Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 5 de julho de 2011

PRINCÍPIO INTELIGENTE – COMPILAÇÃO



01- A reencarnação na Bíblia - Herminio C. Miranda - pág. 79
O PROBLEMA DA PREEXISTÊNCIA
Creio oportuno tratar aqui esta questão pela sua íntima conexão com a da reencarnação.
De fato, admitida a existência do espírito como princípio inteligente do universo, conceito que é da essência mesma de todos os sistemas espiritualistas de pensamento, três aspectos fundamentais presidem à movimentação do ser nos dois planos da vida: preexistência, reencarnação e sobrevivência à morte corporal.

Qualquer que seja a corrente religiosa a que esteja filiado, nenhum cristão convicto deixará de admitir dois deles: existência e sobrevivência. O próprio objeto da prática religiosa é cuidar da alma aqui na terra para que ela tenha um destino póstumo satisfatório. Não há o que discutir aqui. Já divergem um tanto entre si os cristãos tradicionais quanto a essa destinação mas não em substância, porque é praticamente unânime entre eles a aceitação do céu para premiar os bons e do inferno para punir os maus.
A partir deste ponto, as coisas se complicam porque são muitos os que caracterizam o céu como graça que Deus concede a quem entender e não como resultante de uma conquista por esforço pessoal na prática do bem. Contornaremos aqui esses aspectos que, embora importantes, nos levariam longe demais para o escopo deste trabalho.

Enquanto a sobrevivência do espírito é ponto pacífico e pressupõe logicamente sua existência, já a reencarnação parece assustar os novos doutores da lei, modernos Nicodemos, para os quais a pergunta de Jesus continua a ressoar através dos séculos: "És mestre e ignoras isso?".

Lamentavelmente, são esses "mestres" despreparados, dogmáticos e bloqueados no conceito de uma só vida que vêm dificultando às multidões a que pretendem ensinar a visão de uma realidade infinitamente mais inteligente e racional, expressa, aliás, com toda clareza nos textos que temos diante de nós, mas que tantos se recusam a ver. Como explicar essa obstinação em não querer ver?

Haverá, por certo, inúmeras razões de ordem pessoal, mas creio que não seria absurdo resumi-las todas numa só, ainda que revestida de mil disfarces: acomodação. Há em nós todos um receio atávico do desconhecido, o pânico ante o desmoronamento de certas estruturas interiores laboriosamente construídas no correr dos anos. Por um momento, parece que o solo vai faltar sob nossos pés.

"Meu Deus!" E se essa história de reencarnação for mesmo verdadeira ? Já imaginou que reviravolta na minha vida ?". Para esses não importa a verdade e sim o pequeno universo interior, que precisa continuar bem arrumadinho para não se ter necessidade de pensar.
Assim, esses quatro princípios se acham tão íntima e solidamente interligados que só mesmo um lamentável e teimoso erro de avaliação insiste em mantê-los separados; aceitando dois — existência e sobrevivência — e rejeitando dois — preexistência e reencarnação.

Vejamos o encadeamento da idéias: o espírito existe. Temos a palavra respeitável do Antigo Testamento e o testemunho inequívoco do Cristo de que ele se reencarna. Ora, se ele nasce de novo, de volta à carne, é porque aqui já esteve em outras oporturnidades, em outras existências. Logo, ele, não apenas sobrevive à morte do corpo como também preexiste à nova vida na carne. Seria um insulto à inteligência do leitor razoavelmente informado mostrar aqui que Antigo e Novo Testamentos ensinam a doutrina da sobrevivência. Teríamos que transcrever praticamente toda a Bíblia, de vez que essa é a temática básica de tudo quanto ali está, do Gênese ao Apocalipse.
O que, porém, nem todos observem é que, tanto quanto a doutrina das vidas sucessivas, a Bíblia ensina também — e não poderia deixar de fazê-lo sem tornar-se incoerente— a da preexistência do ser. Relacionemos alguns exemplos— Antes que eu te formasse no ventre, te conheci; e antes que saísses da madre, te santifiquei: um profeta para as nações te constituí (Jer. 1 :5).

Alguma dúvida? O Espírito é convocado para uma importante missão de profeta entre os homens e tudo é programado no mundo espiritual antes mesmo que o corpo físico que lhe seria destinado começasse a ser gerado no ventre daquela que seria sua mãe. Já nasceu, pois, "santificado", isto é, com as condições necessárias ao exercício de suas faculdades mediúnicas — também chamadas de profetismo — que, como sabemos, possuem um componente físico, ou seja, um apoio no organismo.

— Eu era um menino bom, dotado de uma boa alma; — escreve o autor de Sabedoria (8:19-20) — como era bom, vim para um corpo incontaminado. Sem muito comentário: foi destinado àquele bom espírito, um corpo sadio. — Pensas porventura que um homem já morto tornará a viver? —escreve Jó em 14:14 — Todos os dias em que agora combato, espero até que chegue a minha mudança.

Que outra coisa estaria ele esperando com aquela mudança senão a oportunidade de uma nova existência, ou seja, a mudança de personalidade dentro do contexto da mesma individualidade ?— Jeová chamou-me desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção do meu nome; fez minha boca como uma espada aguda, na sombra de sua mão me escondeu (Isaias 49:1-2).

Tanto quanto a Jeremias, também a Isaias é atribuída — antes de nascer — a tarefa da profecia, ou seja, da mediunidade. Seu nome foi escolhido, pois sabiam os poderes espirituais do destemor daquele Espírito, da coragem moral de que necessitaria para seus pronunciamentos e, por isso, investiam-no dos necessários poderes e davam-lhe a competente cobertura espiritual (a espada aguda na boca e a mão de Deus a protegê-lo).

— Tu, porém, irás em paz para teus pais — diz o Senhor a Abraão mergulhado em profundo sono, ou melhor, em transe —; serás sepultado numa boa velhice. Na quarta geração voltarão para cá, porque a medida da iniquidade dos Amoreus ainda não está cheia (Gen. 15:15-16). Os espíritos encarnados que ali estavam combatendo os amoreus voltariam em outra existência para continuar o combate, pois o adversário ainda não teria sido vencido. Isto, porém, somente ocorreria na quarta geração, a partir daquela, ou seja, os mesmos espíritos em outros corpos dentro de um século e pouco.

Quanto à Rebeca, diz Gênese 25:22-26: — Os filhos lutavam no ventre dela; e ela disse: Se e' assim, por que vivo eu ? E foi consultar Jeová. Respondeu-lhe Jeová: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço. Cumpridos que foram os dias para ela dar à luz, eis que gêmeos estavam no seu ventre.

Notável episódio esse. Rebeca, grávida, desespera-se ante a aflição que lhe causava a rivalidade que percebe entre os dois espíritos cujos corpos físicos estavam em gestação no seu ventre. Recorrendo ao Espírito que falava em nome de Jeová, qual a orientação que recebe ? Que os espíritos que ali estavam eram realmente rivais e que vinham para a carne destinados a fundar e liderar dois povos distintos. E que, ao contrário do que seria de esperar-se, segundo a melhor tradição judaica, o mais jovem teria a primazia sobre o mais velho.

