transtornos psiquiátricos.


Arrepender-se é criar um elo entre o que sentimos e a "voz de Deus" na intimidade. E somente um sentimento será capaz de consolidar esse resgate: o amor. Sem amor não existirá transformação para melhor. O auto-amor é base da mudança pessoal. Somente amando-nos venceremos a severidade com nossas imperfeições escapando das garras da culpa e do perfeccionismo. Somente amando-nos permitiremos a alegria com pequenas vitórias de cada dia, acostumando a valorizar nossos esforços na aquisição do otimismo e da motivação para prosseguir. Somente amando-nos encontraremos estímulos para caminhar um tanto mais.


Arrependimento é via de redenção e ao mesmo tempo "castigo" para almas em reeducação. Os arrependidos, conquanto a caminho da recuperação de si mesmos, experimentam larga dificuldade na auto-aceitação, cobram severamente de si em razão do sistema autopunitivo implantado pelo "morbo de culpa" agregado ao seu campo áurico e perispiritual, em mutações vibratórias similares a descargas de alta voltagem. Uma insatisfação incessante, eis a faceta mais traduzível desse processo curativo do Espírito. Esse quantum energético enfermiço é um dos fatores causais da desamornia dos neurotransmissores da química cerebral, como a serotonina e a noradrenalina.


Mesmo em desacordo com as definições da filosofia e da psicologia humanas, tratamos aqui do arrependimento como sendo a "nossa maior conquista", uma "virtude", e não somente um estado mental passageiro que decorre de atitudes equivocadas. É uma questão de decisão profunda para quem atingiu a saturação nas más escolhas que fez, repetidamente em desacerto com as Leis Divinas. É uma "virtude" porque se trata de uma vitória substancial para que a alma, arraigada nos tormentos da ilusão, possa libertar-se dos resultados infelizes de suas atitudes milenares.


Por essa razão costumamos assinalar que para nós, criaturas em linha inicial de consciência e maturidade, especialmente para nós que abraçamos a causa espírita, nossa única qualidade é a de almas que nos arrependemos do mal e desejamos ardentemente o bem.


Que qualidade desenvolvemos senão a de cansarmos do mal deliberado? Que condição seria capaz de endossar o retorno à vida corporal, senão o desesperado anseio de recomeçar e refazer ações? Por que então o encanto ou delírio com traços sublimes que ainda não galgamos?


Acordemos para a Verdade espiritual que nos cerca e promovamos nosso distanciamento das ilusões de grandeza, as quais têm avassalado os conceitos sociais humanos que não asseguram sossego e luz ao coração cansado e sofrido por erros atrozes.


Sem medo, vergonha ou culpa, verifiquemos os quistos morais que fomos chamados a extirpar, e não nos sintamos diminuídos ou desvalorizados em razão dessa inadiável viagem de encontro ao "eu superior".


Conforme elucida Kardec: "Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede a esperança. Mas, não basta o simples pesar do mal causado; é necessária a reparação pelo que o culpado se vê submetido a novas provas em que pode, sempre por sua livre vontade, praticar o bem, reparando o mal que haja feito."


Aqui chegamos a um ponto clímax de nossa reflexão. Somente arrepender não basta, é preciso realizar. Somente estagiar no desejo de melhora não é suficiente para equilíbrio, é mister agir na construção do bem. A reforma efetiva de nós mesmos depende de trabalho e obras.


Evitar o mal é a parcela inicial de um processo renovador. Fazer o bem é a etapa que vem a seguir, pela construção do bem em nós mesmos. Só o bem construido em ações pode ser sentido pelo coração, e somente sob tutela das suas ondas renovadoras a alma, em ambos planos existenciais, poderá talhar valores com mais intensidade no imo de si mesma. Vemos assim o valor incomparável das atividades doutrinárias de amor nos serviços sociais e nas práticas de espiritualização da doutrina espírita. No campo fértil dos estímulos de elevação, seja pelo estudo ou pela caridade sentida, o homem se ilumina e arregimenta forças sutis que o impulsionarão a mudanças profundas no reino da vida interior, as quais nem ele próprio, a princípio, terá como aquilatar.


"A perda de um dedo mínimo, quando se esteja prestando um serviço, apaga mais faltas do que o suplício da carne suportado durante anos, com objetico exclusivamente pessoa! " (O Livro dos Espíritos, q.1000)


"Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem nos seus interesses materiais." (O Livro dos Espíritos, q.1000)


O arrependimento é nossa maior conquista, porque através dele já estamos procurando a reparação pelo labor no bem e pela reeducação dos costumes. Somente dessa forma somos capazes de vencer um dia após o outro, sem desanimarmos da oportuna semeadura de amor que começamos a plantar, independente das tormentas interiores provocadas pelo bisturi das "dores emocionais" que venhamos a experimentar.


Só o bem repara o mal. Só o bem nos dará energias essenciais para continuar.


Concluímos, portanto, que lutar e tentar, errar e recomeçar fazem parte da longa caminhada regenerativa, e somente uma atitude pode fazer com que o arrependimento transforme-se em loucura ou perturbação, fracasso ou queda: a desistência de tentar, pois assim transformaremos o arrependimento impulsionador em remorso estagnante e tortura mental a caminho do desajuste ...


Trabalhemos incessantemente pelo bem.


E se algum de nós ainda nutre dúvida sobre o que seja o bem, guardemos a eloquente e universal fala do Espírito Verdade:


"Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis. (O Livro dos Espíritos, q. 632)


Espírito Ermance Dufaux

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