Assim foi. Nasceram, viveram, realizaram as tarefas para as quais estavam destinados antes de se reencarnarem. A rivalidade foi real, mas um dia se reconciliaram como conta Gênese 33:3-4. Nos Salmos 139:15-16, escreve seu autor: — Não te era oculta a minha forma. Quando fui feito às ocultas e primorosamente tecido nas profundezas da terra, os teus olhos viram a minha substância, ainda informe, e no teu livro foram escritos os dias, todos os dias que foram ordenados, quando nenhum deles ainda existia.

Antes de vir para o mundo da forma, da matéria densa, a existência é planejada, segundo a tarefa espiritual que o ser tem a realizar aqui na terra entre os seres humanos. No Capítulo 37 de sua portentosa obra, Ezequiel descreve uma visão dramática. Foi levado em transe para um local onde contemplava um campo coberto de ossos humanos ressequidos. O Espírito lhe pergunta: "Você acha que esses ossos possam reviver?"

— Eu, pois, profetizei como o Senhor me tinha mandado e, enquanto eu profetizava, ouviu-se um ruído, depois fez-se um rebuliço: os ossos aproximavam-se uns dos outros, pondo-se cada um na sua juntura. Olhei e eis que se formaram sobre eles nervos e carnes para os revestir e a pele se estendeu por cima, mas eles não tinham espírito. Então, disse-me o Senhor: Profetiza ao espírito, profetiza, filho do homem e dize ao espírito: Isto o Senhor Deus diz: Espírito, vem dos quatro ventos, sopra sobre estes mortos e revivam. Profetizei, pois, como o Senhor me tinha ordenado; o espírito entrou neles e viveram; levantaram sobre seus pés; era um exército numeroso ao extremo.

Dificilmente o texto poderia ser mais claro e objetivo no contexto da antiqufssima linguagem, de origem nitidamente mediúnica. O médium em transe tem a visão antecipada do preparo de grande número de seres que retornam à carne para prosseguir a luta em favor do povo de Israel. Mais uma vez observamos que os espíritos reencarnantes não são criados especificamente para aqueles corpos físicos; são, ao contrário, convocados de toda a parte (dos quatro ventos) espíritos já existentes e se ligam aos corpos que o profeta viu em formação diante de seus olhos.
Lembramos novamente que as palavras espírito, sopro, alento, vento traduzem todas o termo grego pneuma. O texto utilizado nesta citação é o da tradução do Padre Mattos Soares (Edições Paulinas). Já na versão dos beneditinos belgas (Edição Ave Maria), em lugar de "o espírito entrou neles e viveram", está escrito: "e daí a pouco o espírito penetrava neles. Retornando à vida, eles se levantaram" etc . . .

Assim é. Nenhum espírito foi criado para o corpo de João Batista — reencarnou-se ali o espírito preexistente de Elias. Nenhum espírito novo foi criado para os corpos em gestação de Jeremias ou Isaías — entidades de elevada condição chamaram seus espíritos, atribuíram-lhes missão específica no mundo e os enviaram a nascer em corpos o que estavam em formação ou prestes a iniciarem o processo de gestação. Nenhum espírito foi criado no ato, para animar os corpos de Esaú e Jacó — seus espíritos foram convocados, a despeito de uma óbvia rivalidade, também preexistente, e incumbidos da árdua tarefa de darem início a duas novas nações ou povos e, eventualmente, se reconciliarem, como o fizeram.

Não pretendemos aqui esgotar o assunto nem recolher todas as citações possíveis, pois há inúmeras outras, como mais esta, por exemplo, em Isaías 48:8:— ... porque eu sabia que procedeste mui perfidamente, e foste chamado transgressor desde o ventre. Como poderia um ser humano arcar com a acusação e ser considerado transgressor antes de nascer? Não há saída possível senão a de que ele vivera antes outras existências e nelas cometera erros e crimes. Já vinha para vida na carne com culpas a resgatar, como todos nós.
04 - O Livro dos Espíritos - Allan Kardec - questões: 23, 79, 605, 728
Perg. 23 - Que é espírito?
- O princípio inteligente do Universo.
Perg. 79 - Uma vez que há dois elementos gerais do Universo: o inteligente e o material, podemos dizer que os Espíritos são formados do elemento inteligente como os corpos inertes são formados do material?
-É evidente. Os Espíritos são individualizações do princípio inteligente, como os corpos são individualizações do princípio material; a época e a maneira dessa formação é que desconhecemos.
Perg. 605 - Se considerarmos todos os pontos de contato existentes entre o homem e os animais, não poderíamos pensar que o homem possui duas almas: a alma animal e a alma espírita; e que, se ele não tivesse esta última, poderia viver, mas, como os animais? Dizendo de outra maneira: o animal é um ser semelhante ao homem, menos a alma espírita? Disso resultaria que os bons e os maus instintos do homem seriam o efeito da predominância de uma ou de outra dessas duas almas?
- Não, o homem não tem duas almas, mas o corpo tem os seus instintos, que resultam da sensação dos órgãos. Não há no homem senão uma dupla natureza: a natureza animal e a espiritual; pelo seu corpo, participa da natureza dos animais e dos seus instintos; pela sua alma, participa da natureza dos Espíritos.
Perg. 605a - Assim, além das suas próprias imperfeições, de que o Espírito deve despojar-se, deve ele lutar contra a influência da matéria?
- Sim, quanto mais inferior é ele, mais apertado são os laços entre o Espírito e a matéria. Não o vedes? Não, o homem não tem duas almas; a alma é sempre única, um ser único. A alma do animal e a do homem são distintas entre si, de tal maneira que a de um não pode animar o corpo criado para o outro. Mas se o homem não possui uma alma animal, que por suas paixões o coloque no nível dos animais, tem o seu corpo, que o rebaixa frequentemente a esse nível, porque o seu corpo é um ser dotado de vitalidade, que tem instintos, mas ininteligentes e limitados ao interesse de sua conservação.
Perg. 728 - A destruição é uma da Natureza?
- É necessário que tudo se destrua, para renascer e se regenerar; porque isso a que chamais de destruição não é mais que a transformação, cujo objetivo é a renovação e o melhoramento dos seres vivos.
Perg. 728a - O instinto de destruição teria sido dado aos seres vivos com fins providenciais?
- As criaturas de Deus são os instrumentos de que ele se serve para atingir os seus fins. Para se nutrirem, os seres vivos se destroem entre si, e isso com o duplo objetivo de manter o equilíbrio da reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e de utilizar os restos do invólucro exterior. Mas é apenas o invólucro que é destruído, e esse invólucro não é mais do que acessório, não a parte essencial do ser pensante, pois este é o princípio inteligente, indestrutível, que se elabora por meio das diferentes metamorfoses por que passa.

07 - Agonia das religiões - J. Herculano Pires - pág. 55
CAPÍTULO - VII DO PRINCÍPIO INTELIGENTE
Tratei até agora da relação direta do pensamento de Deus com a matéria. Essa relação é necessária, da mesma maneira que é necessária a relação direta do pintor com o quadro que ele executa, e portanto do trabalho que ele realiza no quadro, orientado pelo seu pensamento. Na verdade, o seu pensamento se projeta no quadro e ali se materializa, passa do plano do inteligível para o plano do sensível. Ao completar sua obra, cessa a relação direta ou ativa, mas permanece a relação passiva ou indireta. Assim, a relação direta caracteriza o ato de pintar, ou de criar.
Pode-se alegar a existência de intermediários: as mãos, a palheta e o pincel, a tinta. Mas convém lembrar que todos esses instrumentos fazem parte da obra em execução, sobre a qual o pensamento do pintor atua diretamente. Na ação de Deus sobre a matéria o processo é o mesmo. O pensamento divino aglutina a matéria, dando-lhe estrutura, através da qual temos a passagem do pensamento do plano do inteligível para o plano do sensível. Uso a divisão de Platão neste sentido: o inteligível é o intelecto divino e o sensível é o plano do sensório, das sensações humanas.
Dessa maneira, Deus materializa o seu pensamento para atingir a sensibilidade do campo material em que o homem vai ser criado. No fiat ou ato inicial da criação temos a ação direta e ativa do pensamento divino estruturando a matéria. Uma vez formada essa estrutura, surge um elemento novo que é designado pela expressão princípio inteligente. O pensamento divino ligado à matéria adquire autonomia, sem com isso desligar-se da fonte que o alimenta. Transforma-se na mônada, elemento básico e estrutural da matéria, de que são compostas as próprias partículas atômicas.
A palavra mônada procede de Pitágoras, foi empregada por Platão como idéia e desenvolvida modernamente por Leibniz e Renouvier como uma substância inteiramente simples (pura indivisível e refratária a qualquer influência exterior. A mônada é dotada de uma força interior que a transforma, de potencialidades que se desenvolvem continuamente e de capacidade de percepção e vontade. As mônadas são diferentes entre si no tocante a essas potências internas.

Estas correlações filosóficas são necessárias para entender-se o que é o princípio inteligente da concepção espírita. Trata-se, como se vê, do princípio básico de toda a realidade, responsável pela formação dos reinos da Natureza, pelo desenvolvimento da vida e de todas as faculdades vitais e anímicas dos seres. O admirável poder de intuição dos gregos captou não só a existência dos átomos, como também a das mônadas, que a Ciência atual já está conseguindo atingir nas profundezas da misteriosa estrutura da matéria, na pesquisa sobre as partículas atômicas.
A teoria espírita do princípio inteligente é explicada de maneira sintética no "O Livro dos Espíritos". No item 23 dessa obra lemos o seguinte: Que é o espírito? É o princípio inteligente do Universo. Seguem-se outras explicações nas quais a inteligência se define como um atributo essencial do espírito. Geralmente confundimos a substância (espírito) com a inteligência, que é seu atributo.

Colocado assim o problema, parece-me explicada a razão pela qual os Espíritos Superiores não esmiuçaram essa questão fundamental. Na própria tradição filosófica, desde bem antes da era cristã, já dispúnhamos dos elementos necessários de intuições capazes de nos fornecerem os dados para uma equação futura. Faltava-nos, porém, o desenvolvimento, que só mais tarde poderia ocorrer, das pesquisas científicas em profundidade.
Atualmente já podemos compreender com mais clareza a dinâmica do processo criador. A teoria filosófica da mônada, que antes poderia ser considerada como simples hipótese inverificável, adquire hoje a condição de uma teoria científica ao alcance da comprovação pela pesquisa. Teorias como a do físico inglês Dirac, por exemplo, segundo a qual o Universo está mergulhado num oceano de elétrons livres, ou a dos físicos soviéticos, de que esse oceano parece ser de uma luz violácea proveniente dos primórdios da criação, mostram-nos as possibilidades novas que as pesquisas espaciais estão abrindo nesse campo. O mesmo se pode dizer da teoria dos campos de força que preenchem todo o espaço sideral.

E evidente que, diante dessas novas posições conceptuais, toda a nossa cultura entra em crise, prenunciando o advento de um novo mundo. A inteligência humana se abre para dimensões mais amplas e profundas da realidade universal, exigindo a reformulação de conceitos e estruturas culturais envelhecidas. Não podemos mais pensar em Deus como uma figura humana, nem do ponto de vista formal, nem do substancial. Só podemos considerá-lo como o Ser Absoluto, como a Inteligência Suprema, mas assim mesmo sem lhe atribuir nenhuma das limitações humanas.
Os teólogos do Cristianismo Ateu, da Teologia Radical da Morte de Deus, sentem isso na própria pele, mas faltam-lhes os dados para uma equação mais positiva do problema. Divagam através de suposições ameaçadoras e caem irremediavelmente num torvelinho de contradições. Se tivessem a humildade de consultar a Filosofia Espírita, essa pedra rejeitada da parábola evangélica, encontrariam nela a pedra angular do novo edifício a construir.

O Espírito a que a Bíblia se refere em numerosos tópicos e que nos Evangelhos toma o nome de Espírito Santo é o Espírito de Deus em sua manifestação universal. A Criação tem dois aspectos, o material e o espiritual. O sopro de Deus é o espírito criado no fiat e o homem de barro, o Adão terreno, o ápice da criação nos mundos em desenvolvimento, como a Terra. O sopro de Deus nas ventas do homem de barro, para infundir-lhe o princípio da vida e da inteligência, é a ligação do espírito com a matéria na formação da mônada. No pensamento divino todo o quadro da criação estava presente desde o princípio. E tudo era perfeito.
A perfeição do ideal constituía o modelo da realidade (o mundo da rés, das coisas) que devia projetar-se no Infinito. Por isso, as mônadas diferenciadas, com características específicas, seriam semeadas no espaço para a germinação lenta, mas segura e contínua, dos conteúdos essenciais de cada uma delas. A mônada é a semente do ser, da criatura humana e divina que dela surgirá nas dimensões da temporalidade.

Não se pode conceber, em nossa relatividade humana, mais grandiosa e perfeita concepção do ato criador. Podemos perguntar porque Deus, que é o supremo poder, precisa do tempo para realizar essa obra gigantesca. Mas o Espiritismo ensina que a nossa relatividade decorre de necessidades nossas e não de Deus. O que para nós são séculos e milênios, para Deus pode ser apenas aquele instante que, para Kierkegaard, era o encontro do tempo com a eternidade. Um instante de profundidade e extensão imensas, que resume para o homem todas as suas existências nas duas dimensões do Universo que hoje nos são acessíveis: a espiritual e a material.

É, sem dúvida, espantoso pensar, como Gustave Geley, que tudo quanto consideramos inconsciente, desde o grão de areia aos mundos que giram em torno dos sóis, possui a potencialidade da consciência em desenvolvimento no seu interior. Mas quando compreendemos que a mônada, síntese de espírito e matéria, é uma unidade infinitesimal, sobre a qual se apoia toda a realidade — o que corresponde à concepção atômica da Ciência em nossos dias — nossa mente começa a abrir-se para um entendimento superior. Se o poder do átomo nos espanta, a potencialidade da mônada nos aturdiria.
E ambos esses poderes nada mais são do que fragmentos do poder de Deus. Quando pensamos nisso, a teoria do princípio inteligente começa a revelar-nos a grandeza da doutrina espírita. E no entanto os seus fundamentos estão nos princípios evangélicos, sobre os quais milhares de teólogos, filósofos, místicos e pregadores escreveram e falaram sem cessar, numa catadupa de páginas e palavrórios ao longo de dois mil anos! Essa opacidade da inteligência humana, esse embotamento da capacidade de compreensão poderia fazer-nos descrer das potencialidades do princípio inteligente se não soubéssemos que o instinto gregário do homem o leva a" imitação e à repetição dos papagaios.
Quando Kardec se atreveu, utilizando-se de todos os recursos de sensatez e equilíbrio, apoiando-se na cultura do Século XIX — para não provocar reações precipitadas que lhe prejudicariam a obra — a publicar "O Livro dos Espíritos", todos os anátemas da Religião, da Ciência e da Filosofia caíram sobre ele como as bombas norte-americanas sobre o Vietnã. Somente agora se abre uma perspectiva favorável, em todos aqueles campos reacionários, para uma possível compreensão do seu gigantesco trabalho de reposição das coisas em seus lugares. Mas então aparecem os que pretendem reformar, atualizar e tecnilizar as suas obras ao invés de estudá-las e aprofundar-lhes o sentido. Isso nos prova quanto necessitamos do tempo para que a mônada oculta se abra e se atualize em nós.

Todas as coisas têm sua origem no mundo das idéias, como Platão, levado pelas mãos de Sócrates, percebeu claramente. Nos planos superiores do Universo não se usa a linguagem articulada das hipóstases inferiores. Fala-se do pensamento, na linguagem telepática pura. Sócrates descobriu essa linguagem ao encontrar o conceito no fundo de cada palavra. Podemos assim conceber que a linguagem de Deus seja puramente mental. Na mente divina a idéia do Universo delineia-se perfeita, mas a projeção dessa idéia no plano inferior da matéria tem de vencer os obstáculos e as resistências da materialidade. Foi o que Hegel viu e descreveu com precisão em sua teoria estética, mostrando a luta do belo para se sobrepor, no tempo, às imperfeições materiais.

O mesmo se dá com o princípio inteligente, que, para vencer a opacidade da matéria, para inteligenciá-la, segundo Kardec, tem de lutar na temporalidade. Mas, podemos perguntar, porque Deus não fez em condições transparentes a matéria, ao invés de opaca? O Espiritismo explica que a matéria se torna transparente na proporção em que visualizamos os planos superiores, de tal maneira que a confundimos com o espírito. Isso nos mostra que a técnica dos contrastes desaparece naquilo que Buda chamou de Nirvana e que a nossa apoucada inteligência considerou como o Nada.
Kant teve razão ao localizar os limites da razão humana no momento em que cessam as contradições dialéticas. Mas nesse momento, nessa linha divisória entre o mundo real e o mundo ideal, começa a razão angélica. Os homens transformados em anjos — não com asas nem com estrelas na fronte — mas com a mente e o coração purificados, passam a ver e a compreender a realidade pela intuição direta e global. Nesse momento descobrem a perfeição do Universo, aquela perfeição que, desde o princípio, estava na concepção ideal de Deus, mas que nas hipóstases materiais tornava-se irreconhecível como a Vénus de Milo coberta de terra e lama quando a arrancaram do subsolo.

O próprio tempo desaparece nesse momento. Não há mais necessidade do véu de ísis da temporalidade para encobrir a verdade das coisas e dos seres. Mergulhamos no eterno, que não é estático e inerte como o supomos, mas tem a dinâmica e a lucidez de que o pensamento nos pode dar um vago exemplo. Kardec verificou, em suas pesquisas espíritas, que a esquematização do sensório humano, com a divisão das faculdades sensoriais em órgãos específicos e rigidamente localizados no corpo, não existe para os espíritos libertos das impressões materiais. Os espíritos percebem, vêem e sentem de maneira global, por todo o seu ser em sintonia com toda a realidade. As deslocalizações e transferências das sensações nas práticas hipnóticas comprovam, em nosso plano, a veracidade dessa descoberta efetuada nas suas pesquisas mediúnicas. Seu ensaio sobre a sensação nos espíritos, que se encontra no livro básico da doutrina, é uma peça de esclarecimento lúcido e didático desse problema.

As pesquisas atuais da Parapsicologia, que até agora só puderam refazer o caminho percorrido por Kardec, representam uma confirmação da validade das suas afirmações de mais de um século. Apesar disso, e no interesse inferior da defesa de posições sectárias, toda uma multidão de falsos cientistas se empenha na tarefa ingrata de desmentir o Espiritismo através de capciosos argumentos temperados na panela da mentira ou nos caldeirões da trapaça diabólica. Mas nada disso impedirá que a verdade triunfe, pois a verdade é, existe por si mesma e não pede licença a nenhum censor religioso ou ateu para se revelar como ela é, aos olhos de todos os que se fizerem dignos dela.
08 - A reencarnação - Gabriel Delanne - pág. 73
Passagem do princípio inteligente pela serie animal
Na multidão inumerável dos organismos inferiores, o princípio anímico só existe em estado impessoal difuso, porque o sistema nervoso não está ainda diferenciado; os seres são surdos, cegos, mudos: trata-se dos zoófitos; desde, porém, que ele faz sua aparição nos anelados, começam a especificar-se as propriedades comuns e vemos produzirem-se as distinções pela formação dos órgãos sensórios.

À medida que o sistema nervoso adquire mais importância, as manifestações instintivas, que se limitavam à procura da nutrição, variam e apresentam uma complexidade sempre crescente. Eis, segundo Leuret, como se faz a progressão:

1.° — Notam-se, nos animais que parecem estabelecer uma transição com a classe inferior, instintos exclusivamente limitados à busca da nutrição (anelídeos: sanguessugas).
2.° — Sensações mais extensas e mais numerosas, ardor extremo pela geração, voracidade, crueldade cega (crustáceos: lagostim).
3.° — Sensações mais extensas, construção de um domicílio, voracidade, astúcia, artimanha (aracnideos: aranha).
4.° — Enfim, sensações mais extensas, construção de um domicílio, vida de relação, sociabilidade (insetos: formigas, abelhas).

Nos vertebrados, se tomarmos sempre como base o desenvolvimento do sistema nervoso e mais particularmente do cérebro, como criterium da inteligência, veremos, segundo Leuret, que o encéfalo, tomado como unidade, está em relação ao peso do corpo:

1. Nos peixes como l está para ............. 5.668
2. Nos répteis como l está para ............. 1.321
3. Nos pássaros como l está para ............ 212
4. Nos mamíferos como l está para ........... 186

Há, pois, progressão contínua do encéfalo, quando passa de uma ramificação à que lhe é imediatamente superior, mas com a condição de que a pesada abrace cada grupo tomado em bloco e não tal ou qual espécie tomada separadamente. É fato hoje bem demonstrado que o progresso na série animal se realiza, não em linha reta e sobre uma só linha, mas em linhas desiguais e paralelas.

Diz-se que o cérebro humano é a tal ponto desenvolvido, que nenhum ser poderá ser comparado a nós, ainda que de longe, pelas dimensões e peso do encéfalo. É verdade, mas a diferença não é tal que baste para constituir um novo reino. O cérebro de um macaco, de um cão ou de um gato representa, em seu conjunto, quase a disposição geral do cérebro humano. A anatomia comparada demonstrou, perfeitamente, a analogia das diferentes partes. Sem entrar em pormenores, basta assinalar que o anatomista que bem estudou o cérebro de um macaco conhece de maneira passavelmente exata a anatomia do cérebro do homem.

As circunvoluções constituem no aparelho cerebral do ser humano — diz Richet — o elemento de maior importância; e é sobretudo pelas circunvoluções que o cérebro do homem difere do cérebro dos outros vertebrados. Entretanto, distingue-se no encéfalo do cão o plano primitivo e o esboço das complicadas e profundas circunvoluções do homem adulto. Passando do animal ao homem, o órgão se aperfeiçoa, aumenta, diferencia-se, mas conserva-se o mesmo órgão.

Não nos espantemos, pois, de descobrir nos vertebrados o esboço do que será mais tarde a alma humana. Não devemos esperar ver nos animais uma inteligência ou sentimentos comparáveis em intensidade ao que se observa no homem, mas o que neles devemos encontrar, se é verdadeira a evolução anímica, é o gérmen de todas essas faculdades. A experiência o confirma precisamente.

Os numerosos estudos consagrados às faculdades animais estabelecem que neles se nota, sob o ponto de vista intelectual: a atenção, o julgamento, a memória, a imaginação, a abstração, o raciocínio; uma linguagem de ação e uma linguagem de voz. Os sentimentos passionais se afirmam pelo amor conjugal, pelo amor materno, por vezes, pelo amor do próximo, a simpatia, o ódio, o desejo da vingança, a sensibilidade ao motejo. Os sentimentos morais, muito pouco desenvolvidos, podem ser observados nas manifestações do sentimento do justo e do Injusto, e pelo remorso.

Enfim, os sentimentos sociais se verificam entre os que Vivem em tropa, por efeito de serviços mútuos, de solidariedade mesmo de verdadeira fraternidade. "Quando os animais se batem — diz o religioso Agassiz —, quando se associam para um fim comum; quando se advertem do perigo; quando vêm em socorro um do outro; quando mostram tristeza e alegria, manifestam movimentos da mesma natureza daqueles que se inscrevem entre os atributos morais do homem.
A graduação das faculdades morais nos animais superiores e no homem é de tal forma imperceptível que, para negar aos animais certo senso de responsabilidade e de consciência, é preciso exagerar desmesuradamente a diferença que há entre o homem e eles." (..)
09 - A evolução do princípio inteligente - Durval Ciamponi - obra toda
1- INTRODUÇÃO
Há muito tempo alguns hebreus passaram a acreditar na existência de um só Deus no meio de uma humanidade praticamente politeísta. Hoje, quatro mil anos depois, noventa por cento dos homens estão convencidos de que o monoteísmo é uma verdade absoluta.

Há muito tempo também, entre os descendentes dos hebreus, um homem, Jesus, disse que não poderia ver o reino de Deus senão aquele que nascesse de novo, revelando no Ocidente o que outros já admitiam no Oriente. Hoje, dois mil anos depois, sessenta por cento da população humana, ou mais, aceitam a reencarnação e a realidade espiritual interferindo na vida humana, como uma lei natural. Esse convencimento dos homens deve-se cada vez mais à sua tomada de consciência do Mundo dos Espíritos e de suas revelações progressivas aos encarnados.

A estas duas coordenadas associa-se uma terceira que revela a evolução da alma humana pelos reinos inferiores da criação. Não faz muito tempo que isto aconteceu. Embora já se tenham passado 142 anos do início do Espiritismo, poucos homens compreendem como isto é possível.

A aquisição do conhecimento da verdade por toda a humanidade processa-se morosamente — é insensível mas incessante —, principalmente porque há oposição firmada em preconceitos tidos como verdades e artigos de fé, superstições e misticismos nascidos da ignorância. Os ensinamentos dos Espíritos sempre foram decisivos para que o homem compreendesse a realidade da vida depois da morte. Suas revelações foram colocadas progressivamente e na medida em que o homem pudesse compreendê-las.

Jesus, por exemplo, sabia que a pluralidade das existências era uma lei natural, mas não a impôs ao homem. Poderia ter falado mais claramente, repetitivamente, mas não o fez. Qual seria a razão? O homem não pode ser violentado em suas convicções, obrigado a crer no mundo espiritual, mas descobri-lo por sua própria razão. A revelação, por isso, é apenas um sinal, um indicativo, um farol que o ajudará a pensar, até que, por si, descubra toda a verdade. Foi assim na primeira, com o monoteísmo, está sendo assim na segunda, com a reencarnação, e começa ser assim na terceira, com a evolução do princípio inteligente através dos reinos da natureza.

Dizem os Espíritos que eles foram criados simples e ignorantes por Deus, isto é, sem conhecimento. Através das encarnações são submetidos a provas e missões; passam pelas expiações para serem esclarecidos e progressivamente aproximar em-se da perfeição, pelo conhecimento da verdade. Uns aceitam essas provas com submissão e chegam mais prontamente ao seu destino; outros não conseguem sofrê-las sem lamentação, e assim permanecem, por sua culpa, distanciados da perfeição e da felicidade prometida (LÊ, 115).

Esta progressão dos Espíritos certamente não se faz numa única existência nem também somente no reino hominal, porquanto ensinam os Espíritos que a alma humana antes de despontar para a vida, como homem, viveu uma série de existências num período anterior à Humanidade (LÊ, 606 e 607).

Este progresso da alma é a terceira grande coordenada revelada aos homens, ainda antes de compreenderem bem a segunda, pois desta é consequência. Pesquisando, todavia, nossa origem perguntamos: De onde viemos? Por quais caminhos passamos? Onde está o início da história de uma alma?

Os Espíritos, na Codificação, revelaram esta verdade, mas, qual Jesus, não foram incisivos nesta grande coordenada da evolucão do princípio espiritual desde sua criação. Kardec, tampouco, seja por sugestão dos Espíritos ou por seu próprio livre-arbítrio, preferiu manter-se à distância desta análise ou, como disse Herculano Pires: "Kardec se esquivou a esse problema, embora os Espíritos o tenham colocado em algumas passagens". Também aqui a revelação não é para ser acreditada, mas para ser analisada, pesquisada e compreendida pelos homens, para que possam descobrir entre os meandros de sua caminhada os elos de seu passado.

O espírito humano poderá um dia, daqui a centenas de milênios, aproximar-se da grandeza de Deus e assemelhar-se a Ele, depois de atingir e superar o reino angélico, porque esta é a sua destinação divina. Aqui nos lembramos de Nicolau, da cidade de Cusa, que dizia ser a sabedoria divina simbolizada por um círculo e o conhecimento relativo dos homens por polígonos inscritos neste mesmo círculo. O polígono poderá ter milhões de lados mas nunca chegará a igualar-se ao círculo, à verdade absoluta.

Esqueçamos, todavia, este futuro tão longínquo, e coloquemos os pés nos dias atuais. De onde viemos? As indicações dos Espíritos são de que permeamos os reinos inferiores da natureza. Os Espíritos têm uma visão panorâmica do mundo espiritual bem mais ampla que os homens. Sabem e têm plena consciência de que Deus é a inteligência suprema e a causa primária de todas as coisas; sabem e têm plena consciência de que a progressão das almas se faz dentro da pluralidade dos mundos habitados; sabem mas não têm plena consciência de onde vieram, porquanto até eles ainda investigam esta origem e nos aconselham a não nos perdermos nos seus labirintos, porquanto nossa inteligência ainda é limitada.

Não queremos nos perder mas nem por isso deixaremos de investigar. Um dia, o homem terá de saber sua origem, por conseguinte é preciso começar a analisar, ainda que para levantar problemas e não soluções. Os espíritas e os Espíritos investigam, mas as dúvidas persistem. Alguns dizem que a criação do homem se deu no reino hominal; outros, que sua origem está no reino animal; outros, no reino vegetal; outros, no protoplasma; outros, no reino mineral, e, por fim, outros, que a origem está em reinos ainda desconhecidos do homem.
Se juntarmos a estas, a idéia das igrejas dogmáticas, de que a criação da alma se dá na concepção, então teremos diferentes alternativas do homem em relação à sua origem, isto é, o momento de criação de sua alma. Quem estará certo no meio destas alternativas? A verdade é uma só, temos certeza disso, mas quem está com ela?

Estamos convencidos de que a ciência acadêmica dos homens se convencerá primeiro da segunda grande coordenada, depois de descobrir a existência dos Espíritos. Não aceitou a realidade espiritual com as práticas mediúnicas, seja de efeitos intelectuais ou de efeitos físicos; negou-se a compreendê-la e a aceitá-la com as experiências paranormais; nega o espírito nos estudos da vida depois da morte nas pesquisas médicas; não aceita os diferentes casos de reencarnações comprovados e nem tampouco confere autenticidade à regressão de memória que atinge vivências passadas.

Nos dias que correm, uma grande esperança parece estar ligada a transcomunicação instrumental (TCI), não pelas vias do vidicom ou spiricom, gravação de vozes, ligações telefônicas ou caminhos de aparentes efeitos físicos, mas através de uma central de captação, qual antena de televisão, captando as transmissões dos Espíritos aos homens. Este é o caminho que parece marcar o encontro entre a Ciência e o Espiritismo, entre os homens e os Espíritos. Depois disso, a ciência acadêmica provavelmente aceitará Deus; derrubará os dogmas e começará a investigar a gênese espiritual como já fez com a gênese orgânica.

As grandes coordenadas evolutivas foram dadas aos homens por meio de revelações divinas, mas o homem somente as compreendeu ou as compreenderá quando pensar e repensar a respeito delas, descobrir-lhes as relações de causas e efeitos, porque somente assim, ele, enquanto homem, se libertará da influência da matéria, de suas paixões e sensações inferiores, marchando com a Terra, na direção dos mundos Celestes ou Superiores.

2 - CONCEITUANDO PRINCÍPIO INTELIGENTE

Nossa intenção ao escrever alguns comentários a respeito da evolução anímica é trazer ao público algumas nuanças pouco conhecidas e, às vezes, mal interpretadas dos ensinamentos dos Espíritos. Traz-se à discussão alguns pormenores até agora pouco esclarecidos pelos amigos espirituais, numa tentativa de todos reunidos encontrarem o fio da meada deste novelo complexo que associa a genealogia da alma à gênese orgânica através dos reinos da natureza.

Antes de iniciar este estudo propriamente dito, analisaremos alguns conceitos não bem compreendidos entre os estudantes da Doutrina e algumas vezes mal empregados. São eles: Espírito, espírito, princípio espiritual, princípio inteligente e alma.
Que é alma?

A conceituação dada pelos Espíritos (Questão 134 de "O Livro dos Espíritos"), de que a alma é o Espírito encarnado, tem levado muitos estudiosos da Doutrina a uma interpretação restritiva do conceito alma, geralmente empregado por Kardec, na Codificação.

Kardec utilizou em sentido genérico, nos seus trabalhos, as palavras espírito, princípio espiritual, princípio inteligente e alma como sinônimos, isto é, o ser inteligente, e a palavra Espírito, para indicar o ser extracorpóreo da esfera espiritual, o que tem levado alguns a pequenas confusões doutrinárias.

Assim, em sentido amplo, alma é o ser pensante, o ser inteligente, e em sentido restrito é o Espírito encarnado. Na questão 23, os Espíritos respondem que o espírito (com letra minúscula) é o princípio inteligente do Universo. Há neste item a identificação conceitual do que é princípio material e princípio espiritual, distintos um do outro, e acima de ambos, Deus, o Criador de tudo o que existe.

Na questão 76 Kardec esclarece, em nota, que "a palavra Espírito (com letra maiúscula) é empregada para designar os seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente universal. Muitos estudantes da Doutrina não percebem esta diferença e empregam os termos inadequadamente, às vezes. A palavra Espírito deverá ser empregada para designação dos espíritos desencarnados, pois em tais condições são seres compostos de corpo espiritual mais o princípio inteligente, ou alma, ou princípio espiritual.

Estudiosos há que não distinguindo bem a diferença entre um conceito e outro escrevem ora tudo minúsculo ora tudo maiúsculo, deixando ao leitor descobrir se se fala da entidade extracorpórea ou do princípio espiritual em si. Estudiosos há que confundem princípio inteligente com inteligência. Esta é um atributo do espírito. A resultante de um processo de desenvolvimento progressivo do ser através dos milênios. Nestas condições é correto afirmar-se que o rato e o homem são princípios inteligentes, isto é, princípios espirituais em evolução, apenas em diferentes graus evolutivos, ou em diferentes níveis de inteligência, porquanto esta é um atributo daqueles.

No jornalismo costuma-se escrever, muitas vezes, para uniformidade de linguagem, a palavra Espírito com letra minúscula, confundindo o leitor, que deverá distinguir se se trata da entidade habitante do mundo espiritual ou não. No LÊ, 134 e 135, os Espíritos empregaram a palavra alma em seu sentido restrito, quando afirmam que a alma é "um Espírito encarnado" ou que "as almas não são mais do que os Espíritos", antes de se ligarem ao corpo físico.

A repetição destes conceitos de alma, nestas questões, leva muitos estudantes a raciocinarem tomando os significados ao pé-da-letra. Kardec bem chama a atenção no comentário da questão 139, onde deixa clara a utilização da palavra em, pelo menos, três significados distintos:

1.° — centelha anímica emanada do Grande Todo; princípio da vida ou princípio vital do qual cada ser absorve uma porção e que devolve ao todo após a morte; é a tese panteísta.

2.° — uma centelha divina, ou ser moral distinto da matéria que conserva sua individualidade após a morte:

3 ° — "É a este ser que se chama igualmente alma, e nesta acepção pode-se dizer que a alma é um Espírito encarnado."

Como se observa, Kardec conhecia bem a diferença entre os conceitos da palavra alma, empregados na Codificação, ora como Espírito encarnado, ora como princípio inteligente. Até à questão 76, Kardec sempre falou em espírito (letra minúscula) como sendo o princípio inteligente e a partir daí em Espírito, como o ser extracorpóreo, e alma como o Espírito encarnado. Foi uma opção didática utilizada pelos Espíritos para facilitar a compreensão humana habituada ao conceito dogmático e vigente.

O emprego de alma, como Espírito encarnado, portanto, está intimamente associado ao conceito comum empregado pelos homens, segundo o qual, somos formados de duas partes, corpo e alma, isto é, alma que tem origem ou vem do mundo espiritual, criada por Deus, e corpo físico formado pelos homens na concepção.

Outra razão fundamental para que os Espíritos empregassem em "O Livro dos Espíritos" o conceito de alma em sentido restrito, como o Espírito encarnado, foi para deixar claro que o ser espiritual que existe no homem preexiste ao momento da concepção, vive como homem e subsiste depois de sua morte, caracterizando a pluralidade das existências. Como consequência desse entendimento querem eles, os Espíritos, dizer que a alma do homem não foi criada no momento da concepção, mas já preexistia no mundo espiritual com o nome de Espírito. Nestas condições, a encarnação ou reencarnação torna-se uma lei natural para todas as almas, inclusive como foi para Jesus, e não mais um mistério sagrado, neste caso, como ensinam as Igrejas dogmáticas.

Se Jesus era antes de nascer e encarnou; todas as demais almas, também existindo antes, podem seguir a mesma lei natural. Assim emprega-se a palavra alma, como Espírito, para dizer que ela era o Espírito, antes de unir-se ao corpo (LÊ, 134b), ou como disse Kardec na Introdução ao LÊ, item VI: "A alma tinha a sua individualidade antes da encarnação e a conserva após a separação do corpo".

Os Espíritos, na questão 144, ainda advertem que "a palavra alma tem aplicação tão elástica que cada um a interpreta de acordo com as suas fantasias". Convém, pois, distinguir nitidamente quando se emprega a palavra alma, no sentido de Espírito encarnado ou no sentido de espírito, princípio inteligente.

É evidente que quando falamos que "a alma dos homens sofre pelas consequências de suas vidas anteriores", estamos a dizer que:
a) quem sofre é o ser pensante, o princípio espiritual ou inteligente existente no homem; e
b) os Espíritos encarnados reajustam-se em função de um passado delinquente.
Como consequência tem-se a palavra alma empregada nos dois sentidos.

Os escritores espíritas, pelo menos, deveriam empregar corretamente os termos Espírito, espírito ou alma em seus escritos tanto em jornais como em livros, para não levar confusão aos iniciantes estudiosos da Doutrina Espírita. Não é fácil aplicar corretamente o termo desejado, mas com cuidado acertaremos sempre. A palavra alma, por exemplo, é mais vezes empregada como ser moral ou princípio inteligente, distinto do perispírito, do que como Espírito (soma de ambos) encarnado.

Aqueles que estão presos ao conceito restrito de alma, como Espírito encarnado, sugerimos repensar, porquanto Kardec foi mais longe. Conseqüentemente, princípio espiritual, espírito, princípio inteligente, alma são empregados praticamente como sinônimos. Emmanuel, André Luiz e outros Espíritos escritores, por intermédio de Chico Xavier, empregam corretamente os termos em seus significados específicos, em sentido genérico, igualmente como Kardec. Exemplos:

I — KARDEC
a) Na Revista Espírita, março/1866, item IV, diz: "A natureza íntima da alma, isto é, do princípio inteligente, fonte do pensamento, escapa completamente às nossas investigações";
b) Em "O Que é o Espiritismo", cap. II, item 14: "A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem. A alma e o perispírito, separados do corpo, constituem o ser a que chamamos Espírito. Alma é assim um ser simples; o Espírito, um ser duplo, e o homem, um ser triplo. Seria, portanto, mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente, e a palavra Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico. Mas, como não se pode conceber o princípio inteligente sem ligação material, as palavras alma e Espírito são no uso comum indiferentemente empregadas uma pela outra".

H —EMMANUEL em:
a) Fonte Viva:
Lição 81: "Cada espírito provisoriamente encarnado, no círculo humano, goza de imensas prerrogativas, quanto à difusão do bem..."; ,
Lição 85: "Assim, também, na aquisição de vida eterna, é imprescindível que nos desfaçamos de indumentária asfixiante do espírito";
Lição 108: "Nossa alma, é sempre núcleo de influência para os demais."

b) Emmanuel:
Cap. XXVII: "Muitos espíritos, afeitos ao tradicionalismo intransigente e rotineiro, são incapazes de conceber a estrada ascensional do progresso..."
Cap. XXVIII: "Por todos os recantos da Terra, fazem-se ouvir, nos tempos que correm, as vozes dos Espíritos..."
Por princípio inteligente, alma, princípio espiritual, espírito, designamos o ser criado por Deus, simples e ignorante, para evoluir, cocriando eternamente pelo trabalho, pela pratica do amor e da sabedoria.

Em síntese, precisa o estudante, ao analisar um texto, procurar o verdadeiro significado da palavra empregada para não se confundir; cabe ao escritor utilizar o melhor termo possível para refletir sua idéia, pois do contrário, nem o escritor transmite seu pensamento nem o leitor o compreenderá. No final surgem os debates à busca de uma solução. Alguns, apegando-se ao "pé-da-letra", engrossam o grupo dos fundamentalistas; outros, apegando-se ao "espírito" da palavra, juntam-se aos liberais da interpretação. Foi por isso que os Espíritos disseram a Kardec (LE, 139), "Por que não tendes vós uma palavra para cada coisa". (...)
10 - CURSO DINÂMICO DE ESPIRITISMO - J. HERCULANO PIRES - PÁG. 16
III — AS LIGAÇÕES DO HOMEM COM A TERRA
A pesquisa antropológica e a psicológica confirmam a conhecida expressão de Camões nos Lusíadas: o homem, esse bicho da terra, tão pequeno. O mito de Adão e Eva peca pela distorção histórica, constatando que o homem já era uma realidade cultural no mundo. Adão e Eva nasceram tarde demais, forjados pela mitologia judaica retardatária e sociocêntrica. (Veja-se o livro Adão e Eva, nesta série). Mas a verdade é que o homem não surgiu na Terra como um ser decaído.
Pelo contrário, brotou das entranhas do planeta, num parto genésico, produto da elaboração das leis naturais. E isso em corpo e espírito, segundo a tese da evolução criadora de Bergson. Feito do limo da Terra, na expressão bíblica, a origem divina do homem não está no milagre fantástico do fiat mas na remota insuflação das mônadas no cosmo — embrionário e caótico. A teoria científica da evolução considera o homem como um todo evolutivo de natureza material, rejeitando a independência da sua essência espiritual.

Darwin afirma que o homem resulta simplesmente da evolução das espécies animais, é um animal que desenvolveu a razão. A posição espírita de Alfred Russell Wallace, colega de Darwin foi simplesmente rejeitada pela Ciência. Hoje o preconceito materialista foi superado no meio científico mais avançado, com os últimos avanços da Física Nuclear. A concepção espírita do homem volta a predominar e a Parapsicologia sustenta, através de suas pesquisas, que é um ser duplo, que possui um conteúdo extrafísico, segundo a cautelosa expressão de Rhine. A Ciência Espírita confirmou a sua validade científica e a eficácia dos seus métodos de pesquisa.

As ligações do homem com a terra são de ordem genésica e se desenvolveram numa sequência evolutiva complexa. O esquema dessa sequência esclarece a expressão de Léon Denis que já mencionamos:
a) reino mineral — a alma dorme na pedra o sono preparatório das suas vibrações atômicas ocultas;
b) reino vegetal — a alma sonha na germinação de um mundo mágico de fibras, folhas, flores e frutos, tentando livrar-se do chão e projetar-se às alturas. O vento movimenta suas folhas e ramos e as raízes penetram no solo atraídas pelos veios d'água subterrâneos, movimentadas pelo tropismo que também atrai folhas e ramos na direção da luz, nos primeiros ensaios da motilidade. O vegetal é doação, como observou Hegel, o momento em que as energias monádicas se abrem para a doação de si mesmas ao mundo, numa antecipação do altruísmo humano.

c) reino animal — a estrutura monádica, aberta no vegetal em doação de si mesma, retrai-se para centralizar no centro monádico (espécie de núcleo atômico) o controle geral de sua estrutura, desprendendo-se do chão e assumindo a responsabilidade instintiva da sua motilidade, da sua capacidade de movimentar-se sozinha. As formas da motilidade se multiplicam segundo as especificações do desenvolvimento das potencialidades da mônada:

— o rastejar, quase sempre acompanhado do escavar, na conservação dos automatismos de defesa e proteção adquiridas nas fases típicas da movimentação das raízes no subsolo;
— o andar, desenvolvimento da capacidade de equilíbrio sobre o solo, com apoio em garras, patas, movimentação muscular, prenunciando o aparecimento dos bípedes;
— o saltar, primeira tentativa de libertar-se da força da gravidade, prenunciando o vôo, com reminiscências inconscientes do equilíbrio das ramagens no alto, sopradas pelo vento;
— o nadar, forma de equilíbrio provinda das primeiras sensações aquáticas no fundo dos mares, lagos e rios, exigindo o domínio das correntes líquidas na flutuação, prenúncio do equilíbrio do vôo no ar;
— o voar, forma sintética de todas as modalidades de equilíbrio, em que todas as energias da motilidade entram em ação, libertando o ser nascente da necessidade de apoios ligados à superfície do Solo ou da água, levitações de um futuro distante em que ele terá de se projetar nas dimensões superiores do Cosmos e nas hipóstases dos mundos espirituais.

O nadar e o voar marcam o início e o fim das experiências da motilidade, segundo o esquema infinito de desenvolvimento das potencialidades da mônada, ou seja, do princípio inteligente que é a matéria prima do ser. O esboço esquemático que apresentamos é apenas um esboço geral, desprovido das minúcias que só uma investigação mais profunda poderia nos dar, para termos uma visão grandiosa do plano divino de elaboração ou formação do Ser, da síntese final do gigantesco processo ontogênico, apresentada na criatura humana superior. As implicações éticas desse processo, para uma consciência esclarecida e ponderada, são suficientes para classificar de boçais todas as teorias que pretendem estabelecer sistemas políticos e sociais que aviltam a dignidade humana em favor de interesses mesquinhos.

Por outro lado, essa visão espírita do processo genético reduz à condição de um fabulário ingênuo, típico das civilizações agrárias e pastoris, toda a mitologia bíblica, sobre a qual as Igrejas Cristãs fundaram as suas teologias. A Palavra de Deus nunca foi pronunciada em nenhuma língua humana, mas na linguagem monádica das leis irreversíveis que regem o Infinito, desde as constelações atômicas de um grão de areia até às galáxias superiores. Deus não fala em palavras, fala em mônadas. Suas frases não são escritas em nenhuma língua inexpressiva dos planos inferiores, e suas frases não estão sujeitas à exegese das mentes relativas. Cada palavra da linguagem divina é um ser e cada frase é um mundo, cada discurso uma constelação com milhões de anos-luz de extensão. Não obstante, nosso pensamento pode compreender essa linguagem divina, se tivermos essa virtude tão simples e tão difícil que se chama simplicidade e florece na humildade.

A Terra e o Homem formam uma unidade, pois as nossas ligações com o planeta foram estabelecidas na Gênese. Mas a Terra não é apenas o planeta material que nos suporta. Espinosa, cujas ligações com o Espiritismo são flagrantes na Ética, ensinou a existência da Natureza Naturata e da Natureza Naturans. Tudo o que temos no plano natural exterior são efeitos produzidos pelas causas profundas da Natureza invisível. As duas Naturezas, que Platão chamou de Sensível e Inteligível se interpenetram. Hoje a Ciência reconhece, embora ainda de maneira incipiente, que os mundos de matéria e antimatéria são interpenetrados.
Nessa interpenetração dinâmica o homem é um point d'optique, um ponto visual em que o Sistema do Mundo se reflete por inteiro. As duas Naturezas do Mundo se revelam no homem como alma e corpo. Nossa alma se liga à Alma da Terra (Natura Naturans) e nosso corpo se liga ao corpo da Terra (Natura Naturata). Por isso, ao morrer, nosso corpo retorna à terra de que nasceu e nosso espírito não voa para mundos distantes, mas permanece imantado ao domicílio terreno. Só quando o espírito atingiu e ultrapassou os limites da evolução terrena tem o direito de elevar-se aos mundos superiores. As condições desses mundos não são acessíveis aos espíritos que ainda se encontram imantados ao pó da Terra.

Além dos motivos genésicos da nossa imantação ao solo e à atmosfera terrena, às hipóteses ou esferas da erraticidade, temos ainda:
a) os compromissos e as dívidas que contraímos, em encarnações sucessivas, com pessoas e comunidades, e que só se apagam com os resgates e as reparações que teremos de enfrentar em novas reencarnações;
b) as afeições que nos prendem a criaturas que continuam em trânsito no planeta;
c) os trabalhos e deveres que geralmente protelamos em encarnações sucessivas e que aumentam na proporção do nosso desleixo, quando não os somamos a novas protelações;
d) as exigências da consciência no tocante a realizações mal acabadas ou negligenciadas por interesses imediatistas;
e) o menosprezo com que enfrentamos as exigências do nosso aprendizado no plano moral e cultural, deixando de adquirir os elementos indispensáveis à convivência com espíritos elevados.

Podemos examinar nós mesmos, no momento presente, as nossas condições no tocante a esses pontos, para daí concluir se estamos ou não em condições de pleitear — como no episódio evangélico dos Filhos de Zebedeu — um lugar além dos limites planetários. Mas se não tivermos a humildade necessária para esse balanço, é melhor nos abstermos de fazê-lo, para não alimentar com a nossa vaidade e o nosso orgulho os motivos de nossa imantação à Terra. Os espíritos errantes de que trata Kardec são precisamente os que ainda não conseguiram determinar a sua localização num plano superior. Esses espíritos permanecem errando entre o chão do planeta e as esferas espirituais da Terra.
Vão e voltam em sucessivas reencarnações, como os encarnados que erram pelos caminhos do mundo sem se fixarem em nenhum lugar. Plotino afirmava, no Neoplatonismo, que somos em geral almas viajoras, incapazes de permanecer no mundo espiritual. Sentimos a atração da matéria — esse visgo que prende o espírito, segundo Kardec — e nos precipitamos em novas encarnações no plano terreno. Por isso Jesus insistiu na necessidade do desapego em tudo o que fazemos. Nossa tendência a nos apegarmos afetivamente às coisas e aos seres retarda a nossa evolução e nos mantém na erraticidade, muitas vezes através de reencarnações que são cópias das anteriores. A repetição excessiva das mesmas condições gera os sofrimentos cada vez mais penosos, forçando-nos a avançar.

O Alto não deseja que nos tornemos anjos antes do tempo, mesmo porque isso é impossível. Nossa evolução é regida por leis inflexíveis. É inútil pretendermos avançar além das nossas forças. Mas é também inútil querermos continuar indefinidamente na Terra. Na fase atual de transição da vida planetária — que também evolui sem cessar — estamos todos acuados pelas forças da evolução e temos de atender às exigências da consciência e às instituições dos espíritos benevolentes, para não ficarmos sujeitos às migrações em mundos inferiores. Essas migrações são forçadas, mas não constituem castigo nem condenação.
São medidas administrativas, como as tomadas nas escolas em que haja reprovações em massa. Os espíritos que não progrediram não estão em condições de permanecer no planeta que evoluiu e são enviados a outros planetas de grau inferior, para refazerem o aprendizado, depois do que poderão voltar ao planeta de origem. Os mundos são solidários, ensina Kardec, pois neles evolui a Humanidade Cósmica.

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